Já leram a Carta Testamento do Getulio Vargas? Se não, deveriam ler. “Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo a caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”. Já observaram o tom lírico e comovente dessa carta? Tudo isso nos faz pensar no que sente um homem que deseja a morte. A morte é um desejo cruel. É um desejo que não se deseja. Mas ele a desejou. E seu desejo foi tanto que ele mesmo o realizou. Parece loucura, mas é muito mais do que isso, é o terrível gosto que alguns seres humanos possuem têm pelo fim.
Descobri recentemente, que mesmo não tendo esse desejo explícito, todas as pessoas o carregam. Se querem mais exemplos, leiam poesias de Augustos dos Anjos, um pré-modernista que resumia a vida sempre ao nada. Mas é isso que é a vida, uma serra que começa no nada e termina no nada.
Se quiserem descobrir o real valor do ser humano, comessem a pensar no desejo que todos tem de adquirirem conhecimento e fortuna, não pelo que representam a si mesmos, mas pelo que vale para as outras pessoas; pensem que somos frutos de um sistema que tende a desqualificação, pois é isso que é o sistema capitalista, temos que dar o melhor de nós (estudar eternamente, trabalhar muito) para garantir nossa exploração. Eu não quero essa exploração! Mas meus ancestrais já a quiseram e eu não posso mudar as regras.
Pensem nas pessoas a sua volta, o que elas realmente desejam da vida? Mas não somente pense, analise. Existem basicamente três tipos de pessoas: as inteligentes autocríticas, que sabem lidar com a situação livres de direções superiores, as alienadas, que não sabem lidar com a situação e vivem de desculpas e subordinações e o terceiro tipo, talvez o mais cruel deles, as alienadas autocríticas, que querem parecer inteligentes, mas não possuem gabarito, como dizia um amigo “não tem genética”. Esse ultimo tipo de pessoa é o pior de se conviver, a não ser que você também seja um alienado autocrítico; elas desgastam o seu tempo, querem fazer insinuações sem fundamentos e querem que seus pensamentos sejam os mais aceitos, julgam saberem de tudo, afirmar coisas sem terem certezas e querem sair do nada e chegarem à tudo. Eis os piores problemas, estão contra a lógica de desenvolvimento da humanidade, é o mais duro confronto do nada ao nada contra o nada ao tudo.
Recentemente recebi uma frase no meu e-mail que comprova ainda mais essa tese, “quando pensamos que sabemos todas as respostas, chega a vida e muda as perguntas”. O que se deve entender é que tudo está caminhando ao zero novamente e este momento atual é o topo daquela serra. Este é o momento de pararmos no topo e evitar a dolorosa decida. Não quero dizer parar de nos desenvolver para assegurar nossa exploração capitalista, mas devemos parar no melhor momento da vida, que é o topo da serra. Provérbios enxutos, afirmam que a vitória está na conquista e no sofrimento, não discordo, mas se podemos atingir a vitória sem sofrimento, porque não a fazer.
Sou um dos que pensam que já estamos no topo. Existiram pessoas como Vargas e Augusto dos Anjos que se deram o tudo de si para provar que chegaríamos a um momento onde não precisaria se dedicar ao nada para viver.Eu não mais me dedico ao nada. E esse momento é hoje, que paramos aqui, e aqui tenhamos a vida, os nossos filhos, os nossos amigos, o nosso paraíso.