Minha vida é algo louco, densa e propensa a flutuações que beiram a alta do dólar, embora eu use mais açucar mascavo do que propriamente doces; sou, portanto, fã dos produtos nacionais. Eu pego um bombom e digo: Pronto, está pronto, coeso em suas várias faces, com a estrutura recoberta de chocolate meio amargo, mas está aqui em minhas mãos e eis que uma voz se destaca em meio à multidão de ruídos que me acossa nas ruas da cidade de São Paulo:
--Vai comer isso não, Mané.
--Vou não.
E nada disso, me escondo da voz, no beco escuro de minha iniquidade e cometo o pecado original, devorar o bombom à vista de Deus, minhas mão fazendo o papel que foi de Eva; não demora muito e o céu se tlda, escuro e assustador e as espadas flamejantes dos raios se espalham de volta à Terra, inundando os becos onde me escondia, Adão foragido e procurado pela Polícia de Deus. Eu encontro uma gruta, aonde antes morou um pitacantropo mal-humorado e fedido, e lá saboreio os resquícios de meu pecado alimentar.
Eles me acharão, com certeza, me fazendo vomitar as tripas para manter-me puro igual um bebê de sapatinhos de couro.
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