Sei que parece um título fora de cogitação, mas foi um lampejo repentino que me sugeriu esse assunto. Ao apreciar uma foto, reconsiderei todo o meu conceito de beleza e amor.
Ela, a bela, emprestou seu lindo rosto para uma fotografia posicionando-se bem no centro de uma enorme orquídea de plástico. Fiquei boquiaberto com tamanho esplendor. Ela é linda, mesmo sem fazer pose ou qualquer outro gesto para chamar a atenção. Gosto dela como amiga e ela sabe disso.
Não me contive e peguei o álbum de suas mãos. Olhava, admirava, mas não tecia comentários com receio de estragar a amizade e a confiança que existe entre nós.
Numa das fotos ela estava de óculos escuros e na outra deixava à mostra seus lindos olhos azuis. Eles se destacavam tanto em seu rosto que fui obrigado a perguntar na primeira vez que a vi:
- São lentes de contato que dão brilho ao ambiente em que estamos?
Em certo retrato estava abraçada à sobrinha e na outra trocava beijocas com o namorado. Havia uma onde ela dava milho aos pombos e outra, bem interessante, um marreco vinha comer farelos de pão em sua macia mão. Num dia ensolarado estava na praia tomando banho de mar e já no outro quadro estava na mata em cima de um cavalo. Esse galopava com elegància e era muito seguro para não quebrar aquela boneca de porcelana.
Sempre que se olha uma quantidade enorme de imagens, pelo menos uma não nos agrada, e não vou fugir à regra: para mim, a única fora do contexto naquele álbum é aquela onde ela faz de conta que está beijando alguém, de olhos fechados, mas está estampado que não está sentindo prazer naquele ato.
Não me contive e voltei à primeira foto, perscrutando os detalhes. Eram folhas de orquídeas lilases e no centro seu rosto angelical. Era uma rosa, sem espinhos, que jamais machucará aquele que a amar de verdade.