Usina de Letras
Usina de Letras
129 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62159 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22530)

Discursos (3238)

Ensaios - (10345)

Erótico (13567)

Frases (50571)

Humor (20027)

Infantil (5422)

Infanto Juvenil (4752)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140790)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->A escolha fundamental -- 23/06/2003 - 14:27 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“A escolha fundamental



“Se as tendências naturais da humanidade são tão más que se deve privá-la da liberdade, como se explica que a tendência dos organizadores possam ser boas? Por acaso os legisladores e seus agentes não fazem parte do gênero humano? Será que se julgam feitos de barro diferente daquele que serviu para formar o resto da humanidade? Dizem que a sociedade, abandonada à sua própria sorte, corre fatalmente para o abismo, porque seus instintos são perversos. Pretendem detê-la nesta corrida, imprimindo-lhe nova direção. Eles receberam então do céu inteligência e virtudes que os colocam fora e acima da humanidade. Que nos mostrem seus títulos! Querem ser pastores, querem que sejamos rebanho. Este arranjo pressupõe neles uma superioridade de natureza, para a qual temos o direito de previamente exigir provas” (Frédéric Bastiat).



Uma das oposições preferidas dos socialistas é entre planejamento e caos. Segundo seu modo de raciocinar, se o governo deixar o mercado funcionar por conta própria, o resultado será caótico e inúmeras "necessidades sociais" deixarão de ser atendidas; é preciso, portanto, que o governo intervenha para "corrigir" as possíveis imperfeições, para alocar adequadamente os recursos, para regular as ações dos indivíduos no mercado - e para introduzir ordem e planejamento no caos.



Infelizmente, até mesmo alguns notáveis defensores da liberdade adotam essa oposição. O prof. F. A. Hayek, por exemplo, pretendia explicar a evolução social por meio de um mecanismo espontâneo em que certas regras ou comportamentos que inicialmente surgiram sem que ninguém soubesse sua finalidade eram adotadas - por motivos inteiramente irracionias - por certos grupos sociais e, à medida que o tempo passava, o grupo social que adotasse as melhores regras seria mais próspero e mais duradouro. Nesse sentido, é impossível distinguir racionalmente entre boas e más regras; só o tempo é capaz de dar o veredito final.



A evolução social, segundo Hayek, teria então três etapas: mutação (o surgimento da nova regra), transmissão (sua adoção por outras pessoas, através do mimetismo) e seleção (com a prevalência dos grupos de pessoas que adotaram as melhores regras). Assim, ele afirma que a civilização

não resultou do desígnio ou da intenção humana, mas espontaneamente: ela surgiu da conformação não-intencional com certas práticas tradicionais e morais, muitas das quais os homens tendem a não entender, cujo significado eles não entendem, cuja validade eles não são capazes de provar, e que apesar disso se espalharam rapidamente por meio da seleção evolutiva.



A oposição entre sistemas sociais está, para Hayek, colocada em termos semelhantes às dos socialistas - entre o planejamento racional e o espontaneísmo irracional ou semi-racional - com a diferença de que, enquanto os socialistas apelam para essa divisão para apoiar o planejamento, Hayek pretende fundamentar nela sua crítica ao planejamento, ou ao que ele chama de "construtivismo".



Mas, qualquer que seja nosso sistema preferido, essa divisão é um nonsense, e a explicação hayekiana para as "mutações culturais" é pouco mais que um misticismo confuso. Como explica Hans-Hermann Hoppe, em seu devastador “F. A. Hayek on Government and Social Evolution: A Critique”:



“A teoria do espontaneísmo de Hayek pode aplicar-se a vegetais (mas ainda aí ela encontraria problemas, por causa do "Lamarckismo" explicitamente assumido por Hayek), mas ela definitivamente não é aplicável a agentes humanos. Toda ação envolve o emprego intencional de recursos escassos, e todo agente sempre distingue entre uma ação bem-sucedida e uma ação mal-sucedida. O conceito de uma ação inconsciente-espontânea à la Hayek é uma contradictio in adjecto. A ação é sempre consciente e racional. Portanto, a teoria de Hayek leva a um dilema inescapável: se aplicarmos a teoria de Hayek a ela mesma, então sua própria atividade de escrever livros nada mais é do que uma emanação sem propósito a respeito da qual questões de verdadeiro ou falso e de sucesso ou fracasso não surgem. Ou a escrita de Hayek representa uma ação intencional. Neste caso, sua teoria é obviamente falsa, no entanto, porque ao iluminar a si mesmo (e a nós) a respeito do curso da evolução social, Hayek não está mais agindo espontaneamente, mas está tentando moldar as mudanças sociais consciente e racionalmente”.



O que importa notar é que não há oposição entre uma ordem fundada na ação racional e orientada de um planejador central e uma ordem espontânea fundada nas ações irracionais e sem propósito de alguns indivíduos, porque os indivíduos no mercado também agem de forma consciente e orientada. A oposição entre socialismo e capitalismo não é, portanto, uma oposição entre planejamento e caos, mas uma oposição entre duas formas de planejar - ou entre duas respostas diferentes à pergunta: quem deve planejar?

Nas palavras de Ludwig von Mises:



“A verdade é que a escolha não é entre, de um lado, um mecanismo morto e um automatismo rígido, e, do outro, um planejamento consciente. A alternativa não é planejar ou não planejar. A questão é: o planejamento de quem? Cada membro da sociedade deve planejar por si mesmo ou apenas o governo paternal deve planejar por todos? A questão não é automatismo contra ação consciente; é ação espontânea de cada indivíduo contra a ação exclusiva do governo. É liberdade contra onipotência governamenta.

Laissez faire não significa: deixe forças mecânicas operar, mas significa: deixe os indivíduos escolher como eles desejam cooperar na divisão social do trabalho e deixe-os determinar o que os empreendedores deveriam produzir. Planejamento significa: deixe apenas o governo escolher e executar suas regras através do aparato de coerção e compulsão”.



A oposição entre caos e planejamento afirmada pelos socialistas é apenas uma mal disfarçada desconfiança da capacidade e do direito dos indivíduos de planejar suas próprias vidas e decidir como preferem utilizar os recursos de que dispõem; é uma mal disfarçada promoção do próprio poder de interferir na propriedade alheia e determinar como cada indivíduo deve viver sua vida.



Aliás, com freqüência crescente, os políticos já nem mesmo se dão ao trabalho de disfarçar sua crença na própria onisciência e na estupidez alheia. Por exemplo, num de seus discursos sobre o "State of the Union" (a prestação anual de contas do presidente ao Congresso e ao povo), Bill Clinton afirmou que o superávit nas contas públicas não seria devolvido ao povo, mas seria investido pelo próprio governo, porque as pessoas poderiam "perder" ou "gastar mal" o dinheiro, enquanto o governo o usaria com mais sapiência. Raciocínio semelhante fez o "ministro da fazenda" britânico, Gordon Brown, ao defender uma lei que determina a conversão compulsória dos fundos de pensão em anuidades quando o titular completa 75 anos (uma companhia de seguros passa a pagar-lhe uma soma fixa enquanto ele estiver vivo e embolsa um eventual troco", sem que o sujeito possa retirar todo o dinheiro do fundo ou possa transmiti-lo a seus herdeiros); segundo ele, seria uma irresponsabilidade abolir essa lei, porque as pessoas poderiam retirar todo o dinheiro de uma só vez e "gastá-lo num cruzeiro".



Disfarçada ou não, a mensagem é sempre a mesma: os indivíduos não são capazes de planejar suas próprias vidas e precisam da benevolência estatal para atender a seus "verdadeiros interesses" - impedindo-os de utilizar seus recursos e obrigando-os a utilizá-los de determinada maneira.



Tomemos outro exemplo recente, um pouco mais próximo de nós. Um investimento gigantesco foi feito pelo governo do Rio de Janeiro para purificar a água da praia numa região da capital do Estado e criar uma espécie de "piscinão" para os habitantes do local. Como se trata de região pobre, podemos deduzir que a maior parte do dinheiro para esse investimento veio do dinheiro confiscado dos habitantes de outras regiões da cidade, pessoas que nunca passarão perto do "piscinão". Essa obra foi celebrada por toda a imprensa carioca e é um dos destaques da propaganda política do governador, que pretende obter os votos da população da região.

Eis aí a social-democracia em funcionamento: o governo tomou o dinheiro dos habitantes da região A para beneficiar os habitantes da região B (com a obra) e a si próprio (com os possíveis votos). A imprensa fez o trabalho de justificar essa operação para os habitantes da região A, pretendendo convencê-los (e às vezes até conseguindo!) de que seu dinheiro confiscado foi usado para um fim social relevante e de que eles também têm de ser gratos ao governo por essa dádiva.



O governador certamente acrescentaria que, se ficassem com o próprio dinheiro, os habitantes da região A o usariam para fins mesquinhos e egoístas, e que ele deu lhe uma destinação mais nobre, com o propósito ainda mais nobre ainda de garantir a própria reeleição.



É verdade que os habitantes da região A poderiam usar o próprio dinheiro para fins egoístas, mas também é verdade que eles poderiam usar o próprio dinheiro para fins altruístas. Eles poderiam gastar todo o seu dinheiro em revistas pornográficas, ou em doações para instituições de ajuda a menores carentes; eles poderiam fazer o "cruzeiro" a que se referia Gordon Brown, ou poderiam financiar a fundação de um hospital com assistência médica gratuita; eles poderiam até mesmo financiar a formação de um "piscinão" artificial do outro lado da cidade.



Não temos como saber com certeza o que as pessoas efetivamente fariam com o dinheiro que lhes foi confiscado, e essa é a característica central do capitalismo: nele, cada indivíduo é livre para usar os próprios recursos como preferir, para planejar a própria vida da maneira que julgar melhor, e é essa atuação livre que determina o que será produzido e que formas de cooperação social surgirão - coisas que não podemos determinar e conhecer de antemão; no socialismo, ao contrário, a ordem social é definida e determinada pelo planejamento estatal, e todos estamos sujeitos aos caprichos e às ambições do ditador.



Essa, como diz von Mises, é a escolha fundamental: laissez-faire ou ditadura.”



Fonte: http://oindividuo.com/alvaro/alvaro94.htm





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui