Se pudermos concordar com William Faulkner por ele não acreditar nem em vocação nem na inspiração e, ainda, se compartilharmos da idéia desse mesmo autor quando afirma que uma certa maneira de ver o mundo é que torna o escritor um deus onipotente, estaremos de acordo que o poeta Antônio Bezerra Neto, em sua obra À Sombra do Claustro, faz uma demonstração dessa possibilidade do olhar.
Sobretudo se faz necessário observar que a poesia de Antônio Bezerra Neto, para além da compreensão daquilo que definimos como belo, se dá no sublime. É dizer que, no referido volume À Sombra do Claustro, o que mais importa não é o domínio de uma técnica – no sentido de um maneirismo estético – mas a capacidade que o autor tem de romper com esses liames que definem a arte do ideal.
À Sombra do Claustro já se afirma ao que veio de imediato pelo título, ou seja, para se ter a idéia de sombra é mister anunciar a presença da luz e, da mesma forma, claustro e liberdade são os dois lados da mesma fé. E é essa dicotomia que norteia toda a obra. Trata-se de uma Odisséia, onde Ulisses quer continuar sua viagem, desafiar-se a si mesmo, ouvir o canto das sereias e conhecer outras plagas, mas em nenhum momento se perde a idéia do retorno, apesar de estar consciente de que jamais voltará ao mesmo. E tampouco voltará o mesmo, não é Penélope?
Assim, o autor desenha Santiago de Cuba, Paris, New York, Teerã e outros lugares. Assim, ele reverencia Nietzsche, Heidegger e Câmara Cascudo, mas tudo isso são pretextos para deixar que a poesia se manifeste, como um fenômeno que não se pode repetir. Pode-se repetir o gesto, mas ele nunca será o mesmo. É como tentar acreditar que as palavras têm sinônimos. Elas não têm, porque nenhum objeto tem dois nomes, pois cada um desses nomes traz em si mesmo os elementos que o torna ímpar.
Na poesia de Antônio Bezerra Neto, apesar de um estilo de linguagem definido, a igualdade é apenas uma aparência, considerando que cada um de seus poemas têm vida própria. É como se o autor tivesse desenvolvido uma técnica antes de escrever cada um deles e, ao fim de cada poema, mesmo mantendo o forno, tivesse rasgado a receita.
Enfim, À Sombra do Claustro revela um arquiteto, pois – além da planta deste monumento poético – o autor define a areia e os tijolos com os quais se faz uma construção. Não se trata de uma poesia concreta, mas de uma poesia que se concretiza.
Wilson Coêlho é poeta, dramaturgo e professor de filosofia e ciência política.
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