Era uma vez... Eu prometo.
"Como era o bicho mais parecido com o homem, o macaco foi eleito presidente da bicharada.
Ele convocou todos para uma reunião, sob uma árvore majestosa cheia de galhos estratégicos onde estavam empoleirados os membros de sua guarda macacal, naturalmente. Caso houvesse alguém descontente, eles estavam com grandes pedras nas mãos.
E começou a reunião assim: eu prometo ser bonzinho, não vou censurar nada, cada um pode usar sua linguagem própria. Assim, o leão ruge como leão, o sapo coacha como sapo, o boi muge como boi. Prometo que não vai faltar comida, nem remédios. Prometo não castigar qualquer bicho que queira falar comigo, estarei sempre pronto a atender os necessitados. Eu prometo.
A bicharada bateu os pés ou os cascos no chão. As aves bateram as asas, todas contentes. Saíram comentando a sorte de ter o macaco parecido com gente como presidente.
Uma galinha vinha toda feliz com sua ninhada. Passou perto do presidente, abaixou a crista. Os pintainhos, irreverentes como qualquer criança, pularam os pés peludos do presidente; um mais afoito pisou-lhe o pé, foi a conta. O presidente gritou: morte a esse estúpido irreverente, sabotador. Ele bicou meu pé, deve ser morto. E foi. A galinha chorosa correu e foi-se esconder bem longe com o resto da ninhada. Havia começado a governança do macaco, que prometia e não cumpria."
*("Era uma vez... Eu prometo", conto de Dirce de Araujo Carvalhaes, em "Dá-se uma avó". São Paulo, EDICON, 1985. Bibliomania, Amazon, Libros Latinos.)
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