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Cronicas-->AS MANHÃS INTERMITENTES -- 11/09/2009 - 08:44 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TODAS AS MANHÃS INTERMITENTES
para Cris Modesto


A madrugada se desprega de seu bojo. Primeiras luzes francas de tons ígneos alaranjados, tingem o céu sobre a mata verde. A passos largos tento avançar meu percurso matinal, enquanto me apercebo de teu rosto. Uma cara plácida, receptiva e demais sedutora. O tênis branco e cinza, uma bermuda clara como sói e um ligeiro blush valorizando a pele alva, macia e solene. Mas não surges sem prévio aviso. Algum tímido pássaro me avisara sobre. Não nos dizemos palavra sequer. Nos olhamos discretamente e, acertando o passo, te igualas comigo na caminhada rítmica e quase marcial. Exalas uma fragrància semelhante ao jasmim de minha pérgula, em frente à entrada principal de minha casa. Trata-se de uma espécie rara, se embrenhando no caramanchão que ousei construir em tua honra. És em princípio, uma flor-mulher, desabrochada ingente. À medida que nos apressamos nesse périplo, assisto ao silêncio de ambos a sorver os primeiros albores da manhã e seus aromas plurais. Na noite anterior ainda estavas lá, girando sobre o teto, qual lepdóptero-mulher. Enquanto lia um poema inglês, talvez Yeats, talvez Chaucer, ou quem sabe um texto traduzido por um poeta nacional. Teu cheiro de jasmim é suave demais para que me desse conta de tua presença. Eis porque não te pressenti quando acordei, uma vez que estavas tão presente. Quando surges em minhas noites, uma mulher de alabastro, um corpo construído de sinais, uma alma leve e imponderável. Sei que há um desejo encoberto, todavia consciente. Sóbrio, me entrego integralmente à grandeza de tua instància pessoal, cujo ictus me recuso a perceber iminente. E seguimos, durante os odores da manhã, caminhantes solitários e plenos de si, enquanto nambus e sabiás buscam o primeiro alimento, esperança diuturna.
Súbito, desapareces na próxima bruma. Permito-me que te vás, embora insatisfeito e perplexo. Em seguida, no final do meu percurso monótono e frustrante, avisto tua silhueta ao longe, entre timbiras e eucaliptos, mangueiras e chorões, intimidando a mata com tua presença de flor-mulher. Inútil alcançar-te sob a neblina densa, opaca. Esperançoso, asseguro-me de que essa intermitência seja tão breve quanto a fuga que empreendes entre dias e noites do meu fado.

WALTER DA SILVA
Camaragibe, 09.09.2009
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