O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) quer militarizar atletas de ponta. Desde o início do ano, técnicos da entidade preparam um projeto para abrir as portas das Forças Armadas aos esportistas.
O trabalho é baseado nas experiências de algumas importantes potências olímpicas, como Rússia, China e França. Países que usam a carreira militar para dar estímulo aos seus melhores competidores.
Ielena Isinbaieva, detentora da melhor marca do mundo e campeã olímpica e mundial do salto com vara, faz parte do Exército da Rússia. Em agosto de 2005, a saltadora entrou na carreira militar como tenente das Forças Armadas e, em 2008, foi promovida a capitã.
Mesmo assim, continua representando a Rússia nas principais competições mundiais.
"Queremos garantir aos nossos atletas uma remuneração fixa, todos os benefícios que os militares têm, além de colocá-los para treinar em instalações com boa estrutura", disse o ex-judoca Sebastian Pereira, que é gerente de atendimento do COB nas confederações de judó, boxe e lutas associadas.
Ele é um dos principais articuladores da entidade esportiva nas Forças Armadas.
"Fora isso, eles vão ter a opção de ingressar em uma nova carreira após o final do seu ciclo esportivo", acrescentou Pereira, que foi atleta e soldado do Exército por oito anos.
Um projeto-piloto já foi criado pela Marinha. No mês passado, cem atletas se formaram em marinheiros no Rio, entre eles a judoca Ketleyn Quadros, bronze em Pequim-2008.
As inscrições haviam sido abertas para competidores de todas as modalidades.
A maioria das judocas da seleção feminina aderiu ao militarismo. O paulista Diogo Silva, do taekwondo, primeiro medalhista de ouro do Brasil no Pan-2007, também é marinheiro.
Eles fizeram um curso de três semanas no Rio, mas não terão que fazer plantões no quartel.
"A função deles é representar o Brasil em competições", afirmou o tenente Maturana.
"Eles não terão nenhum trabalho burocrático para fazer. Vão poder treinar sem problemas e serão convocados por um determinado período para treinar nas instalações da Marinha", completou ele, que integra a comissão técnica da seleção brasileira de judó e é um dos estrategistas do time.
O soldo de marinheiro é atualmente de R$ 1.056. Apesar de o salário não ser dos mais altos, a estabilidade da renda e os centros de treinamentos oferecidos pelos militares são os principais atrativos.
"Essa verba ajuda muito. Até a semana passada, eu tinha apenas o salário do meu clube. Além do mais, posso ter uma nova profissão no final da carreira", declarou Ketleyn Quadros -a judoca cursa a faculdade de educação física.
Apesar de já elogiar a iniciativa da Marinha, os dirigentes do COB querem ampliar o projeto. A intenção é que alguns atletas de alto nível entrem nas Forças Armadas como oficiais.
O modelo adotado pelo COB está sendo formatado pelo grupo de técnicos da entidade e deverá ser apresentado ao Ministério da Defesa até o fim do ano.