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Poesias-->dESPETALIZAR / pOLINIZAR -- 08/10/2001 - 07:34 (Daniel Veiga) |
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despetalizar
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Com a frescura extinguida
num orvalho de ressaca
a pele absorve resignada
a carícia condescendente
dos raios do verdadeiro,
agora sim, verdadeiro sol.
E já não sou sombra,
sou silhueta carnal,
espectro palpável de moléculas,
interagente químico
num ecossistema social.
Não és dona da luz,
«nunca o silêncio, essa flor rara»
fertilizou a frieza
da nossa rocha-mãe.
Não nos chegámos a conhecer,
como estranhos que se cruzam
em comboios parados
apontados em sentidos opostos,
despedimo-nos com o olhar
sem desperdiçar o calor
das palavras.
Adeus...
(..)
polinizar
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Como o pó desintegrado
num bocejo do ar,
diluo-me na noite
entre gritos de incontida
alcoolizada alegria
embalando-me só.
E estou só no meio do som,
sinto-me meio
e no meio
do abandono
com discreta lucidez.
Não deixo que a Lua
seja antípoda da vida
e transformo o luar
em mel prateado.
Só quero crescer
tal como uma flor
que se ergue minúscula
por entre o verde atroz
de uma floresta tropical
num gesto condenado
à nascença.
Aqui vou... |
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