Usina de Letras
Usina de Letras
204 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140785)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6176)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->MATEUS E SUA BONECA -- 09/03/2022 - 13:10 (Roosevelt Vieira Leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

MATEUS E SUA BONECA

 

Ele cortou a jugular da moça, e em seguida observou sua vida se esvair numa poça de sangue. Mateus sentia todo o prazer do mundo em ver a vida ir em embora diante de seus olhos. O corpo foi deixado com um novo testamento dos gideões sobre o peito. Esse era o costume do rapaz. Apesar de tudo Mateus tinha uma vida normal. Trabalhava numa loja de material de construção. Exercia o cargo de gerente e ajudava a todo mundo. Mateus não podia ver um amigo precisar de alguma coisa. Os colegas diziam: “Se precisar de alguma coisa, peça ao Mateus”.

Campos acordou com mais um misterioso caso de assassinato. A polícia desconfiava que se tratava de um serial killer muito esperto. A arma usada em todos os crimes era a mesma: “Uma faca de caça”. As vítimas alvo eram mulheres da noite acima de trinta anos. A polícia não fazia a menor ideia de quem era o assassino, e não tinha nenhuma pista que pelo menos dissesse que se tratava de um homem ou uma mulher. Campos estava em pânico. O prefeito Terêncio decretou toque de recolher as dez horas da noite.

A rotina de Mateus era acordar cedo todos os dias. Caminhar as cinco e meia, e ler o novo testamento antes de ir trabalhar.  Ele adorava o capítulo cinco de Mateus. O sabia decorado e repetia para si quando estava solitário. A noite ele dormia cedo. Mateus tinha uma boneca inflável que lhe fazia companhia. O dois mantinham diálogos longos antes da hora da cama. O rapaz adorava a boneca: “Boa noite Catarina, um beijo”.

Mas apesar da vida tranquila o rapaz tinha uma personalidade dissociativa. Em certas ocasiões ele sentia uma enorme necessidade de matar mulheres. Isso se dava quando sua boneca Catarina mudava o tom da conversa e pedia uma vítima depravada:

“Mateus, você não saia com outras mulheres. Sabe aquela moça do acarajé, ela estava dando em cima de você. Safada, merece ser sacrificada. Precisamos elevar a moral das mulheres por meio do evangelho. Se ela não ler o evangelho em vida, certamente o lerá na morte”. Mateus sempre que ouvia isso ele pegava sua faca de caça e ficava na espreita da vítima. Com cem por cento de precisão ele fazia suas vítimas partirem para o outro mundo. Estranho foi o caso de Matilde, uma vendedora de produtos de beleza. A mulher com sua artéria cortada cantava um hino evangélico antes de morrer. Mateus foi ao delírio. “Nunca vi morte tão linda”. Disse ele.

Com a morte de Matilde chega à cidade de Campos o delegado Peixoto. O mesmo tinha curso de psicologia forense. As autoridades desconfiavam que o assassino era um psicopata esquizofrênico. O novo testamento sobre o cadáver dizia que o assassino estava em delírio durante o ato criminoso. Peixoto examinou o caso e viu que era um ritual o que o assassino fazia. O perfil do assassino foi traçado como se tratando de uma pessoa da sociedade que não oferecia nenhum aparente perigo a ninguém uma vez que não havia marcas de lutas na cena do crime.

Mateus seguia sua vida. Catarina não pediu mais sacrifícios. Um ano inteiro se passou. A polícia totalmente cega pegava uma ou outra pessoa suspeita, mas, o álibi as tirava do aperto. Peixoto continuava no caso e alimentava esperança de desvenda-lo:

- Peixoto, o assassino nunca mais matou. E agora, como é que você vai chegar até ele ou ela com o que você tem?

- Com o que temos é difícil. Minha esperança é ele cometer um erro. Peixoto sabia que todo mundo erra. Certamente Mateus ia errar também.

Numa noite de quarta-feira, Mateus entra em discussão com Catarina. A boneca decidiu que Mateus deveria sacrificar uma vítima entre vinte e trinta anos. Segundo a boneca era preciso inovar uma vez que a mocidade estava se depravando muito cedo. Mateus tinha em mente uma moça da loja, mas isso seria muito arriscado.

- Essa moça não Mateus! As pessoas farão muitas perguntas.

- Mas eu sinto uma atração muito forte por ela, e o mal deve ser cortado pela raiz.

- Mas, homem, a polícia fará perguntas a todos da loja.

- Não se preocupe, eu darei um jeito. Mateus decidiu matar Maria Clara, e para tal se aproximou dela.

Maria Clara era balconista da loja onde Mateus trabalhava. A moça tinha vinte e oito anos. Havia tido um relacionamento com um representante de linhas de costura, mas não deu certo. Maria Clara era uma moça amorosa. Era amada por todos seus amigos e familiares. Segundo os irmãos da comunidade da igreja, ela era um exemplo de cristão.

Mateus observou a rotina da moça. Mateus viu que podia lhe dar carona uma vez que ela morava no caminho de sua casa. Mateus deu um jeito e passou a levar Clara para casa: “Clara, não se preocupe, você fica no meu caminho”. Com a aproximação, Mateus foi sem perceber se apegando a menina. Maria Clara era uma moça muito bonita, uma verdadeira campense da Capitoa. O povo diz que as mulheres da Capitoa são de beleza muito elevada. Assim era Maria Clara.

- Você não deve se apegar a moça Mateus! Disse Catarina com um tom forte de repreensão.

- Mas, eu não consigo fazer diferente! Parece que essa menina mexe comigo, Catarina!

- Rapaz, seja um homem de verdade! Não fuja de seus compromissos com a causa! Mais uma vez repreendeu Catarina ao moço.

Mateus e Clara passaram a conversar todos os dias. Aos poucos foram ficando íntimos:

- Clara, eu não sabia que você gostava de cinema. Vamos a Aracaju, ao shopping, assistirmos um filme!

- Sim, vamos. Disse Clara com a face cheia de vida. Mateus sabia que não podia matá-la em tais situações. A coisa ia ficar muito evidente. Cada vez ficava mais difícil matar a moça. As pessoas em Campos já falavam do casal da loja de construção. Catarina estava fora de si:

- Mateus, você é um fraco. Nunca vi um homem com tão pouca determinação. Você é um fracasso. Seja homem, rapaz, e termine o serviço.

- Num dá não pra fazer nada não. Você num tá vendo que as pessoas estão me ligando a ela. Ademais, eu estou gostando dela mesmo. Nunca vi uma pessoa tão boa.

- Mateus, seu cretino, seu covarde, seu moloide, faça alguma coisa. Eu quero ver o sangue dessa menina de qualquer jeito.

Mateus planejou matar Clara diversas vezes. Todas as vezes, porém, acontecia alguma coisa que mudava tudo. Apesar das crises do rapaz, o casal se entendia ainda mais. A cidade inteira já tinha os dois como marido e mulher. Um dia Clara e Mateus foram morar juntos. Mateus jogou a boneca fora e se esqueceu dos assassinatos e Peixoto se aposentou...

 

 

 

 

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 5Exibido 346 vezesFale com o autor