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Humor-->A misteriosa morte de Duran -- 16/03/2007 - 16:56 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A misteriosa morte do vendedor Duran


O propagandista Duran era um homem sério e bem casado. Pai de família exemplar, morava desde menino em Ribeirão Preto, SP, mas quando viajava para lugares distantes dava suas “escapadinhas”. Afinal, ninguém é de ferro. No tempo em que eu e ele fomos representantes, na região chamada “ramal da fome”, hospedávamos por uma semana inteira no Hotel do Comércio, em Ituverava, cidade situada na Alta Mogiana —nos limites de São Paulo com o Triângulo Mineiro. O que nos separava de Minas era apenas o Rio Grande e um infindável canavial.
Nesse tempo não havia motéis como atualmente, mas a região era cercada por providenciais e imensos campos verdes onde tudo se realizava. Por outro lado, dali até Uberaba era um pulo e todo mundo sabia que a cidade mineira era um celeiro de belas e animadas mulheres. À noite, após o jantar, ficávamos proseando na porta do hotel até tarde. Alguns colegas desapareciam e só voltavam altas horas. Os malandros tinham ido dar as suas “escapadas” e chegavam disfarçando, dando mil desculpas. Mas todo mundo já sabia que o que tinham ido fazer era motel em Uberaba ou “Canavial...” Mas, numa certa noite a casa caiu, o mundo desabou. A Georgina, uma bonita enfermeira da Clínica São Camilo, desceu desesperada de um táxi na frente do hotel e gritou: “Socorro!... O Duran morreu!... Ajudem-me a buscá-lo. Ele está morto lá no canavial!...”
A adrenalina foi geral, tremeram e branquearam-se lábios, galoparam corações. Foi um desatino geral, o mundo se partira em dois. Antes de pensarmos no pobre Duran, morto no meio do canavial, cada qual pensou na terrível hipótese de o fato poder ter acontecido com qualquer um de nós, afinal ali ninguém era santo. Deus que no livrasse de uma desgraça daquelas. Felizmente, naquela semana, estava hospedado conosco um sujeito legal, de nome Manchinha, também chamado de “Cavalo de Índio” devido a um vitiligo severo e extenso que exibia. O Manchinha trabalhava no Usafarma havia muito tempo e era compadre do Duran. Por ser o mais antigo propagandista da região, era velho amigo do melhor médico da cidade, o doutor Arquibaldo, também prefeito da cidade pela quinta vez. O Manchinha foi até a ele e pediu ajuda, contou toda a história e acertou tudo. Em seguida, botaram a apavorada “viúva” Georgina no carro, arrebanharam mais uns dois ou três colegas corajosos e foram buscar o corpo do sem-vergonha do falecido Duran.
No meio do imenso canavial, sob um luar prateado, muito claro (ô cena triste!), o nosso querido colega estava realmente morto. Seminu, gordinho como um bebê de sabonete, ele dormia para sempre no banco de trás do seu velho e empoeirado fusquinha amarelo. Auto-suficiente, inimputável como um passarinho, Duran curtia o seu comecinho de eternidade. Já não lhe importava mais nada, nem que a sua velha esposa soubesse, nem que os seus filhos soubessem ou que a sua cidade inteira soubesse.
Acho que teve muita gente que ficou com inveja do Duran naquele momento. Eu vi e posso contar, havia um aparente e irônico sorriso no rosto do morto. Era como se ele tivesse feito tudo de propósito —uma grande sacanagem com todos nós. No hospital tudo já tinha sido combinado e arranjado pelo Manchinha com o seu amigo, o doutor Arquibaldo. Enquanto o corpo do Duran era levado para lá, o médico atestava que a vítima tivera um enfarte fulminante.
Mas, para todos os efeitos, para quem no futuro perguntasse, o acidente vascular do vendedor ocorrera enquanto ele calculava os pedidos na triste solidão do seu quarto de hotel. Pobre Duran, pobre viúva do vendedor Duran.







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