São Jorge vinha na frente, montado em seu cavalo. A luz do sol refletia na sua viseira prateada e projetava no chão uma imagem imponente.
Ao seu lado, vinham Dom Sebastião, Zumbi dos Palmares e Antônio Conselheiro, ressuscitados, em estranhas carruagens de fogo.
Logo em seguida, vinha um exército de caboclos de lança, com suas roupas coloridas e chocalhos estridentes. E eram tantos que nem todos os mouros de Alcacer-Quibir dariam conta.
Findando o cortejo vinham os batuqueiros dos maracatus africanos, detinando os seus tambores.
E a nuvem de poeira que levantavam era tão imensa que poderia ser vista a quilômetros de distância.
E o som de trovão que emitiam era tão intenso que o céu se partia ao meio, no meio da tarde.
Por sobre o fabuloso exército, anjos vestidos de branco tocavam trombetas douradas, anunciando uma nova ordem.
O poderoso exército avançava e por onde passava era seguido por uma multidão de doentes e famintos. E todos se sentiam fortes e revigorados como se um milagre estivesse acontecendo. E sabiam que eram partes integrantes de uma grande e profunda mudança prestes a acontecer.
E a força da fé que animava a multidão era tão intensa que rios poluídos se transformavam em leitos de águas claras e cristalinas, repletas de peixes.
A aproximação da turba revolucionária fazia brotar espontaneamente dos campos a colheita semeada e tudo era irmamente dividido.
Clóvis Campêlo é fotógrafo e escritor filiado a UBE-PE.