Usina de Letras
Usina de Letras
154 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62178 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50582)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->MISSÃO SUICIDA -- 16/04/2011 - 10:04 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



MISSÃO SUICIDA*

Súbito assomou-se-lhe um tédio. Como nunca dantes. Já havia tentado de tudo. Dilúvios, tsunamis, terremotos, queimadas. Talvez por vingança e falta do que fazer, extinguira espécies, começando por criaturas gigantescas que, por excesso de imaginação, teria criado. Cidades destruídas, sodomas, gomorras, maledicências, pestes, pragas de insetos. Fora fácil, retirar do saco de punições, um meteoro qualquer e projetá-lo para o próximo planeta, mesquinho, a Terra. E não teria sido de primeiro turno.
Dessa vez, a bordo desse tédio, macro timidamente, ressentido com as últimas façanhas humanas, o egoísmo brotado no seio das famílias, a inveja eclodida nos lares e lugares, a luxúria surgida nos banhos públicos e a corrupção praticada nas assembléias de parlamentares.
Certamente, se houvesse usado um pouco de bom senso, ponderaria à luz dos seus seguidores, prosélitos humildes e humilhados, como soeu criar no gênesis, para serem eles exemplares submissos e cabisbaixos.
Mas há porque basear sua provável ira secular, na ganància das gentes e na crença exaltada nos dinheiros, a falsa moeda do desamor e da injustiça social, conforme seu vislumbre divinal.
Não pensou duas vezes. Como pai imanente e perpétuo, usaria de poderes aconstitucionais, mesmo porque é Ele a personificação da lei, o factótum onipotente, onisciente e onipresente.
Nem haveria necessidade de consulta a ninguém, posto que inconsultável, insuspeito em sua capacidade de decisão, ciberneta eterno e inamovível e indelegável per onmia.
Para concluir sua tarefa, das tantas que a priori vem perpetrando, teria apenas que escolher um lugar. Não poderia ser nalgum sítio muito distante, reconhecidamente de difícil acesso, em montanhas geladas e inóspitas, em veredas implausíveis e recónditas.
E assim o fez, num piscar d´olhos, sim, posto que antropomórfico, um travesti polivalente e incompreensível aos olhos humanos e mortais.
Aleatoriamente, num oriente distante, mas não tanto que não pudesse haver antagonistas, enviou parte de si para a grande missão, justo na pessoa de um filho, único, dito amado, maior que os tempos, quase inumano, mas que reinaria sem ser rei e deitaria máximas metafóricas, sem ser sábio e profetizaria a própria morte, sem ser mortal, mas ressurreto. (É que nessa época, o desfibrilador ainda não fora inventado, pois não havia Ciência alguma).
Planejara tintim por tintim a empreitada. Dera nome ao local do julgamento, da sentença e da execução da pena, por crucificação.
E fez ver aos seus contemporàneos que ele seria o outro e vice-versa, um tanto difícil de entender, mas, contraditoriamente fácil de aceitar.
E tudo ocorreu como previsto: açoites, humilhações, resignação e perplexidade. Fora tão esperto que colocara na boca do filho, algo como uma surpresa: "porque me abandonaste pai?". E, melhor, numa língua morta.
De tal modo que, lenda ou não, a instituição maior, criou uma espécie de jurisprudência, jurispotência, jurisonisciência ao lado da compulsoridade atávica de se crer nisso tudo.
E a instituição, a seu bel-prazer, sem consulta ou argumentos racionais, espalhou o "fato", que, se ocorrido ou não, ainda hoje perdura, mas com a ressalva sutil e pouco divulgada de "a sexta-feira da missão suicida".
__________________________________________________
*inspirado em: "A verdadeira história do paraíso" de Millór Fernandes.


WALTER DA SILVA
Camaragibe, 16.04.2011
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui