UMA CERTA MARIA ANTONIETA
Maria Antonieta tem os olhos negros e bem redondos. A pele, quase transparente, um tom claro meio esverdeado, como se fosse algum híbrido de animal e vegetal. Adotei-a faz algum tempo e até hoje ela cuida dos negócios insetívoros da casa. Às vezes me assusto com ela, pousada e quieta sobre a cúpula da torneira da cozinha. Imóvel, parece me olhar curiosa, mas não sei. Tem um biótipo lindo, num tamanho harmonioso para contrastar com os olhos de jabuticaba. Cuida da área da cozinha, mas, muito raramente, a encontro no terraço, assustando meus netos, embora não seja maltratada. Por que lhe dei esse nome? É que a achei tão nobre como a personagem da história. Os batráquios são diferentes da Maria Antonieta. Ela tem minha permissão para residir comigo, embora não mantenhamos nenhuma intimidade. Por isso, desde sempre cri que morar numa área de preservação ambiental, tem suas vantagens. Maria Antonieta, silenciosa, saltitante e bela em seu corpo luzidio, é a companheira que não planejei encontrar, que não agendei pelos serviços especializados da internet. Se fosse uma mulher, Maria Antonieta, como todo ser humano, iria me fazer cobranças e me pedir pra voltar mais cedo pra casa e parar de beber os dois uísques de cada sábado. Talvez eu te ame, minha querida.
WALTER DA SILVA
Camaragibe, 20 de maio de 2009.
|
