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cronicas-->Arquivo secreto e imaginário das plantas. -- 18/04/2001 - 15:13 (Bruno Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No início, não havia nada. Talvez um pó de xaxim, ou até mesmo, mais embaixo, algum seixo, tudo sobre o lençol d´água. Eu mesma nem existia. Nasci de uma semente encrustada na terra, não tive pais, portanto sou orfã. Eles nem sequer existiram, tenho porém milhares de irmãs e irmãos. Desde pequena, sentia uma urgência, quase que filosófica, de saber o que é essa luz sobre minha cabeça. E essa água que cai sobre mim, e esse ar entre a água lá de cima. Gostaria de alcançar lá em cima, deve ser tão bonito! Porque esse solo embaixo de mim, pra quê ele serve. Queria poder mergulhar-me nessa água que cai sobre mim. Porque, não consigo mover-me, pra quê sirvo. Queria poder correr por entre esses campos. Antigamente, eu queria mergulhar nessa água, que cai sobre mim, mas agora, sei que ela também molha meus pés. Imagine só, se eu fosse uma campeã de natação, e pudesse afundar-me por esse solo, a nadar nessa água. Eu já quis correr por aí, mas sei que minhas raizes são tão profundas, que servem para prender me ao solo. Quando eu for gigantesca e milenar, alcançarei o céu e toda essa água lá de cima. Tem dias que ela se esconde atrás desse sol lá de cima. E que luz maravilhosa é esse sol. O bom mesmo é o nascimento de um girassol, com aquele calorão, e aquela água caindo do céu. Também gosto daquela nuvens pesadas e cheias de água. Não gosto mesmo, são daquelas esparsas, em dias de pouco vento. Além de taparem o sol, ainda não trazem água alguma. Pois, eu, quando era pequena, queria que a água caísse como um dilúvio para eu poder praticar natação. Olhava ao longe, naquele riacho que passa logo ali, e rezava para que enchesse e transbordasse. Hoje vejo que não é muito bom assim... Quando a água cai em abundància, o solo fica todo encharcado, dificultando minha absorção. Esse solo entre o ar e essa água lá embaixo, servem para fornecer-me o que preciso pra crescer bastande para ficar gigantesca e milenar. Antigamente, eu queria poder voar até lá em cima pra nadar naquelas nuvens. Hoje sei que só os pássaros podem voar, dizem que o homem também, mas eu nunca vi. As nuvens de hoje em dia já não são mais tão cheias de água assim. Já ouvi falar da tal da poluição, ainda não a vi, mas disseram que é implacável e terrível. Algumas nuvens da poluição, dizem que contém até mesmo, a tal da água ácida. Já não sei se queria mais nadar por entre as nuvens. Hoje eu sinto toda minha seiva fluindo em meu tronco, pois antigamente eu não sabia o que era que subia por meu caule. Hoje em dia, além do tronco, tenho outros caules, que um dia serão troncos, aí então, serei gigantesca e milenar. Queria ser uma árvore frutífera! Pra que servem meus arbustos verdes? Hoje sinto toda a absorção do solo, e rezo para que caia água todo ano, mas sem aquela abundància de anos atrás. Antigamente não me contentava com a água fina que caía. Hoje quero-a constante. Já quis ser árvore frutífera, mas sei agora que sou arborífera. Sei também, que meus arbustos não servem diretamente para mim, servem para os homens, de que tanto escuto falar. É que eu, com meus arbustos, produzo oxigênio, vital à sobrevivência dos homens. Gostaria de algum dia, conhecê-los. A paisagem podia mudar de vez em quando, pois desde pequena, me vejo rodeada por esses pastos enormes, aquele velho riacho ao longe, aqueles montes distantes, nada muda, não há variação. Vez em quando, recebo algumas visitas de passarinhos, insetos e algumas criaturas móveis terrestres e quadrúpedes. Serão esses os homens? Creio que não. Ontem mesmo acho que vi alguns homens altíssimos e muito agéis. Pareciam ser um melhoramento das criaturas quadrúpedes, pois além de não terem chifres e serem muito mais velozes, possuiam quatro patas e um corpo com mais patas. Seriam esses os incíveis homens voadores, dos quais já ouvi tanto falar. Como aprenderam a locomover-se com tanta maestria. Podem caminhar em duas patas e logo depois em quatro. Antigamente, eu tinha a necessidade de conhecê-los. Hoje já os vejo tanto, que chego a pensar que eles estragam minha paisagem. Já nem vejo mais o pequeno riacho, acho que somente um pedaçinho dele. Existem em seu lugar apenas as habitações daqueles a quem eu queria tanto conhecer. A paisagem não devia mudar tanto assim, pois agora vejo manadas de criaturas quadrúpedes e com chifres. Antes fossem apenas pequenas habitações, mas agora são galpões enormes. Já não vejo tanto verde nos pastos assim. Os homens passaram a utilizar as criaturas quadúpedes e sem chifres para puxar suas adventos com rodas no lugar das patas. Antigamente, eram as criaturas com chifres que por mim passavam. Agora, são adventos do homem com rodas no lugar das patas, mas que movem-se sem ajuda das criaturas sem chifres. O que seria isso? Os homens abandonaram sua armadura de quarto patas e sem chifres. O que são esses adventos sem vida, que agora cercam a vida dos homens. A paisagem mudou tanto que já nem vejo as criaturas sem chifres, e já nem sei mais se o riacho era sonho ou realidade. Onde foi para aquele riacho, que jazia ao longe. Os galpões do homem, deram lugar a enormes conglomerados habitacionais, cada vez mais altos. O verde tornou-se cada vez mais escasso. O solo, que antes era verde e vermelho também, agora é cinza e amarelo. Sinais luminosos iluminam minha paisagem, que já não é mais tão bela assim. Lembro-me com saudades dos dias de solo verde, céu azul e aberto, com algumas nuvens esparças. Hoje em dia, quase não vejo o sol, muito menos o céu azul, aberto já não era à muito tempo. As nuvens de hoje em dia, são densas e pesadas, não parecem nuvens, são mais fumaça. Seria isso a tão falada poluição? De onde ela vem? Antigamente eu me preocupada com o cinza no chão, agora são as nuvens de mesma coloração que me afligem. Sinto uma sençasão prazeirosa com essa fumaça que sai dos canos de descarga desse adventos maravilhosos do homem. Há tempos atrás, eu fazia fotossíntese para o homem, hoje estou velha, não fiquei gigantesca nem mesmo milenar, e ainda sinto-me inútil. Já não existe mais o sol azul para aquecer minhas folhagens e realizar a fotossíntese. Será essa a minha sina? Que coisa mais terrível foi me acontecer... Estou solitária neste mundo cinza e cheio de fumaça. Já fui simpatizante por ele... Hoje em dia, sinto que toda essa fumaça, me faz mal, mas acho que não consigo viver sem ela. Adequei-me a essa situação, por não encontrar saída alguma. Hoje, vejo-me sem nehuma alternativa, a não ser corromper-me a esse mundo acinzentado, em que vivo. De quem foi a culpa desta minha sina? Fui eu, a causadora deste desastre ecológico em que vivo? Foi o homem? Sinto-me invadida, desrespeitada, irada. Sobre meus pés, onde tinha um solo macio e fértil, foram plantadas placas de cimento e concreto. Foi uma mudança e tanto, para que havia pedido apenas, uma pequena diferenciação na paisagem. Já não reconheço mais nada, e o riacho mesmo sumiu. Eu não queria isso, não me peerguntaram nada. Apenas mudaram tudo sem consultar-me. Podaram minhas raízes de crescerem livremente. Posso até sentir os encanamentos dos conglomerados habitacionais do homem. Posso sentir as placas de concreto sobre minhas raizes. Algum dia, elas vão crescer tanto, e liberar-me desse solo infértil e maciço, arrancando também aqueles encanamentos que já alcancei. Já fui conformada com essa vida no meio desse pasto de pedra. Hoje em dia sobrevivo como posso, já que minhas folhagens não recebem luz para crescer mais ainda, cresço em raiz. Ontem mesmo, consegui livrar-me desse solo cinza e duro. Minhas forte raizes, alcançaram o ar livre, mas de nada adiantou. De tanto que cresceram, prenderam-me mais sob esse solo. E eu que queria que minhas raizes crescessem até livrar-me desta prisão. Acabei por isolar-me mais ainda nesta sina. Outro dia minhas raizes enroscaram-se nos encanamentos dos conglomerados. Nunca vi tantos homens motorizados colidirem em tamanha proporção. Nunca vi tanta água descer pelas pistas de solo cinza e maciço. Nunca vi tantas luzes iluminando a paisagem. Nunca vi tantos homens juntos de uma só vez. Eram tantos, e todos eles prostaram-se à minha volta num abraço caloroso. E eu que sentia tamanha raiva dos homens, fui pega de surpresa. Como pode ser? O homem, esse ser capaz de tamanhas atrocidades ser um ser tão amável e caridoso. Desde que conheci os homens, fui objeto de brincadeiras das crianças nos pastos. Muitas subiram em meus galhos, brincaram sob minha sombra, mas nunca havia recebido um abraço tão caloroso. Parece que todas as crianças que já brincaram ao meu tronco um dia, reuniram~se para abraçar-me num momento tão desesperados. O que são aqueles estrondos na erra que eu senti agora a pouco? Por que esses homens brigam? Nunca havia visto tanta violência e insanidade. Um confronto sem igual, de uma multidão enfurecida com outra de armadura armada com bombas e cassetetes. Vejo ao longe cartazes de todos os tipos, em proteção ao verde. Que verde é esse que eu não vejo? Protejam a árvore, diziam eles... Seria de mim, que eles falavam? Proteger de quê? Antigamente, eu queria arrancar o encanamento do solo, destruir o concreto, porém agora, vejo que atitude insenssata e infantil de minha parte. Vejo logo, o porquê de tanta confusão. Querem podar minhas raizes, querem destruir minha insatisfação. O verde sou eu... Engraçado, depois de destruirem todo um pasto verde e belo que jazia por aqui, agora querem protejer-me. Tenho saudades do riacho ao longe, dos montes verdes por onde corria o riacho. Querem manter-me gigantesca e milenar, pois lembro bem que sonhava com isso um dia. Prefiro ser podada à viver em meio a tanto concreto e fumaça. Disseram-me muito mal da poluição, mas não haviam dito, que era sem volta. Sempre achei que um dia, veria o riacho novamente, mas agora vejo, que devem ter acabado com o riacho, anos atrás. Talvez seja isso que querem fazer comigo também. Toda essa aglomeração faz-me sentir mal. Lembro-me de quando era jovem, e sonhava em afundar-me neste solo, para nadar nesse rio que corre embaixo da terra. Essa terra já não é mais a mesma, o riacho nem mais existe, e esse rio que corre sob mim, parece que secou. Já perdi minhas esperanças de afundar nesse rio lá embaixo. Não creio mas em nada, nem mesmo se serei salva por esse exército verde. Amanhã, tudo vai ser diferente... Ontem, eu queria livrar-me desse mundo cinza e duro, e já hoje, tenho a solução para todos os problemas antigos. Tenho não, foi me proporcionado a solução, enfim, aqueles homens, eximem-se de todas as agruras que causaram. Sinto que causei o mal a mim mesma, pela força de meus pensamentos. Pois voltando no tempo, tudo o que desejei um dia, foi por fim acontecendo no outro. Exatamente, numa época diferente, onde o que eu realmente queria, já era outra coisa, com o amadurecimento de minhas idéias. Então, nunca tive meus desejos realizados de verdade. O mal que causei, foram de fato, pelo que desejei no passado. Ontem mesmo desejei que minhas raizes fossem cortadas. Vão cortar-me pelo tronco, arrancar-me pela raiz, que tanto danifica o concreto e a encanação deste conglomerado urbano, ao qual fui imposta. O exército verde já não pode mais fazer coisa alguma, meus opressores, enfim parecem triunfar. Sinto um instrumento metálico penetrando em meu tronco, interrompendo a seiva bruta que subia pela minha casca. Sinto-me pender par o lado, já não sinto o rio lá embaixo, ou mesmo o solo sob mim. Me lembro bem do riacho agora, dos montes verdes, e do vasto pasto. O sol que já não iluminava tanto, apagou-se de vez. Meu céu escureceu-se, podaram-me na raiz. Cai como o gigante Golias, tombando após uma grande batalha. Meu destino mais uma vez foi cruel em suas demonstrações. Mudando radicalmente minha paisagem, tirando a vida e por fim tornando-me gigante e milenar. No início não havia nada. Talvez o concreto rachado, e ainda algum tronco velho e seco, irremediavelmente podado, cortado e arrancado pela raiz. Olhando para tráz, recordo-me dos prazeres de minha vida. Pelo pouco tempo que passei aqui, pode se dizer que estive sempre presnte na vida dos homens. Mesmo quando não os conhecia, já queria ser árvore frutífera, e mesmo assim reciclava o oxigênio que me chegava em forma de gás carbónico. Assisti o crescimento desses homens incríveis e suas máquinas maravilhosas. Percebi minúsculas mudanças de tempos em tempos. Presenciei o apogeu da última raça de criaturas deste planeta, onde existia tanta água. O lençol d´água embaixo de mim parece não existir mais. Sinto em minhas raízes, o ar puro que sempre desejei. Agora enfim, posso correr longas distàncias a bordo desta máquina maravilhosa, e conhecer outras maravilhas, nas mais diferentes formas. Queria ser um carrinho de rolimam. Hoje dia, os homem usam o alumínio e rodas de poliuretano, foram-se os tempos das rodinhas de rolimam, com seus assentos de madeira. Pois é isso que sou; madeira; seca, ríspida e imóvel. Espero Ter um tratamento especial pelo bem que causei. Quero ser bem envernizada, lustrada e encerada. Mas hoje nada mais importa. Quero apenas estar contente com o dia de hoje, e apesar de todas as coisas que já quis, tenho a certeza que agora quando me deito, não quero mais nada. Quero sonhar sossegadamente, sem a deslumbrante paisagem do riacho, nem o oprimente conglomerado urbano. Não sinto saudades das luzes da avenida, seus automóveis, encanamentos e concreto rachado. Nem mesmo dos verdes pastos, o riacho que descia daquele monte lá longe, e até as criaturas móveis, terrestres e quadúpedes, alguns tinham chifres, outros não. Lembro-me da poluição e sua cor cinza, mas não tenho saudades de nada. Já não quero mais nada.....
_ Por nada...
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