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Artigos-->Chove dentro da Poesia... -- 23/06/2001 - 22:26 (Maria José Limeira Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Chove dentro da Poesia...



Quando vejo os Poetas preocupados com rimas, estrofes e número de sílabas, tentando enquadrar-se nesta ou noutra escola, penso nos escritores geniais que perseguiram o futuro para se realizarem como pessoas e artistas.



Tem deles que continuam essa admirável busca até hoje.



A eles, não interessam as agruras do ambiente, os percalços das sílabas e imposições de pretensas escolas literárias.



Pois estão pairando acima das querelas menores e enroscando-se na palavra como fonte inesgotável de comunicação, que os guardará na História através dos tempos.



Expressam-se em ensaios, contos e poemas, sem se importarem com prévias classificações, pois entendem que tudo é Poesia...



E o que é a Poesia, que usam como elo entre os humanos e o mundo que nos rodeia?



Mais do que versos e prosa, Poesia é Leveza, Exatidão, Visibilidade, Multiplicidade e Consistência.







É Leveza no sentido da pena solta de um pássaro, a qual voa acima das contradições, e só pode ser pesada em balança de precisão, manipulável apenas por uns poucos profissionais qualificados.



Exemplo de Leveza na Poesia:







Feitos de pernas longas de tarântulas



São os raios das rodas do seu carro;



De asas de gafanhotos, a coberta;



As rédeas são de teia de uma aranha



De úmidos raios de luar, o arreio;



De osso de grilo, o cabo do chicote



E o rebenque de um fio de cabelo.



(William Shakespeare)







A Rapidez é a maior contravenção da literatura, inicialmente registrada no conto oral, que passou de geração a geração. Ela comunica transgredindo as regras do tempo. Tanto que a primeira linha era ontem, na segunda é hoje e o futuro já era. O tema que interessa não é a velocidade física, mas a relação entre o físico e o mental.



Exemplo de Rapidez no texto:







Piscar de olhos, pensamento humano, asa de anjo: que seria bastante para interpor-se entre a pergunta e a resposta, separando uma da outra? A luz não é mais instantânea em seguir seus próprios rastros do que era o nosso avanço inexorável sobre a caleche que se esforçava em se esquivar.



(Thomas De Quincey – A mala postal inglesa)







Todo texto que se reconheça como obra de arte tem que ter Exatidão. Tudo precisa estar no devido lugar, sem mais nem menos.



Uma obra, seja de que gênero for, é um projeto bem definido, com evocação de imagens visuais e linguagem:







A poesia é a grande inimiga do acaso, embora sendo ela também filha do acaso e sabendo que este em última instância ganhará a partida. (Ítalo Calvino)







Quando Dante Alighieri escreveu a frase Chove dentro da alta fantasia, trecho belíssimo do seu Purgatório, em A Divina Comédia, não fazia mais do que explicitar a Visibilidade que existe na Poesia. A obra citada baseia-se em visões e, neste sentido, é exemplo universal.



De onde provém as imagens que chovem dentro da fantasia?



Da realidade. Do passado e do presente. Da visão do futuro.



Toda atividade mental humana se processa em torno de imagens.



Mas essas imagens só tomam forma através da linguagem escrita.



Mesmo o filme mais futurista teve como origem o roteiro escrito por alguém. Esse roteiro é fundamental no ato de criação do diretor cinematográfico.



O passado registra autores que tentaram descrever o Nada. Na conseguiram. O Nada não tem imagem, a não ser em função do Tudo.







A Multiplicidade na obra de arte é um tema complexo, que inclui a vida interior do autor e seu conhecimento do mundo.



Existem obras enciclopédicas que os autores escreveram, após exaustantes pesquisas. Algumas ficaram inacabadas, outras se perderam em infinitos detalhes que nunca teriam fim. A maioria foi destruída pelos próprios autores, em conseqüência de compulsão pela qual foram tomados, e só se tem notícias delas através de terceiros.



Mas, uma coisa é certa: ninguém pode abordar o tema viagem espacial sem o mínimo conhecimento sobre o assunto.







O mais incrível em todas as idéias acima é que não são minhas originalmente.



Tomei-as de empréstimo a um autor genial chamado Ítalo Calvino, num livro que me chegou às mãos com quase de vinte anos de atraso: Seis propostas para o Novo Milênio, publicado e distribuído no Brasil pela Editora Companhia das Letras (editora@companhiadasletras.com.br), em tradução de Ivo Barroso.



Calvino era Poeta e Escritor.



Escreveu suas conferências sobre o papel do escritor face ao Novo Século, contidas no citado livro, para apresentá-las na Universidade de Harvard. O que não chegou a fazê-lo, pois a morte o colheu antes, em 1985.



A Consistência, na obra de arte seria o tema que o autor escreveria em Harvard, nos intervalos entre uma e outra conferência. Mas, não teve tempo. Morte súbita o vitimou.



Ele nasceu em Cuba, em 1927, e viveu na Itália, assumindo assim uma formação intelectual européia.



Era membro do Partido Comunista até 1956, tendo participado da resistência ao Fascismo durante a guerra. Sua obra literária é extensa.



O livro citado me parece fundamental para aqueles que pretendem enxergar a Poesia no seu sentido humano e inovador.



©Maria José Limeira

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