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Cronicas-->REPRESENTAÇÕES FRAGMENTÁRIAS E MOVENTES -- 01/05/2010 - 00:58 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
REPRESENTAÇÕES FRAGMENTÁRIAS E MOVENTES
Crónica urbana bem romàntica
Jan Muá
30 de abril de 2010

Pensando bem, pelo menos em teoria, o dia 30 de abril no Brasil deveria ser um dia de preocupação. E isto porque o dia 30 representa a data limite de apresentação do Imposto de Renda nas terras de Santa Cruz. Toda esta preocupação existe porque cidadania é cidadania e imposto é imposto. Tem que entregar e a coisa fica por aí mesmo. Entre os cidadãos sem preocupação com a entrega do Imposto de renda está o Vargas do pandeiro, conhecido nas rodas populares pelo nome de Carlito. Trata-se de um folião candango que consegue viver a chamada crise numa boa. Para ele, havendo uns trocados para o cigarro, e para a cachaça já está bem. Precisa de mais uns vinténs reforçados quando precisa de oferecer uma coca-cola à sua parceira de forró. Mas isso ele arranja e sempre está feliz. Encontrei-o na festa de carnaval, numa gafieira de Taguatinga junto ao pistão sul. Simples mas esmerado no vestir, cavalheiro na maneira de tratar as damas, mostra que sabe curtir seu tempo livre de folião. Está sempre em todas. Na rua, nas esplanadas, nas rodas de chopp, no estádio de futebol, na gafieira. Sempre acompanhado de lindas e jovens mulheres. Sabe de futebol, sabe de Brasil, de Lula e dos valetes da corrupção. Sabe até da Libertadores e da Champions. Preparadíssimo para badalar a Copa do Mundo. Já fala de safari e de belezas da África do Sul, de apartheid. Põe suas lindas companhias debatendo todos os assuntos com pinta de atualidade. Carlito tem lábia e competência para o ofício e as mulheres o adoram. Apesar de teso, é elegante e gentil. Sabe dirigir-se às mulheres nos devidos termos. Por isso mesmo granjeou a total afeição delas. De tanto lidar com mulheres, desenvolveu uma teoria pragmática e dinàmica que terminou por me contar e que causou minha maior admiração. Admirável a forma clara com que conseguiu exprimir sua teoria. Sendo assim, não tenho como deixar de apresentar as bases da teoria do grande ás das noites de forró em Taguatinga Sul. Segundo Carlito, todo o ser humano ama alguém. Seja homem seja mulher, o ser humano ama. Um homem pode amar uma mulher de verdade, uma meia mulher ou até uma mulher apenas centrada em interesses na relação. A relação entre homens e mulheres é uma relação de interesses. Mas que mulher é que o homem ama, afinal? Quem é a mulher por quem ele se apaixona, a mulher que o seduz? Para responder a esta pergunta Carlito observa que o amor é uma miragem. A figura de uma mulher que seduz um homem é uma miragem forte. No final de contas, a mulher do coração é uma mulher de sonho. O homem namora e casa com aquela mulher de que gostou concretamente. Mas dentro dele se desenvolve uma outra mulher. Uma mulher de miragem. Aquele rosto, aquele corpo, aquelas pernas, aquele seio, aquele sorriso, aqueles olhos...Sobre o que passa e se passa em movimento em torno dele como figuração de mulher, o homem capta representações fragmentárias e moventes, aqui e ali, que o acendem o transportam para as asas da fantasia. Carlito acredita que a teoria se estende igualmente à avaliação que as mulheres fazem dos homens. Pensando bem, é muito raro um amor se deter num corpo concreto sem que seja alado pela fantasia. É a visão a grande responsável pela geração desta figuração. Os primeiros elementos são colhidos pelos olhos e enviados ao cérebro e imaginação. Estes os reelaboram e os sujeitos desta reelaboração passam a viver com sua figurinhas de amor para sempre. O que parece é que estas representações fragmentárias e moventes são dados indiscutíveis no ser humano.Parece ser um dado da filosofia da ciência. O que mais nos toca é a imagem móvel que deixou seus estragos e se foi. O ser humano parece cansar de se ater sempre ao mesmo. Seus olhos são viajantes. O homem é peregrino na captação dos dados de seu conhecimento junto às coisas. Por isso faz todo o sentido que as representações fragmentárias deixem rastros tão fortes na alma e na fantasia humana. O sistema visual leva até ao cérebro suas representações. Como numa plataforma de retícula o homem constrói seus objetos de ficção, de razão e de amor. A intimidade humana por isso se constrói com mil representações e com muitos segredos. Constrói uma mulher com muitas fragmentações de muitas mulheres visuais e constrói um homem com muitas fragmentações de muitos homens visualmente colhidos. O maior segredo de todos se verifica quando as pessoas amam seus objetos de amor lendo naquele rosto, naquele corpo e naquela pessoa todas as letras esparramadas pelo universo fragmentário e disperso que também desvia corações de seu centro irradiador,
propulsionando-os para esferas que se movem e esparramam em torno de seus neurónios perceptivos como forças íntimas que jamais alguém -a não ser ele mesmo -compreenderá.

Jan Muá
30 de abril de 2010
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