Participei quase intensamente da cerimónia religiosa do casamento do meu filho. Oficiada por um frade cuja ordem desconheço, seguiu regularmente com seus ritos complementados pelos passos um tanto pueris do Buffet, capitaneados por moçoilas simpáticas. Ocorreu em Olinda, onde a tradição religiosa dita normas, ainda que não abalem a solidez de um Estado laico e se preservem até hoje, na época do chip, do transistor e da fibra ótica, num respeito quase submisso e irracional sob o comando da igreja católica. O casamento religioso é uma tradição inócua, porque não sanciona nem resolve o conflito que poderá desembocar num divórcio, por exemplo. Mas está aí faz séculos.
Minha participação limitou-se a uma peça de blues especialmente escrita para o evento com o desempenho violonístico competente do infeliz rubro-negro Juarez Duarte; (que deve estar pra lá de puto nas calças com a derrota pro santinha nesse domingo 03 de abril, inesquecível). E o fiz com prazer e honra.
Há de se ressaltar que não trato o futebol como os cristãos tratam a liturgia católica. Ela até que me parece folclórica e secular demais, embora não me comova por razões que exponho mais adiante. O primeiro exemplo se ajusta por oportuno, no que ela esposa, teoriza, contempla e no que o ministro que a executa não consegue acrescentar como contribuição prática, alguns minutos depois do ato consumado. Explicando melhor, um religioso, sem absolutamente nenhuma experiência de casar, morar conjugalmente e produzir filhos - ao menos oficialmente - não deveria deitar regras e se imiscuir na vida cotidiana de um casal, mesmo porque não o conhece nem tem autoridade para admoestar ou censurar o hábito de "apreciar cachaça" do noivo (sic). Brincadeirinha de mau-gosto. Afinal, quem transformou água em vinho não fomos nós, meros mortais, mas o líder principal da igreja católica que, para dar o bom exemplo, poderia ter, do alto de sua imanência, convencido o dono da boda a não servir mais vinho.
A tradição pouco convence, mormente porque se unge na contradição a qual não se importa em reconhecer. Outro dia, numa dessas minhas investidas, ouvi como argumento de um suposto crente que o vinho servido descrito no novo testamento, não continha álcool. Bobo argumento e bastante idiossincrático. Não fica claro no texto bíblico se o vinho é sem álcool, posto que pudesse ser citado apenas como uma exceção, já que o vinho é muito mais antigo do que os textos ditos sagrados dos monoteísmos.
Quanto à festa em si mesma, foi muito divertida, culminando com um bom "vassourinhas" tocado por uma "fração" de banda, por jovens que abraçaram a música, ao invés de outros tipos de drogas mais inebriantes e prejudiciais á vida.
Jamais cantei uma peça simples de minha alçada, com tanto entusiasmo e ardor. Isso porque, friso bem num dos tercetos: "o amor é que é o sim, princípio, meio e fim de nossa existência". Como Laplace - mal me comparando - não precisei de hipóteses sobrenaturais, para musicalizar a beleza de uma relação amorosa e a responsabilidade que lhe envolve como base inequívoca à busca de uma união feliz e duradoura. Longa vida de casados à Isabela Fabrício e Rodrigo Carvalho Silva.