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Discursos-->LIBERALISMO VERSUS CORPORATIVISMO ESTATAL - 1991 -- 13/10/2003 - 18:19 (Claudio Peçanha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não me considerem nenhum teórico do pensamento liberal, nem mesmo grande estudioso do assunto.Sequer me considerem grande entendedor do corporativismo estatal! Quero apenas contar alguns casos, algumas histórias que conheço, alguns temas para discutirmos.

Se conseguir motivá-los a pensar e discutir alguns argumentos básicos e práticos sobre as idéias liberais, creio que terei alcançado meus objetivos, mas o mérito terá sido fundamentalmente de vocês.

Já que estou ousando colocar estas questões de idéias liberais, quero ousar um pouco mais e desde já colocar minha convicção de que hoje em nosso Brasil precisamos efetivamente de práticas liberais, de posições claras do empresariado privado que decida abrir mão de potenciais privilégios com que o corporativismo estatal nos ilude, e partir para uma posição clara de aparente confronto, que significa alguns sacrificios de curto prazo, em prol de um ideal que estamos certos ser o melhor para o País e todos nós.

Precisamos nos livrar da acusação feita por Francisco Weffort de que "no Brasil, o Estado vem sendo apropriado por grupos oligárquicos, isto é, privados, que fazem, de modo permanente, o jogo da política invisível num dos sistemas de poder mais corruptos que se conhece".

Quero tentar mostrar que a corrupção que assola nosso sistema de poder é inerente ao processo autárquico, qual seja, consequência do próprio corporativismo estatal.

Espero que consiga reunir argumentos para demonstrar que só a filosofia liberal poderá desmantelar este corporativismo estatal, consequentemente nos habilitando a trilhar melhores condições de reduzir o processo inflacionário, aumentar nossa eficiência econômica, e reduzir a pobreza em nosso País.

Refiro-me a corporativismo estatal quando penso nos cerca de 700 mil funcionários do Governo Federal espalhados em 22 mil escritórios da administração direta federal, além dos 800 mil empregados nas empresas estatais e mais de 300 mil pessoas em nossas Forças Armadas.

A este exército de um milhão e oitocentos mil empregados ativos somam-se outros 350 mil, nas folhas de pagamento como inativos e pensionistas da administração direta, excluindo estatais e fôrças armadas.

Nossa federação, constituida de 5 mil entidades, 120 mil legisladores, 5 mil poderes executivos, 5 mil poderes legislativos e 27 poderes judiciários, decididamente não cabe dentro do nosso PIB, como disse recentemente o Dr. Ives Gandra da Silva Martins.

Chamo de corporativismo estatal os vinte e tantos ministérios que se criam e se fecham a cada Presidente ou Vice que assume, com mais de 70 Conselhos, Comissões, Grupos Executivos Especiais, Superintendências, além de mais de 500 empresas, autarquias e fundações.

Multiplique tudo isto por 2 ou 3, para incluirmos os órgãos estaduais e municipais, para termos uma primeria idéia do que significa a mentalidade estatal que impera no Brasil.

Eu estimo que temos mais de 6 milhões de pessoas trabalhando para o setor público no Brasil!

Se levarmos em conta a população economicamente ativa de 56 milhões de pessoas, sendo umas 20 milhões com carteira assinada, concluimos que quase 30% dos empregados regularizados no Brasil estão trabalhando para os Governos!

Isto quase que significa que o aparelho estatal está trabalhando para si mesmo! É como se gastássemos mais petróleo para produzir pouco petróleo, como se a Caixa Economica só atendesse seus próprios funcionários...

Acho que não estamos muito longe disso e a situação infelizmente tem piorado nos últimos anos: enquanto em 1984 os tres níveis de Governo (União, Estados e Municipios, sem contar empresas estatais) consumiam em salários e custeio 8% do PIB, em 1991 este percentual cresceu para o absurdo de 16%!

Toda esta massa de funcionários públicos veio representar em nosso País uma mentalidade estatizante, não necessáriamente como filosofia ou política econômica, mas principalmente fisiológica, classista, até mesmo beirando o exagero do racial: filhos de funcionários do Banco do Brasil só se casam com filhas de funcionários do Banco do Brasil para gerar descendentes que deverão prestar concurso para trabalhar no Banco do Brasil (ou talvez do Banco Central).

Quero caracterizar portanto tudo isto como corporativismo estatal e falar ao longo de minha palestra sobre como esta mentalidade prejudica nosso País.

Por outro lado, refiro-me a LIBERALISMO quando penso no "conjunto de princípios capazes de inspirar ações no sentido da mudança social, privilegiando o indivíduo e não o Estado, e defendendo a primazia da associação autônoma e voluntária dos cidadãos sobre as formas de organização impostas pelo Governo.

Os principios básicos do liberalismo economico podem assim ser entendidos:

*Mentalidade antipaternalista
*Valorização da autonomia e inicativa individuais; e
*Vigência das regras do jogo próprias de uma economia competitiva de mercado.

Como já afirmei, a mentalidade estatista é que vem dominando o Brasil e crescendo últimamente, ao invés dos princípios liberais que acabei de enunciar.

Por que?

Eduardo Gianetti da Fonseca que representa hoje no Brasil o maior economista estudioso da filosofia liberal colocou êste problema nos seguintes termos:

"A mentalidade nacional-estatista hoje predominante, e o capitalismo cartorial e corporativista que é a sua tradução na vida prática, são antigos no Brasil.
"Na verdade, confundem-se com a própria constituição de nossa identidade como Nação.
"A maior parte dos brasileiros ainda acredita (ou espera) que a solução de seus problemas economicos e sociais surgirá de um plano ou estratégia de ação ou fórmula mirabolante concebida por um novo Governo, ou em algum Gabinete iluminado situado na Esplanada dos Ministérios.
"Ao pensarmos na salvação, olhamos para o futuro, mas também para o alto: nossa disposição e hábito latentes, nos remetem quase que intuitivamente ao Poder Central e à execução de projetos grandiosos, mas nunca aos individuos em sua vida prática comum, suas atividades cotidianas de trabalho e o exercício anônimo mas responsável da cidadania".

Eu estive durante 40 meses vivendo intensamente um órgão estatal, como Diretor Executivo do Banco Nacional de Desenvolvimento Economico e Social - BNDES, vinculado à Secretaria de Planejamento da Presidencia da Republica.

Com toda minha vida profissional anterior e posterior ligada ao setor privado, acho que posso me considerar isento para comentar para vocês minha experiência naquela estatal que junto com a Petrobras, Cia Vale do Rio Doce e Banco do Brasil representa a nata do nosso corporativismo estatal.

No BNDES, eu fui Diretor Executivo da área operacional que administrava os recursos de financiamentos através de agentes financeiros, que são os Bancos de Investimentos privados e/ou estatais, para empresas pequenas e médias nacionais.

Em 1984, o primeiro ano de minha gestão no BNDES, repassamos recursos da ordem de 250 milhões de dolares para financiamentos de pequenas e médias empresas, que representaram apenas 2% do orçamento de investimentos do Banco naquele ano.

Em 1987, último ano de minha gestão, aprovei orçamento de aplicações da ordem de 1 bilhão de dolares, que representava 15% do orçamento total de aplicações de então.

Menciono estes dados para tentar colocar um primeiro ponto muito importante referente a REDISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS PUBLICOS!

O BNDES, em essência, é um Banco de fomento que arrecada recursos do público através de impostos diretos, ou contribuições parafiscais, e deve redistribui-los para o público através de critérios de planejamento economico que gerem adequada alocação de recursos, via seleção de projetos.

Evidentemente, o principio básico de um banco estatal de fomento não representa rigorosamente um principio liberal, uma vez que implica em planificação centralizada e além disso, administração de politica de subsidios de créditos.

Mas admitiríamos, talvez, num processo de industrialização de um país subdesenvolvido, um mecanismo concentrador de recursos fiscais e parafiscais, distribuidor de créditos a menores taxas que as do mercado, para empreendedores privados nacionais, incapazes de reunir capitais suficientes para os empreendimentos pioneiros.

A nosso favor para esta tese, teríamos a constatação que os países mais capitalistas aplicaram ou aplicam políticas de subsidios de crédito às chamadas indústrias nascentes.

Este ideal de um Banco de Desenvolvimento, entretanto, vem encontrar na ambiência do corporativismo estatal um efeito complicador bem mais distante dos principios liberais: é que os recursos em vez de serem aplicados nos projetos de empreendimentos privados, são concentrados em empresas estatais, que se multiplicaram consideravelmente, ocupando cada vez mais espaços que poderiam ser tranquilamente desempenhados pelo setor privado, desde que convenientemente financiado, como foram as estatais.

Assim, foi o BNDES um banco estatal para o financiamento de empresas estatais!

Até a década de 1980, mais de 50% dos recursos do BNDES eram aplicados no setor público!

Considerando que a inadimplência dos contratos do Banco ocorrem fundamentalmente no setor público, verifica-se que no conceito de saldo de aplicações, mais de 70% dos ativos do BNDES se encontravam em empresas ou entidades do setor público.

Eu ainda estava na Diretoria do BNDES quando em reunião do Conselho de Administração concluimos que o Banco quebraria literalmente se continuasse a operar com o setor público no ritmo e na forma como o vinha fazendo até 1987.

O que salvou o BNDES foi um Decreto Lei em fevereiro de 1988 que proibiu o setor público de aumentar o seu endividamento, impedindo praticamente o Banco de continuar emprestando para Estados e Municipios e centenas de empresas estatais.

Mas o maior estrago talvez não tenha sido exatamente este de inadimplência para com o sistema oficial de crédito.

Na minha opinião, o maior problema refere-se à rentabilidade dos projetos do setor público versus projetos privados: bilhões de dolares foram emprestados a CARAIBAS METAIS, COSINOR, COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL, USIMINAS, USIMEC, ESTADOS DA BAHIA, RIO DE JANEIRO, SÃO PAULO, enfim, todos!

Para serem verdadeiramente enterrados!!

Nada mais gera inflação do que recursos públicos enterrados em projetos inviáveis ou em projetos mal orçados!

Como esquecer a Rodovia TransAmazonica, a Ferrovia do Aço, a Perimetral Norte, as Usinas Atômicas Angra I, II, III ?

TransAmazonica : antes de terminar tinha mato crescendo no seu inicio. Ferrovia do Aço com túneis que foram começados sem projeto, e construidos por duas empreiteiras de forma que não se encontravam os dois tuneis. Engefer: subexistiu por mais dez anos após cessar o objetivo de sua criação.
Na CARAIBA METAIS, para o BNDES proceder à sua privatização, teve que fazer um "write-off" (nome bonito para enterrar dinheiro) de 1 bilhão de dólares!
Por que?
Porque ao se construir o projeto da metalurgica de cobre no interior da Bahia se gastou com adutora de água para abastecer o projeto e todas as cidades vizinhas, se construiu uma cidade para o excesso de empregados, tudo em nome do social, mas que nada teve de social, pois significou efetivamente desperdício!

Uma vez eu tentei somar com critério de avaliação economica adequado, ou seja, considerando valores presentes de recursos disperdiçados em projetos mal sucedidos do setor público, e realmente cheguei a numeros bastante significativos: somavam qualquer coisa como mais de 60% de nossa dívida externa, sem considerar as despesas correntes com pessoal contratado para administrar aqueles projetos inadequados.

A Ponte Rio Niterói acabou sendo construida por uma empresa estatal chamada ECEX, que perdurou por mais de dez anos após o término da construção da Ponte, contratando mais funcionários e realizando outras obras inúteis para o Estado, só porque a empresa de engenharia existia e precisava fazer alguma obra!

A ENGEFER foi criada para construir a Ferrovia do Aço, onde enterramos entre 1975 e 1978 cerca de 2,8 bilhões de dólares!

Felizmente conseguimos fechar a ENGEFER (sem construir a ferrovia, contudo), mas estancamos a sangria de despesas mensais bastante elevadas com engenheiros, economistas, calculistas, desenhistas, projetistas e secretárias (muitas secretárias!) que passaram anos competentemente trabalhando para NÃO produzir um projeto, gastando literalmente os recursos de NOSSOS impostos!

O corporativismo estatal, representado por excelentes profissionais de carreira de diversos orgãos públicos, defende tais projetos com análises econômicas muito bem elaboradas: eles fizeram teses de mestrado e doutorado no Brasil e no exterior à custa de recursos públicos e usando exemplos de projetos que passaram por estes órgãos e apresentaram talvez este único mérito acadêmico.

E isto vem representar sem dúvida um grande desperdício do capital humano, na minha opinião mais escasso que o próprio capital financeiro em nosso país!

As estatais oferecem uma possibilidade de formação acadêmica e profissional fantástica para o brasileiro inteligente.

Encontramos nos BNDES, PETROBRAS, VALE DO RIO DOCE, FINEP, BANCO DO BRASIL, ETC, engenheiros formados pelo ITA (ou pela Poli da USP, ou pela Engenharia de São Carlos) com cursos de mestrado e doutorado no exterior, trabalhando intensamente às vezes até dez horas por dia, preparando "papers" e projetos acadêmicos para justificar a Ferrovia Norte-Sul, para provar a "necessidade" de criação do Banco do Estado de Tocantins, para justificar a criação de um cartão de crédito estatal (o cartão-ouro do Banco do Brasil), bolando uma campanha institucional para a Caixa Economica Federal abrir mais agências na Avenida Paulista, respondendo as milhares de solicitações politicas de nossos parlamentares e outros funcionários de outras estatais...

"NOS QUARTÉIS LHES ENSINAM A VIVER SEM RAZÃO..."

Foi a estrofe polêmica da música do Geraldo Vandré que me vem a cabeça, quando penso como funcionários de estatais no Brasil são extremamente competentes para fazer o que NÃO deveria ser feito!

Nada pior do que fazer BEM o que não deveria ser feito de forma alguma!

"O QUE SEMPRE FEZ DO ESTADO UM VERDADEIRO INFERNO FORAM JUSTAMENTE AS TENTATIVAS DE TORNÁ-LO UM PARAISO"(Hayek em Caminhos da Servidão, citando Hoelderlin)

Quero agora passar a abordar a ingerência do Estado nos negócios privados no Brasil, onde acredito que sejamos mais controlados e regulamentados do que em qualquer outro país do mundo, até mesmo comparando com a antiga União Soviética.

Preocupo-me hoje em ser um administrador de regulamentos ditados pelo corporativismo estatal, muito mais do que dos negócios próprios da empresa e sindicato patronal que presido.

Se qualquer executivo de empresas privadas destacar o tempo que despende a cada dia resolvendo problemas gerados pelos controles governamentais excessivos, chegará à triste conclusão que é tão funcionário público como áqueles dos ministérios, das secretarias estaduais, das prefeituras.

Projetos internos de redução de custos, de aumento de produtividade, reorganização administrativa, são perturbados continuamente pelos pacotes econômicos constantes, alterações na política de câmbio, reduções de prazos de pagamento de impostos, sempre realizados à margem da lei, encetando processos judiciais que nos demandam reuniões, custos adicionais com advogados e muito aborrecimento!

Quando eu trabalhava na COPERSUCAR, em 1978, estava calculando os benefícios e custos de um programa de investimentos gigantesco para a criação de uma nova variedade de cana-de-açucar, melhor adaptada ao clima e solo brasileiros, que veio a se constituir nas chamadas SP (hoje por sinal cultivadas na totalidade dos canaviais do Estado de São Paulo).

Levamos mais de dez anos investindo em laboratórios, consultores internacionais, estações experimentais na Bahia e em São Paulo, dezenas de pesquisadores dedicados, dúvidas, reuniões, discussões, incompreensões do Instituto do Açúcar e do Álcool, Ministério da Agricultura...

Tudo para conseguirmos um acréscimo de produtividade da ordem de 5% pessimisticamente e 10% na melhor das hipóteses, após vários anos de implementação do programa!

O orçamento de investimentos era apertado, os empresários associados à Copersucar relutavam em realizar os investimentos dado o longo período de maturação; enfim, um projeto que exigiu na época extrema dedicação de todos os envolvidos.

Muito bem: o Governo naquela época decidiu segurar os preços do setor, defasando-os em dois ou tres meses de inflação em relação aos custos incorridos, e o setor sucro-alcooleiro absorveu um prejuízo superior à somatória, em valor presente, de todos os gastos com aquele projeto de dez anos de maturação!

Uma simples decisão de um burocrata governamental em Brasília significava para aquele setor específico o desestímulo total para investir em tecnologia diretamente com seus recursos!

"A MEDIDA QUE O GOVERNO SE EXPANDE, A DEMOCRACIA SE CONTRAI!"

De quem é essa frase? De algum anarquista? Revolucionário da antiga esquerda latino-americana?

Esta frase foi proferida por Ronald Reagan durante seu discurso de despedida da Presidência dos Estados Unidos, após oito anos de um Governo republicano extremamente benéfico ao mundo dos negócios norte-americanos, com menos inflação e menos desemprego.

"...HÁ UMA CRESCENTE COMPREENSÃO DE QUE A DEMOCRACIA É INCOMPATÍVEL COM A EXCESSIVA REGULAMENTAÇÃO BUROCRÁTICA DA VIDA SOCIAL".

Esta é uma frase de Mikhael Gorbachev em Perestroika.

Em todo mundo civilizado estas constatações de Reagan e Gorbachev tem sido praticadas por vários líderes mundiais, representando uma esperança para o avanço das idéias liberais.

Desde 1980 centenas de empresas estatais de todos os continentes foram vendidas total ou parcialmente a acionistas privados!

Nós aqui no Brasil ainda estamos muito tímidos com nossas privatizações: elas tem sido extremamente penosas e desagradávelmente burocratizadas, com dezenas de ações judiciais impedindo os leilões, discutindo as moedas, quase sempre representando o esfôrço enorme do corporativismo estatal manter o status-quo.

O Estado brasileiro ainda tem frota de navios, fábrica de computadores, siderúrgicas, postos de gasolina, agências de turismo, cartão de crédito, laboratório farmaceutico...

No sistema bancário, o Estado poderia perfeitamente privatizar ou simplesmente fechar dezenas de instituições, como as caixas economicas estaduais e os próprios bancos estaduais.

A própria Caixa Economica Federal não tem o menor sentido no sistema financeiro atual!

A rigor, considerando o controle total que o Governo exerce sobre as atividades bancárias, porque precisa ainda ser banqueiro comercial?

O Banco do Brasil se justificou no século passado no incipiente sistema bancário nacional que não conseguia cobrir com agências fisicamente o território nacional; mas hoje em dia, com o avanço das comunicações e informatização, o que justifica um banco estatal como o Banco do Brasil é a bancada de deputados seus funcionários ativos ou aposentados num lobby intenso na desefa da corporação.

Neste setor, entretanto, o Brasil tem caminhado no sentido inverso: o Banco do Brasil cresceu seu dominio das atividades financeiras significativamente nos últimos anos, passando a operar cadernetas de poupança, cartões de crédito, CDBs, etc, concorrendo direta e deslealmente com o setor privado.

Queremos então privatizar tudo, acabar com as empresas estatais?

A questão é puramente de eficiência econômica: toda vez que o exame crítico demonstrar ser vantajosa a transferência para o setor privado de empresas públicas devemos céleremente caminhar nesta direção.

Através da privatização, e sómente através dela, é que se pode esperar reduzir realmente as despesas públicas.

Por outro lado, o empresariado privado brasileiro precisa ousar mais na proposta efetiva de reduzir o poder do Estado sôbre as atividades economicas no Brasil.

Ao mesmo tempo que defendemos um vigoroso programa de privatização, precisamos nos livrar da pecha de aproveitadores do Estado para nossos negócios.

Como disse Hélio Armond: "...um fator que acarreta a descrença da sociedade em relação ao movimento liberal são as atitudes de uma parcela ponderável do empresariado: por um lado, ouvimos o discurso de alguns empresários que políticamente se dizem liberais, mas quando se trata de negociar algum tipo de reinvidicação dos trabalhadores de sua empresa, recorrem a polícia. Por outro lado, há empresários que fazem críticas à intervenção estatal e, à primeira dificuldade, procuram socorro no próprio Estado..."

Esta imagem de que somos contra o Estado, mas dele queremos nos aproveitar, precisa decididamente ser apagada através de um esfôrço consistente do empresariado privado e por todos que professam o liberalismo como princípio.

Por outro lado, o liberalismo precisa demonstrar que é capaz de superar os graves problemas sociais que o Brasil enfrenta, com mais eficácia que a ação direta do Governo.

Eu penso que esta ação depende muito de nós empresários privados, ao nível de cada uma de nossas empresas, ao nivel da comunidade na qual atuamos.

Creches para filhos de nossos funcionários certamente são melhor administradas e representam custos menores do que as mantidas pelo Estado.
Assistência médica integral para nossos funcionários em entidades de saude privadas provavelmente reduzirão as demandas médicas nos esquemas estatais ineficientes, corruptos e que só prejudicam a produtividade de nossos empregados.

Alimentação adequada para nossos empregados em primeiro lugar e para familiares de nossos funcionários em regiões realmente carentes em uma segunda etapa, pode melhor ser administrada por nós da iniciativa privada do que por qualquer INAN, COBAL, ou esquema de merenda escolar.

O sistema empresarial privado brasileiro já dispõe de condições de efetuar uma verdadeira revolução na solução dos problemas sociais, de baixo para cima!

Vamos demonstrar que melhor que recolher impostos, é aplicar direta e eficazmente na solução dos problemas sociais!

A idéia é começarmos a avançar nas atividades que os socialistas defendem como inerentes ao Estado, para mostrar à tecnocracia do corporativismo estatal que só a livre iniciativa pode, TAMBEM nestas atividades, solucionar eficazmente os problemas.

Só assim o liberalismo poderá vencer o corporativismo estatal e demonstrar ser o sistema efetivamente compatível com o maior grau de liberdade e espontaneidade humana!

Mas não podem os liberais, repito, ficar apenas na retórica, nas idéias, na filosofia de maior liberdade individual e espontaneidade, enquanto o Brasil padece, literalmente de fome!

(Uma pesquisa feita pelo BID em 1975 indicou que apenas 33% da população brasileira apresentava adequação calórica na dieta!)
Não adianta nos gabarmos de ser a oitava economia do mundo em termos industriais!
Na verdade, somos a 11a economia do mundo em termos de PIB global. E daí?
Em termos de PIB per capita, que é um indicador muito mais válido, somos apenas a quinquagésima economia do mundo!
Precisamos, decididamente, aumentar a eficiência de nossa economia!

Não é que o Estado brasileiro gaste pouco em programas sociais; na realidade, o Brasil é um dos países que mais investe em programas sociais em relação ao PIB!

Mas gasta mal, é ineficiente pela sua centralização autárquica e mentalidade estatal concentradora, que gera mais desperdícios que soluções.
Qual teria sido a alternativa LIBERAL para resolver esta questão da sêca do Nordeste?
Evidentemente não seria empresa privada, pois certamente na região, tendo em vista a própria situação climática, não se instalaram empresas privadas.
Em outros países, como Itália e Estados Unidos, procurou-se desenvolver áreas áridas exatamente com instalação de indústrias específicas que não necessáriamente precisam do precioso líquido.
Las Vegas foi instalada literalmente em pleno deserto no estado de Nevada e se constitui hoje numa próspera região, pois os rendimentos gerados pelo setor de serviços, grandes empreendimentos hoteleiros e casinos, foram reinvestidos em agricultura intensiva de capital, através de projetos de irrigação.
Las Vegas ou Atlantic City no Nordeste?
Não necessáriamente... Industrias de computadores, talvez...
Por que não? Por que só pensarmos em projetos de filantropia?
Creio que a maior parte das questões básicas da população --- educação, saúde, alimentação --- podem ser melhor resolvidas no âmbito do sistema empresarial privado, não como uma questão humanitária simplesmente, mas como parte do esfôrço de acumulação de capital, como investimento na capacidade produtiva da população, entendida como função de sua saúde e educação básica, bem como seu grau de competência profissional, empresarial, científica e tecnológica. (como coloca Eduardo Gianetti Fonseca).

Eu quero dar dois exemplos para esta argumentação:

O primeiro exemplo, sobre como as empresas japonesas atuam na educação de seus empregados e um segundo exemplo, como uma empresa sediada no Nordeste brasileiro atua na alimentação de seus empregados e familiares.
Vou começar pelo exemplo do Japão;
Estive lá em março de 1989 visitando várias fábricas, tentando perceber como aquela pequena ilha quase do tamanho de Cuba conseguiu ser hoje, praticamente, a maior economia do mundo.
Qual a mágica?
A mágica, os japoneses alardeam franca e abertamente, é EDUCAR E MOTIVAR SEUS EMPREGADOS!
Vocês certamente já ouviram falar da MITSUBISHI. Vocês conhecem os aparelhos de som e TV, mas a Mitsubishi é hoje um dos maiores conglomerados do mundo, fabricante de aço, automóveis, caminhões, navios e eletrodomésticos sofisticados.
Visitei uma das dezenas de fábricas da Mitsubishi no Japão: grande, sofisticada tecnológicamente, robotizada, mais de tres mil empregados naquela unidade.
Pois na palestra que nos foi dada, antes da visita própriamente dita, os gerentes japoneses colocaram que na verdade aquela era uma fábrica não com 3 mil funcionários, mas com cêrca de 300 grupos de 10 empregados, que se reuniam para discutir problemas, propor soluções, receber instruções, receber treinamento, e atualmente eles consideravam que mais de 70% das inovações tecnológicas, tanto de produtos como de processos produtivos eram efetivamente resultantes daqueles grupos!
Isto nós vimos não apenas na Mitsubishi, mas também na TOYOTA, na NISSAN, na MATSUSHITA, em práticamente todas as fábricas visitadas, a ênfase total na capacidade individual do operário, aflorada e exercitada através de reuniões em grupos pequenos, como muito mais importante que o poder centralizador, as normas catalogadas, os layouts fabris determinados de baixo para cima.
Para mim, os japoneses professam hoje os princípios liberais ao nível da empresa privada no limite da maximização da importância da individualidade, gerando eficiências produtivas sem comparação!

O segundo exemplo ocorreu com uma empresa chamada TECANOR, que é uma unidade fabril da HERING, localizada no Nordeste. A primeira unidade industrial construida no Nordeste era uma cópia idêntica da competente fabrica operando em Santa Catarina, com os mesmos modelos de gestão de chão de fábrica e de relacionamento com pessoal. Nos primeiros meses de funcionamento, constatou-se uma baixa produtividade relativamente a fábrica de Santa Catarina. Após a inauguração do restaurante para os operários, a produtividade aumentou. Passados mais dois meses, a produtividade baixou novamente. Verificou-se que no inicio do funcionamento do restaurante a melhor alimentação dos operários aumentava significativamente a sua produtividade. Passado o primeiro momento, os operários na verdade estavam guardando a comida, literalmente escondendo em seus bolsos alimentos para levar para casa e alimentar sua família. Quando a empresa descobriu esse comportamento começou a permitir que os funcionários levassem alimentos para casa e finalmente a produtividade da fábrica do Nordeste ficou até superior a da identica fabrica de Santa Catarina!

A tese básica que pretendo deixar é a de que as empresas privadas tem que ser a célula básica de desenvolvimento de uma sociedade.

Hoje, no Brasil, "o Estado é maior que a sociedade e a diferença entre o que a sociedade produz e repassa, no nível de tributos para o Estado, e o que o Estado gasta é a medida correta da inflação" (Ives Gandra Martins-OESP 9/11/92).
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