Sei que nossa profissão anda desvalorizada.
Principalmente, por quem mais deveria prezá-la:
a “casta política” que passou pelas mãos do professor,
com raras exceções
como o nosso egrégio presidente
que conseguiu chegar ao topo sem os estudos progressivos,
que qualquer cidadão que se preze tem de cumprir.
Mas isso não vem ao caso.
Quero dizer-lhe de quão grata é a nossa profissão
à qual resolveram chamar de “sacerdócio”,
talvez por ser tão mal remunerada.
Isso também não vem ao caso.
Quando optamos por ser professores sabíamos do salário,
que nunca sobe, só desce.
O que importa são as quatro paredes de uma sala-de-aula
onde a gente se identifica
com aquelas quarenta e cinco carinhas,
de todas as idades, de todas as cores, de todas as surpresas,
a esperar por alguma novidade vinda de nossa boca abençoada.
Ah... Que satisfação... Ao olhar no olho do aluno
e ver aquela expressão satisfeita de estar aprendendo algo que nunca lhe contaram; de fazer do seu “falar rotineiro” um tema.
E de ver que ele próprio é de alguma importância,
além do cimento mexido ou do lixo que cata durante o dia para sobreviver.
Sim... Falo de minha experiência, de muitos anos, com o supletivo noturno,
onde ouvi por estes dias da boca de um aluno mais velho do que eu, e que não consegue sair da primeira série há três anos:
“- Fessora... Eu sei que não consigo aprender muito... Sou aposentado da comlurb, não me casei porque ninguém me quis; éramos somente eu e minha velha mãe, que morreu há três meses...
Se me tirarem da escola, perderei a razão de viver...”
Perdoe, amigo professor, se interrompo aqui o meu relato.
Não há mais o que dizer. Há?!