Neste início de inverno
Lembrei-me de ti
De tuas coisas
Tuas manias
Teus espirros contínuos
Seguidos de um palavrão
Daqueles de arrepiar as orelhas pudicas
De tua barba
Sempre tão raspada
Da loção de flores
Do sorriso maroto
Dos cabelos revoltos
Dos resmungos
Das praguejos
De ti enfim
Sempre aflito
Na ânsia do porvir
Com medo do fracasso
Dos enganos
Do martírio da vida
Dos ventos tiranos
Que tudo devastam
E te foste
Assim
Como a andorinha
Sem um raio de sol
À espera do bando
Que não veio
Sozinho
Para sempre...
Pai...
Ausente no corpo
mas presente no amor que tão bem soubeste cultivar...