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cronicas-->Na fazenda com a neta -- 15/04/2010 - 17:36 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na fazenda com a neta

Aroldo Arão de Medeiros

Eu estava há tempos tencionando visitar a fazenda de dois amigos no Paraná, cidade de Castro. Minha moral deveria estar por baixo, por que ninguém da família quis se aventurar comigo. Convidei a esposa, os filhos, as noras. Cada um deu uma desculpa diferente, me deixando a ver navios, em vez de gados.
A última tentativa foi conseguir a permissão do filho para me deixar ir com a minha neta, a Clarice. Essa menina linda, de dez anos, se prontificou desde o primeiro convite, e torceu pela liberação do pai.
O dia da viagem demorou a chegar, mas enfim acordamos cedo e partimos, ansiosos. As malas já estavam no carro desde a noite anterior. Ligamos o GPS, pois não saberíamos chegar lá sem a ajuda dessa tecnologia, e nos metemos estrada a fora.
A neta levou dois CDs de seu gosto e tive que mesclar os ritmos: ouvíamos de Martinho da Vila a Lady Gaga, de Exaltasamba a Beyoncé. Foi uma mistura de black, blues, samba, pop, reggae e rock. Fazendo uma comparação surrealista entre música e comida, diríamos que foi uma miscelànea de sanduíche, sopa, galinha, arroz e bacalhau.
Imitando o cantor e compositor Chico Cesar, saindo do verbo para a verba, levei dinheiro suficiente para três dias. A viagem foi excelente com apenas um contratempo. Levei um boné oriundo dos States, para aparecer um pouco. Não é que o gringo, após uma parada para lanche, me abandonou sobre o encosto da cadeira. Passei o pedágio e só então me lembrei do infeliz. O retorno demorou um bocado, além de ter que pagar mais duas vezes o tributo cobrado pelo direito de meu passeio. Mas levei o boné, para minha alegria e para acalentar a azeda ilusão de parecer mais do que sou.
A neta ia me contando seus sonhos sonhados. Histórias que fluíam de sua imaginação exuberante e fecunda. Os sonhos, deixarei para contar em outra oportunidade. Quero agora registrar o que mais me deixou contente: um comentário dela, depois de horas dentro do carro.
- É a primeira vez que, depois de cinco horas de viagem, não estou entediada.
Demorou mas chegamos. Fomos muito bem recepcionados pelos irmãos do Luiz Fernando, os gêmeos: Guilherme e Rodrigo. Na sequência, apareceram os pais do Luiz Fernando, Lucélia e Carmelino, e a noiva, Alessandra. Mas esse encontro foi ainda na cidade e nossa ànsia de chegar na fazenda crescia a cada segundo. Não sei se foi a empolgação da Clarice, ou eu mesmo que estava afoito para curtir a natureza e descansar.
O Luiz Fernando chegou e, antes de irmos para a fazenda, ele nos levou a conhecer os principais pontos turísticos de Castro. São poucos, porém todos agradáveis, limpos, aconchegantes.
O segundo passo foi abastecer a fazenda com carne e bebida. O açougueiro, ao reconhecer o Luiz Fernando, deixou-o levar tudo o que queria sem se preocupar com o pagamento, que ele faria somente na semana seguinte. Não que não tivesse como pagar, mas naquele momento só dispunha de cartão de crédito e quem é filho do seu Carmelino, tem crédito em toda a cidade de Castro e arredores.
O percurso até a fazenda não é longo, mas parecia que nunca chegaria, tal minha ansiedade, meu desejo ardente de conhecer logo a fazenda. Quando transpusemos a porteira, olhei para Clarice e vi seus olhinhos brilhando de alegria, tal qual deviam estar os meus.
Clarice perguntava o tempo todo pelos cavalos e seu Arides, irmão de Carmelino, garantiu que ia encilhar um dos mais mansos para que ela pudesse cavalgar com segurança e comodidade. O cavalo, preto como breu, chamava-se Faísca. Embora o nome não fosse nada condizente com a atitude. Quando recebeu em sua garupa uma criança, estava todo engalanado, com cabrestos e guias, barrigueira, estribos, freios e cabeçadas, rédeas e peitoral.
No primeiro passeio da Clarice, era necessário andar próximo ao animal, com medo que ela caísse. A partir do segundo dia já subia sozinha no cavalo e não havia necessidade de escoltá-la. Na falta de culote e bombacha, vestiu uma calça e botas pretas, parecendo uma amazona em miniatura. Tudo era festa e admiração dos presentes, que não cansavam de elogiar sua rapidez em lidar com a montaria. Eu, como fui para visitar e conhecer a família do Luiz Fernando e do primo Juliano, e descansar, não queria mais nada. Deitado numa rede, apreciava o andar tranquilo do cavalinho e aproveitava para fotografar e filmar. Esse caminhar tranquilo do Faísca foi aos poucos se apressando e, no dia seguinte, já parecia um galope. No derradeiro dia, já com mais experiência, Clarice carregava na garupa as filhas do Juliano, Fernanda e Eduarda, esta com a sua idade. Só não levou o Gustavo, o filho do meio da Rafaela, porque ele não quis.
Antes que anoitecesse, Juliano chegou e foi enorme alegria reencontrá-lo, assim como quando revi o Luiz Fernando. Mais tarde chegou sua esposa, Rafaela, e a irmã Rúbia, acompanhada do marido, o Faiçal. Reunida a galera num salão próprio para beber e comer, iniciaram a jogar baralho. Depois de algumas rodadas de truco, mudaram o jogo para canastra, provavelmente porque me viram excluído. Joguei animadamente, apesar da diferença no modo de jogar. Acostumados com o truco, que era acompanhado de sinais, eles não aguentavam e falavam as jogadas. Eu, tranquilo, não reclamava. Para mim, acima de tudo, estava a alegria de estar com os amigos.
O cardápio do almoço de domingo foi camarão, que eu havia levado, e peixe do lago. Fomos pescar e como o lago não estava para peixe de caniço, o Luiz Fernando sacou da tarrafa e puxou duas traíras e dois pirarucus. O almoço foi recheado de demonstrações de camaradagem. Uma confraternização e tanto.
No caminho de volta, Clarice fez uma pergunta que me deixou atrapalhado:
- Vó, o senhor prefere passar três dias na fazenda do Luiz Fernando ou cinco dias num hotel fazenda?
Tive que ser sincero, mesmo não sabendo a reação dela.
- Sem dúvida é na fazenda da família Micheli. E tu?
- Lógico que é na fazenda.
Cheio de curiosidade, arrisquei a pergunta.
Por quê?
A resposta veio com a máxima naturalidade.
- Tinha um cavalo só pra mim, duas ovelhas, lago para pescar, sem contar o cachorro que ia no lago buscar o chinelo e entregar para aquele que havia jogado.
Como diz um meio homónimo do meu amigo, o Luiz Gonzaga Pinheiro, em seu livro, O homem que veio da sombra:
Netos - É quando Deus tem pena dos avós e manda anjos para alegrá-los.
Existe melhor explicação do que esta para o prazer que minha neta me proporcionou?



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