Doce de feijão
O propagandista João Macaco vivia sonhando em ter uma namorada japonesa. Em suas andanças pelos bairros da capital, pendurado em ônibus lotados, olhava para os lados à procura de uma nissei que lhe agradasse, seu sonho fixo era casar com uma japonesinha. Os amigos disseram que eram mulheres diferentes, que a comida deles, os japoneses, era muito gostosa. Certo dia, lá pelos lados de Arthur Alvim, o João conheceu uma japonesa bonita e sorridente, de nome Tochico, que morava numa chácara com vários irmãos. Havia um desdentado cujo apelido veio a ser “goiaba”, mas isto é outra história.
No primeiro fim-de-semana de folga que teve, lá foi o Macaco conhecer a família da moça. Alguns amigos disseram que os familiares dela eram bravos, mas o João estava decidido a enfrentar o perigo, tudo em nome do amor, tudo pelo amor da sua “japinha”. A festa rolou na chácara, o almoço foi servido com abundância. Havia peixe e carne à vontade, mas tudo cru. O João Macaco, nordestino, acostumado a comer carne seca com farofa e buchada de bode, olhou a comida e refugou, quase vomitou. Todavia, para não desagradar à família da quase namorada, foi recolhendo a comida no colo, mantendo-a escondida sob a mesa. A mãe da moça via o prato do João sempre vazio, pensava que ele tivesse gostado da comida e o enchia de novo. O João recolhia tudo novamente para o colo e ali ficava paralisado, esperando por uma chance de se livrar da incômoda “mercadoria”.
A sobremesa servida foi doce de feijão, conhecido entre os japoneses por mandiú. O doce é massudo, feito em mini-rodelas, um tipo de mini-pizzas recheadas de massa marrom esquisita. A iguaria foi oferecida em grande quantidade. O João pegou umas duas rodelas e escondeu debaixo da mesa. Lá fora, rondando a casa, havia uma cachorrada brava e faminta, eram uns doze cachorros aproximadamente, e era neles que o João depositava a sua última esperança para se livrar da comida intragável. Na primeira oportunidade que tivesse, pensava, jogaria a comida acumulada no seu colo para aqueles cachorros. De vez em quando um deles parava na direção da porta e ficava olhando a montanha de comida no colo do João. De repente, para fazer um teste, deixou cair uma das rodelas de doce que estavam no seu colo. A cachorrada estava faminta demais e entendeu aquilo como sendo a senha para o “almoço” deles e avançou...
O tumulto foi grande. A ação dos cachorros sob a mesa devorando vorazmente a comida escondida fazia o móvel comprido ondular como se esta fosse um touro de rodeio. Quem visse a cena pensaria que ali estivesse havendo uma sessão de exorcismo do mais baixo-espiritismo. Parecia haver uma legião de demônios sob a mesa. Enquanto a japonesada, atônita, assistia à cena sem entender nada, o João aproveitava o tumulto para escapar do local e sumir para sempre. Voltou para o centro da cidade e não quis mais saber da sua querida nissei de Arthur Alvim. Doce de feijão?... Nunca mais!...
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