Assim que entrei na Terra dos Sonhos fui conduzido pela Sabedoria até um lugar mais elevado que os pés dos pensamentos de um homem podem pisar...
Então ela disse, com a graça que lhe é própria, que eu alteasse meu coração para aprender as três lições que a Vida reservava pra mim como missão... Apurei os ouvidos da minha alma, elevei meus olhos e esperei por um pouco, e senti como se os meus pés flutuassem...
Enquanto esperava sem nada ouvir, vi que voejava um pássaro perto de mim. Mas eu não queria desviar a minha atenção, esperando que a Sabedoria falasse o que tinha prometido me ensinar. Porém o pássaro continuava a circundar minha cabeça. Então, para que tivesse sossego, estendi a minha mão aberta e ele pousou nela. Contemplei-o e achei tão lindo como um filho da Sabedoria, e o quis para mim. Fechei a mão devagar, mas ele voou e ficou acima da minha cabeça. Abri a mão estendida, e ele pousou nela novamente. Fechei a mão com um pouco mais de rapidez, mas ele novamente escapou e ficou fora do meu alcance. Abri a mão e mais uma vez ele pousou... Fechei tão rapidamente quanto pude, mas ele pela terceira vez escapou... E nesse momento, ouvi o seu canto como se fosse a voz da Sabedoria dizendo:
“Não tente agarrar-me à força, e ficarei eternamente em tua mão”.
Depois me foi mostrado um homem jovem e com o semblante altivo que há em todos os reis que governam com sabedoria e graça. Ele tinha um cetro dourado na mão, e sem nada dizer o estendeu em minha direção. Abri a mão e ele o encostou nela. Quando tentei segurá-lo, ele o retirou com um gesto elegante, gracioso, rápido e preciso de quem sabe manejar muito bem um instrumento como um hábil manejador de espada. Mas novamente o estendeu, e eu também mais uma vez tentei agarrá-lo, e tudo se repetiu... E ainda uma terceira vez, antes que ele me dissesse:
“Calma! Não tente segurá-lo assim com ansiedade, e o terá para sempre”.
Então me foi mostrado um espelho, e me vi refletido nele. Via nesse reflexo todos os sentimentos que residem dentro de mim. Mas o que mais me chamou a atenção, talvez pelo movimento, é o sangue que era bombeado pelo coração e escorria pelas minhas veias... E apurando mais a minha atenção vi que não era bem sangue, mas letras. Apurei mais ainda a minha atenção, e vi que elas formavam palavras, as mais maravilhosas que eu jamais conhecera. Fiquei maravilhado e eufórico com o que podia ler, porque jamais ouvira falar coisas tão sábias. Então pensei comigo que eu poderia falar ou cantar as palavras que via, e seria tido com o homem mais sábio, e seria compreendido como quem tem consciência do que diz, e encantaria a todos com os encantos que permeiam as palavras que ecoam pelas almas dos anjos... Então abri a minha boca, mas nenhum som saiu dela... Notei que as palavras vinham até aos meus lábios, mas quando tentava falar não conseguia. E tentei uma terceira vez, e por três vezes não tive êxito.
Foi aí que prestei atenção em uma das minhas veias, e vi que mais uma vez que as palavras se organizavam e claramente pude ler:
“Guarde bem todas estas palavras no silêncio do coração da tua alma. Pois aquilo que está escondido nele será muito mais entendido que tudo que os teus lábios puderem pronunciar... A verdade está dentro, mas você só poderá ouvi-la enquanto calado. Fique assim por um tempo e veja a sabedoria que se esconde nas tuas entranhas. Porque um dia a tua boca se abrirá, e as palavras voarão os espaços e serão mostradas a todos os que tiverem fome e sede daquilo que é o alimento servido nos banquetes das alturas...”
Hoje, passado um tempo, meditei em tudo o que me foi mostrado... E mais uma vez entendi da Sabedoria que entremeia o que vi e ouvi...
E por três vezes abri a minha mão...
E uma vez calei a minha boca...
E outra vez ouvi...