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Artigos-->MODERAÇÃO -- 07/07/2003 - 11:43 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estava à-toa, naquela noite quente, do primeiro domingo do mês. A praça movimentada, continha aquele povo todo que, duma forma ou de outra, procurava distração. Encostado sob a marquise do banco do Brasil, eu aguardava quem quer que fosse para que, com as interações, as tensões da hora se dissipassem.



De repente, na esquina, lá adiante, surgiu o meu velho chapa, já conhecido doutros carnavais. Ele vinha dos tempos em que dar um giro na zona significava muita excitação e canseira produtora dos bons sonos. Ele era o Kol da Mumunha, um dos últimos, porém legítimos, safardanas galhofeiros e desavergonhados, remanescentes dos saudosos anos dourados. Seu figurino básico compunha-se, ainda, pela indefectível calça branca, boca-de-sino, e camisa bege com mangas compridas, dobradas no antebraço. Os sapatos, como de todos os bons malandréus, sempre foram brancos.



A gênese do design remontava à época áurea e esplendorosa da Jovem Guarda, quando Roberto e Erasmo Carlos, eram ainda imberbes.



As boas recordações, que lhe proporcionavam aqueles trajes, faziam com que ele não mudasse nunca o estilo.



Caminhava com a ginga de marinheiro, bambaleando o corpo. Diziam, os maus beiços pequenos, que enrolava no bimbo um lenço, a fim de aumentar-lhe o volume, para impressionar as parceiras. E lá vinha ele: desviava-se dos que iam na sua direção como Ronaldinho "Fenômeno", esquivava-se dos zagueiros turcos, naquele jogo fodido da copa do mundo de 2002.



Achegou-se e mandou o seu "E daí véio?", sem fixar-me nos olhos. Respondí-lhe que estava tudo bem. A novidade é que haveria um baile de cocotas, logo depois das dez, no Clube Sargento Barbosa. Ele indagou quem da turma iria. Repliquei afirmando que ninguém sabia do baile. Consultando o relógio de pulso que trazia no bolso disse: "Faltam quinze pras dez. Você vai?". Bem, fazer o quê, não é? Haveria outra alternativa, para dissipar as forças da agripnia, que não fosse aquela do bate-coxa agitado?



Com o ingresso na mão e, na fila aguardando a vêz, notei que os que atingiam o átrio eram revistados pelos seguranças, enormes, vestidos de preto e que traziam rádio comunicadores, cujos microfones vinham fixos defronte suas bocas.



Quando entramos no salão, de longe, avistamos aquela mesa estrategicamente muito bem localizada. Dirigimo-nos à ela.



Ao nos sentarmos, Kol indignado, contou-me o que vinha presenciando no seu dia a dia. Ele narrava que algumas pessoas, completamente desorientadas, e neurotizadas, convenientemente protegidas por seus carros velozes, agrediam aos semelhantes pedestres dirigindo-lhes ofensas e morisquetas. Perpetradas as violências verbais fugiam "queimando os pneus". "Seriam os sinais dos tempos?", indagou estalando os dedos e chamando o garçom.



Quando a orquestra iniciou os primeiros acordes, surgiram, assim como que do nada, dois casais alegres. Sem ter onde sentar, por causa da lotação, pediram-nos licença e arrastaram as cadeiras remanescentes da nossa mesa. Ocuparam o cantinho logo à esquerda.



Os casais solicitaram cerveja. O maestro atacava com Glenn Miller e nós conversávamos amenidades.



Depois da meia noite uma das mulheres, a Luísa Fernanda, do grupo vizinho, derrubou ao solo sua bolsinha recheada com moedinhas de vinte e cinco e cinqüenta centavos. Ela abaixou-se para apanha-la. No mesmo instante seu par, conhecido na paróquia como "Célio o fogoso", também se inclinou. Foi inevitável o choque das cabeças.



O incidente não teria maiores conseqüências se não houvesse ocorrido um pequeno detalhe: no embate das cucas, as dentaduras dos enamorados foram expelidas das suas bases, perdendo-se debaixo das cadeiras. Comoção geral, adstringente e rubificante.



Célio o enamorado fogoso, inebriado pelos efeitos do álcool, tateando, então o solo empoeirado, conseguiu apanhar as cremalheiras úmidas, numa só mão. Ruborizados, e cegos pela vergonheira, pegaram, cada um deles, a sua prótese. Numa sincronia rara levaram-nas às bocas respectivas, na tentativa frustrada de encaixa-las.



Mas, oh pai! Que vexame! As peças estavam trocadas. A que era de um, estava na boca da outra. A que era da outra, estava na boca do um.

E a baba baby? E a baba?



Kol da Mumunha, que até aquele momento estava alheio à cena, prosseguindo no seu assunto inicial, dizia-me que numa noite, de raro calor, um grupinho gritara-lhe ao passar com o carrão: "Troque o tambor pelo computador". Toquei-lhe no braço indicando, com a cabeça, o grupo vizinho complicado. O queixo do Kol, ao ver a cena, arriou.



Saindo então do embaraço e levando a situação na brincadeira o namorado, embaciado,tomou nas pontas dos dedos, da mão esquerda, as peças dentadas e introduziu-as no copo de pinga. Agitou-as lá dentro fazendo saltar respingos da bebida e o tilintar do copo.



Maneando a cabeça e expelindo muxoxos, Kol, quebrantado, ruiu na cadeira. O som meloso e arrastado da orquestra indicava já o fim da festa. Levantamo-nos com as cabeças cheias.



Na praça central deserta, o sereno frio da madrugada envolvia os retirantes naquela névoa fresca. Kol resmungava desalentado: "Paz, eu quero paz!".



A segunda-feira não seria, com certeza, um bom dia.



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