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Cronicas-->Mãe brasileira e argentina -- 10/05/2010 - 13:08 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mãe brasileira e argentina

Aroldo Arão de Medeiros

O que passava pela cabeça daquela mulher é, para mim, uma incógnita.
Estávamos em torno de vinte casais reunidos num restaurante, comemorando o dia das mães. Eis que pede para discursar um dos colegas, argentino. Não é um gringo qualquer. Está há mais de duas décadas em nossa terra e ainda fala com um sotaque que, a meu ver, é forçado demais. Provavelmente para chamar a atenção.
A mulher à qual me referi, virou-se de lá e passou a escutar o discurso do gringo. E ele naquela ladainha, a declarar as virtudes das mulheres que são mães.
Essa mulher da outra mesa era negra e seu semblante transparecia um pouco de admiração e outro tanto de incredulidade. Pelo menos foi isso que consegui traduzir na minha psicologia barata. Dando uma de psicólogo sem o ser, diríamos que ela embebia-se nas palavras do gringo falante e buscava traduzi-las para a vida. Existência difícil, vencida com muito amor junto ao seu parceiro, que não se virou. Mas, como percebi que ele parou de beber e comer, deduzi que ele também prestava muita atenção.
A minha incredulidade estava em reparar que trinta e nove brasileiros pararam de conversar e escutavam um argentino falar, sem entender metade de suas palavras. Estas eram pronunciadas em alto e bom som, como quem quer se impor.
A vida me ensinou a entender e traduzir todo tipo de sotaque por esse mundão afora.
O único momento em que o orador demonstrou um ar mais modesto foi quando confessou que iria ler um texto que encontrara na internet e, portanto, não vinha de sua cabeça. Citou as várias fases da existência que uma mulher atravessa, sendo mãe. Desde os primeiros sinais de gravidez, até a adolescência do filho.
Passou a elogiar as mães quando elas apresentavam os enjóos, os desejos estrambóticos e o peso da barriga. Estendeu-se bastante na fase em que nasce o bebê, mas sem dar muita atenção à dor do parto, porque nunca a sentiu. E muito menos eu. Mencionou a preocupação da mãe quando o nenê chora e ela tem que saber se é cólica, fralda molhada, fome ou qualquer outra doença. Disse com tanta empolgação que parecia que era ele que sentia as dores. Registrou a alegria das mulheres quando o filho sugava seu seio e, até, o sorriso de satisfação quando seu pequeno grande homem largava a chupeta.
Foi se entusiasmando o argentino e aumentando o tom de voz e gesticulando como se estivesse num púlpito ou num palanque. A empolgação era tanta que chegou a parar o discurso para repreender um garçom, que conseguiu falar mais alto que ele ao dialogar com o gerente.
Não se esqueceu do cuidado com a criança crescendo, levando o primeiro tombo de bicicleta, apanhando de um amiguinho e batendo em outro. Só que as mães aconselham sempre a não usar a violência. Aliás, declarava ele, as mães só pregam a paz e o amor. Recriminam a violência, a raiva, o ódio.
Ele não se esqueceu de registrar a preocupação das mães com os filhos que retornam tarde para casa e não as deixam dormir, varando as madrugadas a pensar nos rebentos, sem conseguir fechar os olhos.
As qualidades e sentimentos femininos de uma mãe foram exaltados: carinho, compreensão, dedicação ao lar e à família e intuição.
Eu continuava a olhar aquela mulher e ela não tirava os olhos do homem que discursava sem microfone. Lembrei-me de minha mãe. Provavelmente se tivesse coragem de exprimir em público, eu não conseguiria dizer muito sobre minha mãe antes de embaçar os olhos e apertar-me a garganta. Diria, talvez, apenas que sinto muitas saudades dela.


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