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cronicas-->Eu, como me vejo -- 22/03/2001 - 08:06 (MICS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Beijos vistos, mas não sentidos.

Costumo dizer que sou uma ET na vida pois é assim que me sinto.

Num mundo marcado pela semelhança, sempre me senti diferente.
Nunca usei roupas da moda, nunca pintei meus cabelos. Nunca ouvi as bandas da época, excetuando-se, claro, os Beatles. Mas essa eu ouço até hoje. Nunca tive medo de ser, pensar e agir diferentemente dos demais.

Quando me casei, levei comigo o que herdara da casa de meus avós e o que sobrara de um apartamento na Praia Grande - uma mesa com quatro banquinhos e um bujão de gás - além das minhas roupas, discos, livros e uns 40 vasos (desses últimos ainda tenho 4 ou 5 até hoje).
Meu enxoval consistia numa toalha de mesa de linho bordada a máquina e os cobertores que eu usava na casa de minha mãe.
Casei na igreja numa cerimónia que acabou de me afastar da religião pois o padre, indignado com o ruído (haviam uns 20 primos com idades variando de 1 a 14 anos), parou a cerimónia para pedir que os pais retirassem as crianças do recinto. O que ele não se deu conta é que a "criança" que mais perturbava era minha irmã mongolóide na sua cantilena interminável. Ah, lembrei! Hoje em dia é errado falar mongolóide. Hoje em dia os mongolóides tem síndrome de down. Juro que preferiria ser uma mongolóide (que tem traços de mongol) do que uma down.
Me enfureci e decidi que religião seria uma coisa pessoal e intransferível, incompartilhável dalí pra frente. Curiosamente hoje revejo essa posição devido as aulas de catecismo ministradas pela minha sogra aos meus filhos adolescentes que resolveram ser batizados recentemente.

Casei e me mudei pro Mato Grosso, ainda sem norte e sul e fui morar na casa que havia sido o escritório do meu marido nos últimos meses. Meu cunhado, penalizado acho, nos emprestou um colchão de palha. Isso mesmo: um colchão de palha no chão que além de tudo, por ser usado, tinha buracos acomodantes - depressões causadas pelo uso constante de uma mesma pessoa por muitos anos.

Aos poucos arrumei minha casa com estantes de tijolo, tábuas e guarda-roupas antigos de madeira de lei que não correm risco de serem comidos por cupim. Com o tempo e alguns presentes de casamento que foram enviados num caminhão da Bordon (era mais barato) consegui ter uma casa inteira. Inusitada, feiinha, mas completa. A televisão ganhei do meu marido ao extrair um dente do siso que se complicou e me deixou de cama por uma semana, quando já tinham se passado 18 meses desde o casamento. Ele acredita que aí começaram nossos desentendimentos.

Mudei - e digo mudei porque era eu mesma quem fazia as mudanças - 10 vezes nos primeiros 3 anos. Moramos um tempo num trailer estacionado num terreno onde eu criava galinhas e cultivava uma horta. Meu irmão foi me visitar numa época de muito pouca grana e ao me ver alí sem ter muito o que fazer, sem amigos e com dois cachorros foi procurar uma vaca "pra eu ter uma ocupação interessante, me divertir com o bezerrinho além de ter leite de graça todo dia". Saiu com meu Jeep 51 e voltou com 1 galo e cinco galinhas. Como não achou a vaca, comprou galinhas que "dava quase na mesma". No dia seguinte comprou mais 20 pintinhos da raça Rhodes e junto com meu marido fez uma mãe artificial pros bichinhos. Meu marido se animou e comprou mais 20 da raça Leghorn: - "A Leghorn é poedeira." Em alguns meses eu vendia diariamente uma dúzia de ovos aos vizinhos, assim como alface, couve, etc. E contava andaimes, centenas de andaímes. Não posso negar que me distraí bastante. Esse período valia um livreto de tantas passagens engraçadas.

Enfim resolvi ter um filho e por fim fui obrigada a me adaptar a uma vida mais normal. Mudamos para um apartamento vendemos as galinhas, o trailer, voltamos para São paulo e comecei o treinamento na minha melhor profissão: ser mãe de 3. Acho que consegui me graduar com louvor, mas sempre aparecem cursos de especialização... É um estudo que nunca acaba. Há que se atualizar constantemente e sem perder a ternura, jamais.

Atualmente tenho uma casa normal. Aos poucos esse lado mais formal, menos prático e mais custoso me atraiu. Tenho sofás, estantes e tudo mais que compõe uma casa normal. Eu porém continuo me sentindo a margem da vida no meu modo de sentir e de pensar. No agir até que consigo enganar bem.

Hoje, ouvindo Yes - Tales from the topographic oceans em MP3 baixado do napster e navegando pelos oceanos internáuticos, achei a página do Ziraldo e entendi que não sou mais ET porque ser ET está muito na moda e não sou dessas coisas.
Percebi agora que no fundo sou é FLICTS.

"Não tinha a força do Vermelho
não tinha a imensidão do Amarelo
nem a paz que tem o Azul
Era apenas o fragil e feio e aflito Flicts"

Mirinha
março, 2001
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