AMANTES
Como dois fugitivos buscamos as sombras da noite. Escondíamo-nos da hipocrisia, das pessoas que não sabem e não entendem do amor, porque nunca foram tocados por ele. Entre as árvores da praia, escondidos da luz plena da lua, beijamo-nos como se quisemos devorar um ao outro, fundindo-nos e permanecendo assim para sempre. Teu corpo irradiava energia e amor, nossas bocas trocavam o mesmo ar, misturando salivas, línguas, suspiros, promessas. Creio que levitamos e caímos repetidamente, numa emocionante brincadeira, subindo e descendo.
O mar, a lua com sua caricia luminosa, a areia morna em nossos pés e sombra generosa das árvores, criaram um clima mágico. Nos amamos sem medos nem vergonhas, acreditando que tudo era possível e que o mundo era um paraíso cheio de luzes e felicidade.
Adormecemos, cansados e satisfeitos, sonhando que sonhava-mos belos sonhos.
Um cachorro vagabundo nos acordou com sua língua áspera e úmida. A lua brilhava soberana. Como se retornássemos de outro universo, de outra dimensão, fomos recobrando nossos corpos, nossas consciências. Nos beijamos com carinho, arrumamos as roupas, sacudimos a areia que tinha aderido a tudo e caminhamos até a rua mais próxima. Nos separamos na primeira esquina. Vi como te afastavas com teu andar de dançarina. Lentamente caminhei até o carro, pensando em muitas coisas, na vida, na multidão de problemas que me esperavam e desejei, como sempre, que me telefonasses outra vez, para que, furtivamente, descobrisse-mos que o amor continua sendo o melhor remédio. Para tudo e para todos.
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