Querida Ivone
Fiquei perplexa ao ler sua “Carta ao anônimo”...
Digo “ao” em vez de “a um”, pois, assim como você, identifiquei o autor quase que instantaneamente.
Ah! O estilo... Aquele cunho irreparável que deixamos transparecer, mesmo que não intentemos.
Senti-me tentada a dar meu parecer, já que tal evento se tornou público e muito oportuno, pois tenho sido alvo de tais ilações.
E como tão bem diz você, cara poeta:
“... escrever textos de quaisquer espécies, em prosa ou verso, não implica, necessariamente, a revelação de uma auto-biografia do Autor.
Assim, é possível que um escritor ou poeta cante a felicidade quando está triste, cante lágrimas quando está feliz ou cante qualquer fato ou sentimento que não tem absolutamente nada com o que está passando ou vivendo naquele momento. Por isso ele é escritor! Por isso não se deve interpretar como auto-biografias tudo que se lê! Se eu publicar aqui um Conto qualquer ou uma Carta qualquer, escritos na primeira pessoa, onde eu confesse um crime, você acreditará que matei alguém?”
Tenho me debatido em explicações, Ivone querida, sobre o que acima expuseste. Mas, quando o intelecto não alcança, em termos literários, o que ordinariamente o faz em um cheque de conta bancária ou num volante de loteria esportiva, não adianta dizer e repetir, em todos os níveis de linguagem, pois o destinatário não quer entender; prefere ficar com o ditame sórdido que sua ignorância imperiosamente determina.
Ai, amiga!
Que faria, então, o meu cônjuge (palavrinha imbecil esta, não?) se achasse que todos os poemas de amor ou levemente “eróticos” que escrevo, tivessem alvos tão diversificados como o tema que neles apresento? Já imaginaste?
Bem... Bem... Bem...
O paraíso é somente dos escolhidos... Já dizia um grande sábio. E os POETAS certamente detêm esse paraíso!
Beijos solidários
Coisa de Viado!
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