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cronicas-->Este texto é uma Jabulani -- 18/10/2010 - 14:46 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não gosto muito de escrever sobre temas de época. Parece oportunismo fazer crónica daquilo que todo mundo debate nas mesas de bar. Além de ser quase impossível achar um àngulo novo para discutir a questão. Se a oportunidade é o futebol, vixe!, aí é um risco dobrado. Devo confessar que havia outro texto no meu Word antes do jogo, quase pronto. Resolvi deixar tudo na gaveta - na pastinha do HD, melhor - e comentar o fracasso do Dunga. Chamem-me de oportunista.
Fiz as contas. Sem considerar a Copa de 1974, na qual eu tinha três aninhos, lembro-me de nove torneios: Argentina, 78, com a goleada inexplicável dos hermanos sobre o Peru; Espanha, 82, que me provocou pesadelos com Paolo Rossi; México, 86, quando vi belos gols de Josimar (que fim levou Josimar?) e também vi Sócrates e Zico errarem cobranças de pênaltis; a Copa de 90 vi tão pouco que nem lembro onde foi, mas sei que o Brasil saiu nas oitavas; em 94, nos States, vi um grupo de retranqueiros ganharem a taça nos pênaltis; não entendi a final de 98; achei que a seleção do Felipão, em 2002, foi a melhor desde aquelas do Telê; em 2006, acho que foi na Alemanha, sofri nada quando perdemos novamente para os franceses; na sexta-feira, vi a Holanda despachar o Brasil e fiquei tão abalado quanto o guarda de trànsito que parece ter me multado porque esqueci de colocar o cinto de segurança na volta para a casa, depois do jogo. Cinto pouco e sinto muito.
No saldo: em nove chances, vi apenas dois títulos da seleção. Até 94, eu, que nasci em 1971, não tinha assistido a nenhum capitão de amarelo levantando uma taça de mundial, exceto em tapes de 58, 62 e 70. Sou calejado: vi o Brasil perder mais que ganhar. Em termos proporcionais, tenho mais experiência em derrotas em Copas do que quem nasceu na década de 50. E não fico triste por isso. A experiência ameniza o impacto das derrocadas e permite que os êxitos sejam colocados no lugar certo: o lugar do provisório.
Provisório. Circunstancial. As bandeiras no meu carro, as quais já foram retiradas, eram apenas diversão passageira, brincadeira de criança. Não eram símbolos do meu amor à pátria de chuteiras. Acho até que a pátria deveria usar Kichutes... Não vejo a menor relação entre a seleção e a pátria. Meu respeito pela bandeira, pelo hino, pelo brasão, e por tudo o mais que represente a tal pátria, é, também, muito provisório. E circunstancial. Se o Brasil entrasse numa guerra, não sei se pegaria em armas pela pátria. Que é a pátria? Conceito provisório. As pátrias mudam com o tempo. Muitas somem. Outras nascem. Numa guerra, talvez apenas pegasse no teclado. Tudo iria depender das circunstàncias. Em princípio, prefiro a paz, algo fácil de preferir quando não se tem uma guerra em curso. Talvez mudasse de ideia se um soldado estrangeiro invadisse minha praia ou interrompesse meu sossego. Talvez jogasse o teclado nos cornos dele ou chamasse o Dunga e sua coerência de guerreiro sem guerra.
Perdemos mais uma Copa? Eu não. Quem perdeu o jogo na sexta não fui eu. Eu não convoquei os brameiros, não penso que futebol é guerra, não gosto do jeito que o Brasil jogou e não acho que bater bola é algo além de brincadeira com o imponderável. Quem perdeu o jogo foi o time do Dunga. Como já perderam os times do Coutinho, do Telê, do Lazaroni, do Zagalo, do Parreira. Ainda assim, eu torci pelo Brasil, torcerei outra vez em 2014. Como torço para que o mundo não acabe em 2012. Como torço para que o Corinthians seja campeão de tudo que jogar. Como torço para que faça sol no fim-de-semana, mas não muito que eu sofro com o calor exagerado. Torço, divirto-me, mas sei que tudo isso é provisório. Vantagem da maturidade: saber que esse texto, eu, você, tudo é provisório.
Sou calejado. Quando resolvo escrever sobre futebol, não me arrisco tanto. O máximo que me permito afirmar é isso: uma hora é vitória. Outra é derrota. E os empates são chatos. Deste jeito meio oblíquo, sem tese clara que sustente o texto, talvez eu consiga deixar sugerida minha única certeza sobre a vida: não há símbolo melhor para ela que uma bola sendo chutada. É possível dar um chute em qualquer bola, e esse é o único ato sobre o qual se tem algum controle. Dado o chute... talvez ele passe pelas costas do Romário e entre no canto do goleiro holandês; talvez ela bata na barreira e frustre o Daniel Alves e o rapaz bocudo da mesa atrás da minha; talvez a bola exploda; talvez a Argentina seja campeã. Talvez. O segredo: chute todas as bolas que puder. O resto... é pura Jabulani. Quando não é Tsunami. Passa... (às vezes não passa porque o atacante é fominha!).

Publicitário, professor e diretor do Núcleo Cassiano de Língua Portuguesa. Canta: "minha pátria é minha língua, e eu não tenho pátria, tenho mátria e quero frátria".
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