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cronicas-->Calendário dos pequenos prazeres -- 20/09/2009 - 20:23 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Muitos filósofos e outros tantos psicanalistas defendem que o prazer ou a busca por ele define o homem desde o seu nascimento. Essa é uma ideia que até o mais destreinado pensador pode entender e aceitar. Tirante as patologias, e talvez mesmo em contextos patológicos capazes de inverter o valor das coisas, é fácil perceber que nós todos fugimos da dor com as mesmas força e vontade que buscamos o prazer. Os hedonistas e os freudianos mantêm raciocínios de base construídos sobre essa premissa, ainda que as teorias de uns e dos outros levem a lugares um tanto distintos. Mesmo sem a ajuda dos teóricos, é possível acreditar: somos seres que desejam o prazer.
O calendário, o qual considero a invenção mais sábia do homem, pode ser encarado de duas maneiras: como um inimigo que deve ser vencido ou como um condutor que convida a uma viagem cheia de mistérios e descobertas. Quem luta com o calendário marca o tempo pelas obrigações que precisa cumprir. Para esse guerreiro de uma guerra sem fim, os eventos relevantes são os que causam algum tipo de sofrimento: as obrigações do trabalho, a dor de cabeça causada pelos filhos, as dívidas que precisam ser pagas, o conserto do carro que não pode esperar. Já os que participam do convite feito pelo calendário para a jornada, destacam, em vermelho vivo, no calendário, os eventos prazerosos: a festa de logo mais, o programa favorito na TV, o quadro que começará a pintar, o fim de semana de descanso, o encontro com a pessoa que ama.
Não há diferenças físicas entre o calendário do mundo natural, pendurado na parede ou embutido no telefone celular, e o calendário mental que construímos em nossa mente. Entre eles, no entanto, há muitas diferenças de funcionamento provocadas exatamente pelas marcas a que damos relevo em cada uma das semanas que vivemos e que viveremos. Quando os relevos mostram sempre as obrigações, o calendário funciona como uma praga. Quando os relevos estão nos prazeres, o calendário funciona como uma benção.
É curioso conviver com uma pessoa que transformou seu calendário num marcador de momentos prazerosos. Apesar de ter, da mesma forma que os outros, que enfrentar as dificuldades típicas da vida humana, tais pessoas agem como se esses momentos mais pesados fossem um intervalo entre um pequeno prazer e outro. Como as marcas mais importantes de seu calendário são aquelas que satisfazem o desejo de prazer, há nesses seres sempre a perspectiva de que esse prazer chegará, o que serve de oxigênio extra. Alguns até conseguem contaminar a rotina com a aura dessa satisfação e viver sempre como se a mais banal das ações fosse agradável.
Se, no entanto, os prazeres destacados no calendário forem aqueles ditados pela sociedade moderna de consumo, então a estratégia começa a falhar, pois o que era felicidade acaba virando ansiedade e frustração. O prazer que vem da aquisição de bens ou de serviços, quando buscados apenas como resposta aos apelos comerciais da propaganda e da promoção, é vazio de legitimidade. Quem quer porque quer ou porque os outros dizem que deve querer acaba tenso, desapontado, compulsivo. É lá está o desprazer infiltrado no prazer.
Para que a estratégia do calendário do prazer dê certo, é preciso que ele seja um Calendário dos Pequenos Prazeres. Em vez de dar valor ao que o anúncio manda, algo que nem sabemos se precisamos ou desejamos de fato, basta começar a valorizar os prazeres menos opulentos e que quase sempre custam muito pouco. Ler um livro, andar de bicicleta, jogar bola com os amigos, bater papo com pessoas interessantes, mergulhar num rio, andar sem destino, pedalar sem compromisso, dormir até tarde ao lado de alguém especial, sentar ao pé de uma árvore, cantar no chuveiro. A lista não tem fim. Há um blog de um internauta português com mais itens para quem ainda tem dúvida sobre o que seria um pequeno prazer: http:// pequenosprazeresdavida.blogspot.com.
Tudo isso pode ser apenas uma maneira de enxergar a vida, um posicionamento mental, uma ilusão. De fato, mesmo valorizando a pulsão de vida, sabemos que a pulsão de morte nunca deixa de existir. Há quem diga que só existe morte e que a vida é um escape constante dela. Se assim é, não fará diferença viver com o foco no prazer ou no sofrimento. Não fazendo diferença, melhor que nosso calendário seja marchetado de coisas que nos acalentam e deliciam. Ilusão por ilusão, prefiro a ilusão boa. Quem gosta de sofrer é corintiano. Ops... eu sou corintiano e isso me dá o maior prazer! Ai, Fred! Ai, Shakespeare! Viva a simplicidade complexa do homem!
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