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cronicas-->Quase tudo deu errado -- 12/09/2010 - 21:43 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quase tudo deu errado

Aroldo Arão de Medeiros

Fazia um mês que Larissa, uma linda menina de 10 anos que mora na capital catarinense, não via o pai. Ele trabalhava na capital paranaense.
Como seu pai, Gabriel, precisava da moto que deixara em Santa Catarina e o avó possuía uma camioneta, este alugou um reboque para o transporte e convidou Larissa para fazer companhia. Ficariam no apartamento de Gabriel.
Ao chegarem telefonaram para o Gabriel vir buscá-los. Vó Chico não sabia como chegar ao apartamento do filho. Gabriel demorou tanto que passava um pouco da meia-noite quando se ajeitaram para dormir. Antes, Larissa fora tomar banho e, ao mexer no registro do chuveiro, este caiu no chão e ela não conseguiu colocar de volta. Vó Chico estava no outro banheiro e, por problemas elétricos, o chuveiro da neta ficou frio. Larissa entrou no quarto como um pinto molhado: tremendo, batendo queixo e encarangada.
O pai presenteou-a com um livro e um gibi da Mónica Adolescente. Empolgada, ela deitou na cama, recostou o travesseiro e direcionou a làmpada do abajur para melhor enxergar as letras. A làmpada espatifou no chão e acabou-se a leitura daquela noite. Temos, entretanto que desculpá-la pelos acontecimentos, pois seu pai não lhe fez três avisos importantíssimos: o registro estava solto e cairia de qualquer maneira; duas pessoas não poderiam usar os banheiros ao mesmo tempo; o abajur tinha que ficar obliquo, pois na vertical a làmpada cairia.
Muitos meses antes da viagem, Vó Chico havia planejado descer de trem de Curitiba a Paranaguá. Leu tudo o que lhe aparecia nas mãos sobre o passeio pela serra paranaense. De tanto tocar nesse assunto, Larissa também ficou animada em partilhar com o avó esse sonho. Vó Chico, sempre que tocava no assunto, discorria com um sorriso nos olhos e com o coração disparado de euforia.
- Vamos aproveitar esse dia ensolarado, típico de um autêntico inverno europeu - enfatizava Vó Chico - para fazermos um passeio bucólico e inesquecível.
E o Vó Chico desandou a contar tudo que sabia sobre o caminho secular da estrada de ferro:
- O pico mais elevado da serra está a quase mil metros acima do nível do mar. O trem parte de Curitiba, corta a Serra do Mar, passa por Morretes e finaliza o passeio em Paranaguá. A estrada é considerada uma das maiores obras de engenharia já construídas pelas mãos do homem. No percurso, a gente poderá se deslumbrar com paisagens exuberantes. A viagem demora cerca de três horas, e a gente irá atravessar diversos túneis, um deles com quase um quilómetro de extensão.
- E não é perigoso, Vó? Indagava Larissa.
- Não. O melhor é que poderemos tirar fotos a partir da janela do trem. Cruzaremos alguns rios, veremos a famosa e encantadora Cachoeira Véu da Noiva que impressiona pelo barulho ensurdecedor da queda d´água. Também poderemos fotografar o Pico do Diabo, que é uma enorme rocha com uma fenda entre duas escarpas, e o Pico do Marumbi, que se destaca por ter mais de 1.500 metros. Ali jovens praticam alpinismo e outros esportes radicais.
- A gente também vai escalar a montanha?
- Não, Larissa, nós vamos descer do trem só em Morretes, cidadezinha pequena, mas muito linda, cortada pelo rio Nhundiaquara. Nesse rio as pessoas praticam canoagem, boia-cross e pescarias.
Larissa estava eufórica. Vó Chico combinou com Gabriel que sairiam do apartamento no máximo às sete horas para chegar cedo, pois o trem partiria às oito e quinze. Em Morretes almoçariam a comida típica do litoral paranaense: um barreado. E voltariam de ónibus para Curitiba.
Chegaram cedo e entraram na fila. Foi só nessa hora que repararam que os demais traziam nas mãos suas carteiras de identidade. Lembraram-se que não tinham trazido a da Larissa. Tentaram convencer a vendedora, mas essa cumpria as ordens e negou-se a vender os benditos bilhetes. Ficaram mais tristes que criança borrada e o passeio foi por água abaixo em vez de ir serra acima.
Os três desanimados, pai, filho e espírito santo, aliás, pai, filho e neta foram procurar desfrutar outros prazeres: visitar os parques de Curitiba. Gabriel estava com um panfleto no bolso com uma lista de 26 parques na cidade. Larissa já havia, em outra oportunidade, visitado alguns deles. Resolveram ir ao Jardim Botànico.
Pai e filha caminhavam de mãos dadas e o avó ficou sentado num banco, embevecido com o amor da neta pelo pai. Depois de mais de uma hora de passeio pareceu mais uma vez naquele dia, o pequeno infortúnio da Larissa, a menina que sonha quando ouve o cantar dos pássaros. Ao colocar a mão num corrimão de madeira, ela deslizou sobre uma porção de titica de passarinho. Tão grande era a meleca que mais parecia de um urubu e não de beija-flor.
Antes de encerrar o passeio, fizeram um lanche recheado de gostosas guloseimas: suco, chocolate quente, refrigerante, café, doces, sanduíches e tudo o mais que pode haver numa boa lanchonete. Gabriel e Vó Chico escolheram café, suco de laranja e sanduíche. Larissa apressou-se em pegar o suco que pensava ser de laranja. Quando foi tomar percebeu que a coloração era mais fraca que a de seu pai. Descobriu, então que pegara suco de manga. Não tinha o sabor esperado, então trocou o suco por chocolate quente. Com não eram seus dias de sorte, o chocolate estava estragado e ela terminou bebendo água mineral com gás, gelada e com direito a bolhinhas.
À noite combinaram conhecer um lugar bem diferente. Gabriel pegara um panfleto na padaria e passaram a estudar a possibilidade de viajar oitenta quilómetros para curtir as delícias de uma pousada. Era a Pousada Ribeirão das Flores, localizada entre as cidades de Castro e Cerro Azul. Pelo que se póde deduzir, o clima era agradável na maior parte do ano. Pretendiam curtir a piscina aquecida, deslizar no cabo aéreo e andar a cavalo. Larissa curtiria os brinquedos, os homens passariam algum tempo na sinuca, pescariam, passeariam de jipe e veriam televisão saboreando um bom vinho em frente à lareira.
Na segunda-feira cedo telefonariam para fazer a reserva. Para decepção deles, a pousada estava lotada e não aceitavam mais ninguém. Apesar de um tanto jururus, decidiram visitar outros parques, mas que não tinham o brilho dos dois passeios planejados.
Larissa, quando questionada sobre o que achou dos entraves da viagem a Curitiba, foi enfática:
- Nada conseguiu estragar o encontro com o meu papi. Pude abraçá-lo, beijá-lo e dormir com ele. Isso tudo apaga o que de ruim aconteceu.

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