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Cronicas-->Uma em cinquenta milhões -- 10/05/2010 - 17:57 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ano acaba e os brasileiros correm às casas lotéricas para apostar na Mega Sena. Todos querem começar 2010 não só com saúde para dar e vender, mas com muuuuuito dinheiro no bolso. A chance de cada um é ridiculamente pequena: uma em cinquenta milhões. Ainda assim, eles enfrentam filas e marcam números mágicos numa cartela. Na matéria da TV, um deles diz que sabe que é improvável que se torne um milionário, e completa: "Se eu não jogar, tenho certeza de que eu não vou ganhar, mas se eu jogar...". Há uma chance, enfim. Imagine então que ele, melhor ainda, que você ganhou sozinho a bolada. Muitos já lhe fizeram esta pergunta: o que você faria com tanto dinheiro?
São várias as respostas. Todas elas representam a realização de sonhos. Casas, carros, viagens. Coisas assim. Sonhos, nesse caso, são vontades de ter. Esse tipo de sonho o dinheiro compra, à vista ou a prazo. É curioso, no entanto, que boa parte dos milionários de loteria tenha uma história pós-prêmio de muita turbulência, perdas e infelicidade. As explicações vão, quase sempre, na mesma direção. Aqueles que ficam ricos de uma hora para outra não estavam preparados para administrar essa nova condição e fazem besteira. Pode ser isso mesmo. Ou, quem sabe, a noção que o ser humano tem de realização é que esteja um tanto quanto deformada.
Calma lá, não pense que estou desprezando os milhões de reais oferecidos pela Caixa para o ganhador da Mega Sena. Eu também tenho planos que envolvem bens móveis e imóveis. Não seria louco de dizer que esse dinheiro não seria bem-vindo. Tudo bem que eu nunca aposto em loterias. Não tenho esse hábito e, por isso, como já afirmou o entrevistado citado lá em cima, não vou ganhar esse dinheiro. Isso não me incomoda. O que me incomoda é tropeçar em toneladas de sonhos que apodrecem pelas ruas. Calma outra vez. É apenas uma metáfora infeliz de fim-de-ano, mas serve para abrir a reflexão que me interessa propor hoje: os sonhos pessoais mais importantes são trocados, ao longo da vida, por outros mais práticos e funcionais. Isso pode ter acontecido com você.
Pense em qual foi o sonho que você deixou na sarjeta ao longo da sua jornada. Algo que você queria ser. Pianista, jogador de futebol, escritor, cantor, policial, médico, cientista, astronauta, dançarino, gaitista, mímico, enfermeiro. Muitos sonhos mortos estão ligados à frustração do verbo ser. O que você deixou de ser para se tornar o que é hoje? A resposta a essa pergunta pode encontrar um sonho-defunto no seu porão. Você poderá até culpar um deus e todo o mundo por esse assassinato. Não teremos espaço para discutir essa transferência de responsabilidade. Se você for honesto consigo e com ou outros, terá que assumir que seu sonho de ser não se realizou porque, de um jeito ou de outro, você o abandonou. Tenho a impressão de que, para alegria de uns e desespero de outros, os defuntos que estão no porão acabam voltando para assombrar as nossas vidas. Pode aguardar. Ele virá, impávido que nem Mohamed.
O que desejo para você, leitor, nesse momento meio piegas de ano bom, é que o seu defunto chegue logo e que você possa conversar com ele sem susto, enchê-lo de vida novamente, retirá-lo do porão ou da sarjeta e restituir-lhe o posto de sonho de ser. Você já deve ter ouvido a frase feita "nunca é tarde" e a outra "tudo é possível". Se você acredita que pode ganhar uma loteria com uma chance em cinquenta milhões, por que não apostar no seu antigo sonho de ser? O mundo precisa de mais pianistas, jogadores de futebol, cantores, escritores, policiais, médicos, cientistas, astronautas, dançarinos, gaitistas, mímicos ou enfermeiros felizes. Não se preocupe com a idade. Há categoria master em todas as atividades. Bom ano e boa sorte.

*Publicitário e professor de língua portuguesa. Vez ou outra, não resiste e escreve um texto de auto-ajuda light, apesar de achar que o melhor conselho e não ouvir conselhos.
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