Usina de Letras
Usina de Letras
175 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62178 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50582)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (4) -- 02/06/2011 - 14:46 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (4)

Virou moda falar-se errado. Com o agravante de que funciona como um vírus: até os que podem falar certo, se contaminam com a maioria. Cito esse exemplo porque presenciei um cidadão fretista de uma distribuidora, que a me ver censurá-lo porque falou "vi", de imediato disparou: "ouviu"?
Ele me alegou que o costume é que leva a isso. Não me arvoro a dizer que sou um "Demóstenes" no falar ou no escrever, mas faço o possível pra não dizer: "pra mim fazer", "fulana é meia gorda", "os pessoal souberam". Sei que não falamos melhor esta língua "última flor do Lácio inculta e bela", porque ela é tão difícil quanto o árabe e menos complicada do que o mandarim.
E o pior nisso tudo é que, quando eu era jovem fazia tudo pra não pronunciar errado, porque quando o fazia e alguém me consertava, rapidamente agradecia, posto que "dona" Zezé assim me ensinara.
Curioso é que conheço uma mulher esguia de olho azul e nível universitário que estranhou quando reparei sua pronúncia errada. Chamei-a brincando de falsa pudica, acentuando a segunda sílaba tónica, paroxítona. A sarará reagiu incontinenti: "púdica"! Meu corretor gráfico aqui no "burrinho" sublinha o termo em vermelho, consertando-me o erro proparoxítono.
O sudestino e o sulista são useiros e vezeiros em falar errado, com pose de que estão abafando. Já assisti uma vez na tevê a um cidadão que se diz advogado, falando na maior tranquilidade: "diga aí pra mim aprender!" pobre do pronome oblíquo. No Colégio Salesiano, apesar do ranço católico e as babaquices de alguns padres, meu professor de português, dava-se o luxo de lecionar matemática e espanhol. Era sem dúvida um intelectual, o nobre Sá Barreto, em seu corpanzil avantajado, seu andar vagaroso e sua generosidade ao nos incentivar a ler Machado.
Sou tido como chato, até pelo meu biógrafo (entendam: ele é quem diz ser meu biógrafo) Roque, um velho amigo de adolescência, cujo cão me mordeu a perna, quando eu vinha de minha lua-de-mel. Mas ele se refere à minha exigência comigo mesmo. Não somos melhores ou nos curamos dos males interiores, caso queiramos falar escorreitamente. Não se refere ao pedantismo de querer dizer palavras que adormecem no dicionário, mas não se paga imposto se se quer proferir com simplicidade os rigores gramaticais.
Outra reação do preguiçoso usuário da língua nativa é contra-argumentar: "você não entendeu?". Certa vez metralhei um interlocutor com a seguinte resposta: "se você em uma prova minha escrever como fala, vai ser difícil ser compreendido". Ele deu de ombros. Um de meus preceptores me disse uma vez que se alguém não ler, muito provavelmente não falará corretamente.
Ao iniciar minha carreira de escrevinhador cibernético, algumas vezes adentrei nesses bate-papos, às vezes apenas pra ganhar tempo e desopilar. Ali se pode constatar o quanto a maioria do internauta escreve errado. Talvez porque essa seja uma resultante do seu pensar. Ademais, ao se ocultar no site, o cidadão ou cidadã estão livres para proferir palavrões e ofender o interlocutor do outro lado da linha.
Esse fenómeno reflete um pouco a preguiça mental e a falta de paciência alegada pela maioria das pessoas quanto ao hábito da leitura. Estou convicto de que os grandes professores de nossa bela e extensa língua brasileira, continuam sendo Machado de Assis e Graciliano Ramos. A profunda análise do humano no primeiro, não se contrasta com o enxugamento do segundo, mas complementa-o.
Quando o amável e fiel leitor se sentir angustiado porventura, leia ou releia a belíssima obra do homem de Quebrangulo, "Angústia". Ali, a gente aprende a ler,a escrever, a pensar e a compreender a profunda crueza da condição humana.
__________________________________________________

WALTER DA SILVA
Camaragibe, 02.06.2011

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui