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cronicas-->Os Fantasmas da Rádio Nacional -- 28/08/2009 - 10:26 (Eduardo MAMCASZ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

http://mamcasz.wordpress.com

Fantasmas são justamente aqueles "chiados" ou "chuviscos" (ler Evangelho 1) de certas lembranças que me atrevo a introduzir, a partir deste momento, mesmo que na quebrança do código de insegurança seguida por todos nós servidores desde o suicídio do Velho (ler Evangelho 2), que teve o Testamento ao Povo Brasileiro (ler Evangelho 3) censurado, na manhã de 24 de agosto de 1954, quando ganhou a versão datilografada para ser lida ao microfone da saudosa potência da Rádio Nacional do Rio, fato este que será devidamente comprovado durante as infindáveis conversas que transmitiremos, qual cardume de escribas, técnicos, artistas e produtores, todos mentes retidas exatamente por termos sido carcereiros e, ao mesmo tempo prisioneiros dos atos oficiais de todos os governos deste "País de Tolos" (ler Evangelho 4) , tenham sido eles militaristas, popularistas ou popularescos que se sucedem até os dias de amanhã, numa lastimosa e monocórdica troca de guarda palaciana e planaltina.

O palco do desenrolar deste relato de dramas constantes se situa num encontro de fantasmas da Família Nacional (ler Evangelho 5), de madrugada, no ainda hoje encardido e tombado calabouço onde funcionaram os primeiros cinema, rádio e televisão de Brasília (ler Evangelho 6), no começo da W-3 Sul, inaugurado às oito da noite do dia 4 de Junho de 1960, pelo presidente Bossa Nova, o JK, que desceu do novíssimo Simca-Chambord aos primeiros acordes do Hino da Pátria que nos pariu sob a batuta do maestro Radamés (ler Evangelho 7), seguido do show famoso Ermelindo (ler comentário 8), todos saídos direto da Praça Mauá, número sete, no Rio, via Avenida Brasil.
Mas falando neste Ermelindo, então artista principal da Rádio Nacional, com mais cartas de ouvintes do que votos para o presidente, acontece que, quatro anos depois, e seu fantasma está hoje aqui entre nós para confirmar, entregaria nas garras dos gorilas (ler Evangelho 9), os 61 profissionais da Rádio Nacional do então Rio por ele considerado subversivos, sem contar outro astro daquela mesma noite, o Dilermando (ler Evangelho 10), que encantara a todos com a versão candanga do Peixe-Vivo (ler Evangelho 11), o Mário, que depois foi salvo pela Dercy, o Dias, o Gracindo, o Walter, e até o Ovídio Chaves, que o Ibrahim Sued chamava de Carlos Machado (do teatro das mulatas de Revista) dos Pampas e que por causa deste filho da puta do César foi preso pelos milicos e sabe o que fizeram com ele, conta aqui pra gente:

- É o seguinte, gente. Eu era da Rádio Nacional. Fui então preso por crime de opinião e por isso torturado pra caralho, literalmente, taí o Fausto Wolf que não me deixa mentir, mesmo depois de morto. Daí, eles fizeram o seguinte comigo. Botaram meus colhões dentro de uma gaveta e fecharam assim de repente. Puta que pariu, nunca senti dor pior do que aquela. Mas agora confesso que fui salvo mesmo é por causa de outro milico, amigo do meu pai, o general Cordeiro de Farias. Porra, vamos mudar de assunto, cambada?

Foi memorial a festa de inauguração do agora local deste nosso encontro de mortos da vida fodida, neste pardieiro da Rádio Nacional que até auditório com Orquestra Sinfónica e tudo já teve na História, que agora acaba de ter a parte norte decepada pelo governo do Distrito Federal para dar lugar à segunda via de ligação entre o Parque da Cidade e o Setor Comercial Sul.
Aliás, foi justo nesta parte demolida, hoje asfalto, porque usurpada do público pela Rádio Nacional que, e me desculpe a produtora aqui se presente se matou , uma camarada e desacompanheira que levava, em vida, nome de flor (ler Evangelho 12) mas que, em verdade, era um espinho só , tanto que, suicida assumida, jura, ainda hoje, e vai repetir aqui para a gente, que muitas outras mortes irão acontecer neste mesmo local por onde o policial-repórter Mário (ler Evangelho 13) passou, final de programa radiofónico, no comando da madrugada, vindo doutro espaço, no ali setor de Rádio Sul, perto da meia-noite, pouco antes de ser assassinado, que relembre a tumultuada despedida o ainda produtor-técnico, o plantonista Chiquinho (ler Evangelho 14), ainda não presente aqui entre nós, que tal a gente fazer uma outra visita antes que ele saia para a pescaria no Bartolomeu chamado de santo.


Falando nisto, está aqui conosco para confirmar direitinho esta história o companheiro Jonas (ler Ofertório acima), que passou duma para outra num micro-ónibus naquele longo trajeto entre Belém do Pará e Brasília, depois do Forum Social Mundial, onde ouviu tanta baboseira e asneira antes de pegar estrada, e não avião, reservado aos colegas ditos de superior curso, e que antes de se enuviar também recebia nossas visitas naquele porão da Rádio Nacional que na origem serviu de frigorífico desmanchador de vacas mortas, embora tenha gente garantindo que, na verdade, foi mesmo o primeiro necrotério de Brasília.

Então façamos o seguinte, camaradas e companheiros aqui reunidos neste pós-vida em memória às centenas de grupos de trabalho, reuniões de equipe, etapas de avaliação e mesmo festinhas de aniversário recheadas de falsidades amplas e gerais, churrascos plantonizados e arrooubos natalinos, não é mesmo Marlene Emilinha?
Botemos para fora qualquer sentido de ordem que engulíamos mudos, no passado, para não perdermos a prorrogação de jornada que limitava a nossa vida mas, enfim, livremo-nos de vez daquela absurda auto-censura, do pecado da omissão coletiva, do mutismo puro e simples que, no pré-morte, éramos incapazes de mandar a pessoa responsável para a puta que a pariu mesmo que no mais leve pensamento calado.
Neste encontro de nós, todos teremos vez e voz, mesmo o Garcia (ler Evangelho 15), que foi calado pela heroína, apresentada pelo vagabundo Narciso (ler Evangelho 16), que cantou seresta aqui mesmo, nesta Rádio Nacional, primeiro para o presidente Bossa Nova e depois foi lamber bosta na estrebaria do João, o general-presidente, a quem nós, almas aqui penasdas, também servimos por igual, tal qual ao metalúrgico da Beth (ler Evangelho 17), que também nos encantou nos primeiros dias de sonhos de uma esperança perdida.
Mas acontece que tudo isto é nada, sabemos agora que estamos nesta lesma lerda de antes (ler Evangelho 18), tenhamos sido santos ou putas nacionais como a senhorita que, no andar aqui de cima, dava o rabo para o gerente e depois fodia a gente, lembram-se?

Vou mais à frente. Lembram-se daquele gerente de rádio que foi pego pelo contínuo dando o rabo, de lado, para o superintendente, ao som de "vem cá, meu dog? Falo (pensamento ralo, o que hei de fazer) mas disto garanto porque a mulher deste superintendente, tempos passados, nas ladeiras de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, me afiance, amigo Tim, numa bela madrugada, depois de fazermos uns "Do-des-ka-dens" nos trilhos surdos do bondinho, também a havia enrabado, veja você como é uns dias atrás do outro.

- Cala a boca desta levada, Juscelino (ler Evangelho 19), senão você também volta a levar porrada, mesmo que já tenha passado por este calabouço da Rádio Nacional, agora encardido, numa madrugada fria, travestido de popular, o mulato motorista no lado direito do banco do carro pedido emprestado, cagando de medo dos milicos descobrirem, pois haviam proibido o seu pisar qualquer outra vez em Brasília, e você saía escondido de seu sítio em Luziània, seu médio médico me contou, na Zona do Ponto Zero. Mas isto foi na sua vida passada, porque, agora, tanto faz, somos donos, outra vez, das famosas asas da liberdade e, por estarmos mortos, não precisamos nem mesmo de Panteão (ler Evangelho 20) e muito menos da morada provisória no Campo (cheio) de Esperança (ler Evangelho 21).

Aqui, neste encontro, que se confirme em ata, caro Juscelino, continuas herói da Rádio Nacional, até porque pediste ao Israel (ler Evangelho 22) que se fizesse de zonzo diante da primeira invasão de sem-teto acontecida em Brasília, a nova capital, cometida por um grupo de colegas nossos, aqui presentes sem mais necessidade de teto ou terra, num tempo em que ainda havia espaço para tanto, ao contrário do amigo Inácio , morto por doses maciças de cachaça que o levaram a subir de Editor-Chefe da Sucursal do Jornal do Brasil a Bêbado-Oficial do Repórter Nacional (ler Evangelho 23), com primazia para dormir na calçada aqui em frente, debaixo do pé de manga, junto à guarita de entrada. hoje modificada mas que levava o fictício nome de Luís Otávio, o Tenente (ler Evangelho 24) só porque tentou matar o então presidente Zé do Sarney ( ah... os fantasmas nunca morrem, ditava Bond, o James).

Antes de começarmos esta sessão propriamente dita, dispomos aqui de relatos de desconfortos observados por alguns sobrevivos, assim qualificados uma vez que já passaram da fase de sobreviventes mas ainda não fantasmas propriamente ditos e que, devido a essa condição, encontram-se mais suscetíveis a tremores causados por alguma alma penada entre nós postada que continua, por exemplo, a fazer mexidas sutis no script da Voz do Brasil, sutis agora porque no antanho desde os tempos da Agência Nacional, herança do Estado Novo, e depois na Dita Branda-Dura, continuando, na dita Nova República, enfim, o dito personagem editor era dos mais leais ao macado de plantão no galho seco, mesmo que colorido. Pois bem. Não é que esta alma penada porque da equipe ainda não desencarnou encontra-se, sacanamente, agora mexendo no script no que, em vida, nunca teve um pingo de coragem?

Tem outra ainda alma viva que sente a passada leve dos ombros arqueados de uma, dita por ela, assombração (ler Evangelho 25) que, no Radiojornalismo, transparece apenas ao ente que não era por ela querido, causando-lhe descrédito junto aos demais convivas dos escombros do que um dia foi uma redação de gente.
Vamos ainda discutir aqui a validade da maldição continuada em cima dos redatores em línguas estrangeiras que nunca mais conseguiram firmar a posição adquirida no século já passado. Outra alma já danada, simplesmente insiste em colocar, nos hiatos sonoros das gravações feitas por estagiárias esperançosas, imperceptíveis gafes que são exploradas pelas vetustas e mal-amadas editoras cheias de rugas e rusgas daninhas. Juro que tudo aqui descrito não passa simplesmente de verdade, tão somente, verdade.

Outro assunto importante a ser decidido nesta, esperamos, interminável sessão, diz respeito aos procedimentos vingatícios que tomaremos caso o frei Vanildo (ler Evangelho 26) não volte a ocupar o mesmo espaço deste agora encardido calabouço para oficiar as velhas missas ao vivo pelas ondas potentes, embora curtas, da Rádio Nacional da Amazónia, nos abrindo o espírito dos tradicionais horários matutinos de todos os domingos, prerrogativa católica conseguida durante o Estado Novo.

A Comissão dos Funcionários Informa:
Exigimos aumento do espaço destinado, durante a missa, ao momento da oração pelos defuntos, ou seja, nós mesmos constantes desta pós-ata, e também que o encontro seja alterado para ecumênico, com a participação de uma ou mais mãe-de-santo, de terreiro guarnecida, uma vez que estamos mais necessitados do etéreo do que a carne, que se revelou totalmente inconsistente diante dos vermes e, por isso, desnecessária e desmembrável do passado e do porvir.

Damos então início de fato a esta sessão, convocados que fomos por edital nacional , tanto que estamos aqui presentes, artistas cariocas - candangos - amazónicos (ler Evangelho 27), perseguidos na política e na prática, disponibilizados - dispensados - despedidos - sacaneados - condenados pela deficiência física , sinónimo de excesso de idade calculada através de metafísicos assassinatos impostos por chefetes prepostos, mesmo que passageiros.
Encontra-se aqui presente a proposta de atitutes a serem tomadas, a nível psíquico, contra a chefeta que determinava obrigatória reunião dos funcionários na residência dela, nas tardes de sábado (ler Evangelho 28), a mesma que quando ficou grávida todos desejamos a não-vinda a este mundo da filha da puta que, afinal, veio.
Ao lado dessa senhora também será objeto de nossa análise perfunctória a passada situação de muitos aqui presentes que de estressados passaram a depressivos e alguns se viram suicidas, em certos momentos, diante de certeiros abates cometidos no insistente cotidiano explorado numa lídima visão 360 graus (ler Evangelho 29).

Nós declaramos ( nós quem? ) aberta esta ASSEMBLÉIA GERAL DOS FANTASMAS DA RÁDIO NACIONAL, agora que é meia-noite de sexta-feira, um segundo a mais passa a zero hora do sábado de Hallelluya (ler Evangelho 30), porque seguidos foram todos os tràmites citados no edital de convocação e completada a chamada única com as presenças provindas de três elementos, quais sejam, o fogo do inferno, o ar do paraíso e a água morna do purgatório que, infelizmente, assim na vida como na morte, faz-se aqui presente em maior número, no velho círculo vicioso que se observava na terra.
Alertamos que não temos término previsto, mesmo porque nosso pós-vida de almas devedoras de penas só se extinguirá com a derrubada deste pardieiro da W3-Sul e com a implosão do mausoléu da Praça Mauá, onde perdemos nossos melhores anos de vida, mais a queima em praça pública das subchefias que trocaram a alma por um arremedo de calma, às nossas custas. Senhoras, estagiárias, sacanas e eternos aspones.


Em estando aberta esta sessão, sublimamos a palavra a uma alma condenada porque em vida, falso poder nas mãos - sabia eu que ela tinha acabado de levar mais uma das dezenas de porradas desferidas com gosto pelo marido jornalista, meu ex-amigo - certa feita, por conta da passageira função na Rádio Nacional, numa comoção histórica, olhou-me nos olhos e disse, sorridente : "Mamcasz, eu quero ver você sentir dor".
De fato, eu senti. Fui fundo. Quase morri. Impossível o ressuscitar depois de tentativas aos milhares, forçadas do fundo desta alma, porque o corpo foi queimado por opção, diferente do que aconteceu com o amigo Tim , com quem dividi temores e até mesmo os bondes de Santa Teresa e a quem ofereço todas estas e outras letras infindas.


Pois é.
Parodiando o nobre mulato gaúcho-mangueirense (Tim Lopes, ler Ofertório), informo estar dando linha à pipa para a extinta companheira, morta numa praia deserta em Santa Catarina, onde deixou com vida o ex-esposo, agora batendo em outras caras que nem as dela, nunca mais inteiras embora caras-metade, parecidas com dezenas de outras batalhadoras companheiras jornalistas que contrapartilhavam as surras a domicílio com os desmandos no trabalho ganho com o suor do rosto, tarefa que teria sido dado aos machos, no lançamento da praga divina aos descendentes de Adão, mas que elas acumulavam com o resultado da trepação inconcluída mas o suficiente para o fardo dos nove meses .
É este, portanto, o tom das almas penas femininas que passaram pela Rádio Nacional, desde os velhacos tempos do Herivelto colocando chifres na Dalva enquanto o Orlando caía de beiço nas seringas da heroína no mesmo banheiro de onde foram salvaguardadas, na fase final, algumas preciosas gravações saídas do mofo para entrar na histório da Rádio Nacional através do trabalho feito pela BBC em Londres.
Bom. Vamos à luta, então, seus fantasmas de merda, que vão e voltam, encarnam e desencarnam e nunca conseguem escapar, vivos ou mortos, desta praga viciosa chamada rádio.
Com isto, dou início á ata de fato da Assembléia Geral dos Fantasmas da Rádio Nacional. Avante porque esta fala não é rala e nem cala.

Para os itens citados em Evangelho, e para a sequência do relato de Os Fantasmas da Rádio Nacional, procure:

http://mamcasz.wordpress.com


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