APÓS UMA NOITE INTEIRA, SONHANDO COM A MULHER AMADA.
Acordei mais cedo. Do morro descia, ou subia, uma névoa espessa e muito branca. Inicialmente pensei que estava dormindo ainda, depois descobri que um inexplicável fenômeno tinha me transformado em um ser absolutamente invisível. Sentei numa das cadeiras da cozinha e calculei todas as vantagens e desvantagens, todas as possibilidades de ser totalmente invisível. Do que mais gostei foi que poderia entrar no dormitório da Nicole e, quando ela estivesse adormecida, fazer-lhe o amor até o cansaço. Seria maravilhoso. Quando ela acordasse, pensaria que tudo não passava de um sonho e, pelo seu olhar, eu poderia perceber sua reação: pesadelo ou sonho erótico.
Uma das desvantagens seria freqüentar restaurantes. Os garçons não atenderiam a meus chamados por mais que eu gritasse ou esperneasse. Porém, já era algo que acontecia normalmente.
Saí ao jardim e, como se estivesse dentro de um programa de computador, com o dedo indicador troquei a cor da grama. Tocava-a, pensava uma cor e pronto! Azul, vermelho, amarelo, branco, alaranjado.
Abri os braços e percebi que podia voar. Como sou um pouco inábil para certas coisas, quase atropelei um helicóptero e, sem querer, bati num anjo que, um pouco aturdido, caiu de cabeça num lago fedorento e sujo.
Lá de cima, a quase cinco quilômetros de distancia, as coisas parecem diferentes e senti um pouco de medo. Quando voltei a terra firme, instantaneamente recuperei meu corpo, minha matéria, e surpreso vi que estava só de cuecas e meias. Nicole, que nunca me deu um segundo de atenção, olhou para mim e sorriu. Ela abriu um sorriso do tamanho do mundo, um sol magnífico y doce que me deixou profundamente perturbado. Sorri, acenei com a cabeça sem muita segurança e desci pela rua, ouvindo as gargalhadas de suas amigas e amigos.
Então já não tive certeza de nada. Já não soube se estava acordado ou sonhando, se estava louco ou não, vivo ou morto, neste mundo o em outro qualquer.
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