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Artigos-->Brasileiros Redescobrem os Prazeres da Sétima Arte -- 19/06/2003 - 01:06 (Lilian Fonseca Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Por Lilian Fonseca Oliveira, Thaís Wange e Thatiana Avolio

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– Gente, vamos ao cinema?

– Claro! Qual filme você quer assistir?

– Aquele novo com a Leandra Leal.

– Credo! Filme brasileiro. Tô fora!



Essa costuma ser a reação de muitas pessoas quando se trata de cinema nacional. Contudo, existe o outro lado da história, o lado daqueles que ainda se dispõem a prestigiar o produto nacional, não apenas por ser do Brasil, mas por ter cara de Brasil.

Cáren Nakashima, 20, aluna do 5o período de jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e aficionada em cinema brasileiro, afirma que “a produção nacional tem vendido bons produtos, o que me estimula a prestigiá-las. Acima de tudo, aposto no que meu país tem de bom”. E ela continua, “não ler legendas é o máximo”, brinca. “O caráter de novidade é algo que o cinema hollywoodiano não possui tanto. É bacana acompanhar o ressurgimento do cinema nacional de qualidade”

Para Inês Pereira, professora de comunicação e doutoranda em cinema brasileiro, o que a leva a assistir produções nacionais é o fato dela estudar esse tema e, além disso, “é o cinema do meu país”, relata. “Eu adoro ver a cara brasileira lá. Adoro ver as paisagens, é alternativo. Eu também assisto cinema francês, italiano, iraquiano, chinês. Só não assisto cinema hollywoodiano, não adianta. Não gosto, não vou ver”, afirma.

A queixa feita por quem não tem o hábito de ver um filme nacional é quase sempre a mesma: – O som é ruim. Mas de acordo com Camila Freitas, que trabalha no Cinema BR em Movimento com a divulgação de filmes brasileiros, “o que acontecia muito, principalmente em relação ao som, é que as salas de cinema no Brasil, até hoje, são muito precárias. Então, como se via muito apenas filmes legendados – filmes americanos –, não dava para perceber que o som era ruim. Assim, quando você coloca um brasileiro, se diz ‘o som é ruim’. Porque se você pegar um vídeo, por exemplo, desde a época da Vera Cruz, o som já era bem resolvido”.

Outro problema apontado com relação ao cinema brasileiro é o pequeno número de salas de exibição. Em uma reportagem mostrada na revista Monet [Junho/2003, no 3] sobre cinema, Cacá Diegues se mostra indignado por viver em um país de 170 milhões de habitantes que tem apenas 1,6 mil salas e ainda diz que o Brasil é o penúltimo país do mundo na relação oferta de lugares para cinema e população.

Ainda nessa mesma reportagem, o produtor Luiz Carlos Barreto (Dona Flor e Seus Dois Maridos) diz que 90% dos municípios brasileiros não têm nem mesmo uma sala de cinema, sendo que nos Estados Unidos há uma sala para cada 10 mil pessoas e aqui a proporção é de uma para cada 100 mil.

Com relação à qualidade dos filmes, Fernanda Figueiredo, 22, estudante de Web Design na UAM e fã de carteirinha de cinema brasileiro, diz que “pelo pouco investimento que os filmes têm, são bons, mas pode melhorar muito. O som melhorou bastante, a parte técnica já não tem diferença com os filmes de Hollywood”. E Nakashima completa, “ainda falta verba, incentivo para haver uma ótima qualidade, mas o nível melhorou muito e mesmo com suas precariedades, toda arte é arte”.

Nos últimos anos, a indústria cinematográfica atraiu profissionais da publicidade e da mídia em geral para fortalecer e “empurrar” a nova safra de filmes nacionais. De acordo com Pereira, o cinema passou a ter “uma geração que veio da TV e da publicidade. E essa é uma geração que tem alguns autores e diretores que têm uma familiaridade com os novos recursos técnicos”.

Mesmo não tendo o perfil de cineastas, estes profissionais sabem como chamar a atenção do público, não só na parte de divulgação, mas também na parte de produção do filmes.

O fato do público se identificar com as histórias exibidas facilita o trabalho desses profissionais. Camila Freitas e Cynthia Alario – que também trabalha no Cinema BR em Movimento com a divulgação de filmes de brasileiros –, explicam que “é a nossa realidade. Você está vendo uma coisa que lhe diz respeito. Um filme americanos pode até ser muito legal, ter ação e tal, mas com os nacionais você está vendo na tela uma coisa que é sua. Então isso aproxima, gera o interesse”.

Por dominarem as técnicas de vídeo-clipe, publicidade e curta-metragem, as novas equipes de produção sabem como cativar a atenção do público, pois possuem técnicas que deixam os filmes com ritmo e linguagem mais apreciadas pelos espectadores, o que torna mais prazeroso o assistir a um filme.

Outro artifício para atrair a atenção do público, de acordo com Gustavo Oliveira, 23, estudante de jornalismo pela UAM e apaixonado por cinema nacional, é o fato de que os novos profissionais “seduzem o público jovem colocando atores bonitinhos nos filmes”, como aconteceu em Avassaladoras, Bicho de Sete Cabeças, A Partilha e Orfeu.

Segundo Alario, o papel da crítica também mudou. “Hoje a crítica contribui com o cinema brasileiro também. Se fala do cinema brasileiro nos jornais. Até pouco tempo não se falava ou então se falava mal”.

Os brasileiros estão redescobrindo o prazer de assistir um filme nacional. Com o apoio do governo, das novas tecnologias e profissionais, a qualidade dos filmes está crescendo a cada produção. A atual geração de espectadores de cinema brasileiro está mudando seu modo de pensar. Como Alario e Freitas explicam que algumas pessoas que assistiram Durval Discos e não gostaram, não saíram falando mal de todos os filmes nacionais, não generalizaram. Ou seja, hoje as pessoas parecem estar mais receptivas com relação ao cinema brasileiro.

Para Inês Pereira, uma solução para criar uma geração que aprecie a produção nacional seria “criar crianças mais críticas e conscientes, mostrando o cinema desde cedo, é uma forma de gerar um hábito cultural. Tem que distribuir ingressos nas escolas, levar debates e discussões”.

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O QUE É O CINEMA BR EM MOVIMENTO?




O Cinema Br em Movimento é uma organização que visa aproximar a população com a recente cinematografia nacional.

Camila Freitas e Cynthia Alario trabalham juntas nesse projeto e de acordo com elas o Cine BR trabalha basicamente em duas frentes: uma dentro das universidades, “para levar o filme brasileiro para as universidade, para ser discutido. E o objetivo disso é para formar público e para alterar essa idéia de que cinema brasileiro não presta”. E por outro lado existe o circuito comunitário, “para levar o filme às comunidades, quer dizer, favelas, escolas, creches, praças públicas. Pessoas que geralmente não teriam acesso ao cinema”. E prezando sempre, como elas gostam de dizer, “a discussão, o debate e não o filme pelo filme, mas sim discutir a arte e o que ela significa”.

De abril de 2000 a dezembro de 2002, o projeto exibiu 21 longa-metragens para 604.765 espectadores em todo o país, em um total de 3.533 sessões.

O Cine Br atua no Brasil inteiro. Cada estado possui pessoas que o representam.

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DIVULGAÇÃO




Preconceitos a parte, outro grande problema que a cinematografia nacional enfrenta é com a divulgação de seus filmes. De acordo com Freitas e Alario, os filmes que obtiveram maior público como Auto da Compadecida, Cidade de Deus e Carandiru, tiveram uma grande divulgação na mídia – principalmente na TV.

O circuito nacional de exibição possui aproximadamente 1,6 mil salas. “O México possui o dobro disso”, afirmam. “Já são poucas salas de cinema, dominadas pelos filmes americanos. Assim, o espaço para o filme brasileiro é muito restrito. Então, muitas vezes, as pessoas não assistem não é nem porque não é bom, porque não gostam. É porque não conhecem mesmo”.

O cinema enfrenta outro problema: o da falta de verba. Hoje, o filme brasileiro é lançado, por causa do preço da película, em média com 3 cópias, isso quer dizer que somente 3 salas podem exibi-lo. Isso se deve ao valor da cópia que custa, em média, US$ 1.500 dólares. “É aí que a gente entra nessa história. Pensar em formas alternativas, a custo baixo, para divulgar o filme”, afirmam Freitas e Alario.

Quando se fala sobre o apoio dado pelo Governo, algumas opiniões se divergem.

Para Cáren Nakashima, “deixa muito a desejar” e ela completa, “na Europa há uma Quantia destinada exclusivamente à produção cinematográfica”. E Gustavo Oliveira concorda, “o apoio é irrisório se comparado a outros países. É lamentável, mas os executivos, os donos do dinheiro, ainda não acreditam no nosso cinema”.

Cynthia Alario e Camila Freitas confessam que “hoje, a questão da produção está mais ou menos resolvida com a lei de incentivo, ainda não é o ideal, tem filmes que não conseguem patrocínio por não se encaixarem no plano de marketing”, e completam, “uma idéia interessante seria subsidiar novas salas de cinema. Ao invés de subsidiar apenas a produção, subsidiar também a distribuição, construir salas em locais mais populares, com ingresso mais barato”.

Inês Pereira concorda, em parte, com elas. Para Pereira “o governo faz até demais. Nossa praça não é o cinema e sim a TV. Tem gente boa fazendo cinema – cinema alternativo –, mas com o industrial não tem como competir”.

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O QUE FOI O CINEMA DE RETOMADA?




Em 1990, quando Fernando Collor de Mello tornou-se presidente da República, a produção cinematográfica nacional sofreu duros abalos: órgãos diretamente ligados ao cinema como a Embrafilme, a Fundação do Cinema Brasileiro e a Fundação Pró-Memória foram extintas; fim da Lei Sarney (de incentivo à cultura) e da Lei de Reserva de Mercado; e bloqueio dos cruzados (incluindo a verba para o financiamento de muitos filmes). De acordo com Carlos Roberto de Souza, autor de Nossa Aventura na Tela: A Trajetória Fascinante do Cinema Brasileiro da Primeira Filmagem a “Central do Brasil”, “os 30 meses do terror Collor demonstraram quão frágil era esse prestígio para garantir a sobrevivência da produção”.

Em 1993, a Câmara Federal aprovou um complexo à Lei do Áudio-Visual (essa Lei garantia apenas 28 dias de exibição de produção nacional por ano, e o órgão que controlava a exibição era formado pelos próprios exibidores), que prometia US$15 milhões para retomar a atividade cinematográfica no Brasil. Uma verba da antiga Embrafilme foi entregue ao Ministério da Cultura para incentivar e financiar a produção de filmes nacionais.

Em “Cinema-Cronologia das Artes em São Paulo –1975/1995”, o ano de 1993 foi considerado pelos cineastas “o ano da retomada da produção”, que foi impulsionado em partes pelas verbas concedidas, neste mesmo ano, pelo Banespa e pelo projeto intitulado “Resgate do Cinema Brasileiro”, concurso realizado pelo Ministério da Cultura.





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