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Cronicas-->O cachimbo da vela -- 05/07/2011 - 16:18 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

        Na manhã fria, por mais que acionasse o botão da partida elétrica de minha motocicleta, não conseguia fazê-la funcionar.  Julguei, sempre ingênuo, que a chuva bíblica de ontem à tarde tivesse banhado indevidamente um componente sensível a dilúvios.  Rápida inspeção, percebi que algum espírito de porco com mãos de gatuno roubara o cachimbo da vela.  Para os não iniciados em mecânica básica de veículos: o tal cachimbo nada tem a ver com a lei antitabaco, embora muitas motos por aí fumem. A peça serve para ligar à vela um cabo que leva a energia responsável pela faísca, a qual faz funcionar um motor à combustão. Sem o cachimbo, nada de partida. 
        O transtorno, de fato, é pequeno num furto como esse. Com um estilete e um rolo de fita crepe improvisei uma ligação gambiarrenta que me permitiu dar a partida e levar a moto até uma loja na qual lhe devolveram o cachimbo. O valor do conserto não pagaria um maço de cigarros.  Acontece que, em dias chuvosos propensos a filosofias de boteco, o furto de um cachimbo de vela nos obriga a sondar os motivos que levariam um imbecil a afanar peça de tão pouco valor.   Esse tipo de reflexão descompromissada pode ser transformador. Conclui-se, por exemplo, que há pessoas más, mas há pessoas piores. 
        A primeira razão para roubar um objeto de valor irrisório é a necessidade.  Nesse episódio em questão, uma moto precisava de um cachimbo e, como eu cochilei, foi o meu cachimbo que caiu. Nas mãos erradas. A necessidade não justifica o furto, mas o explica de forma muito satisfatória e faz do ladrão um mau caráter. 
        Outro motivo para o surrupio pode ser o ódio. Alguém me odeia tanto a ponto de tesourar cabos apenas para me aborrecer, embora veja nessa hipótese um pouco de pretensão de minha parte. Não sei se sou alguém com relevo para ser odiado. Caso seja: que beleza! Tenho um inimigo tonto que tenta me atingir cortando fios de minha moto.  Que inimigozinho! Pior que aquele que porventura tenha feito isso para se aproveitar do objeto do furto. Você, ser que talvez me odeie, é uma pessoa má!
        Parasse aí, chegaria à conclusão de que o mundo tem, de fato, habitantes maus. Minha já citada ingenuidade annefrankiana tem dificuldade de enxergar isso e mais para entender que há um ser mais desprezível que os dois supracitados. Esse serzinho está vazio. Não arrancou o cachimbo da vela para usar, sequer para me irritar. Fez isso só por fazer, sem motivo, pois é uma peste desmotivada em todos os sentidos que o prefixo “des” permite vislumbrar.  Fez como faz tudo em sua vida: por fazer. Gente sem porque é gente sem razão. Falta de motivo: uma patologia.
       Ou patologia é perder alguns bons minutos de uma tarde fria escrevendo um tratado geral do furto do cachimbo da vela. Talvez o pior de todos seja eu. Outro talvez:  a chuva pode ter arrancado a cachimbo.  E sem maiores motivos. Chuvas, diferente de gentes, não precisam ter motivo. Chuvas arrancam cachimbo, charuto, cigarro e até cigarrilha.  Seja como for, se o aproveitador, se o inimigo oculto, se o desmotivado ou se a chuva, quem pagou o pato, ou o pito, fui eu. 
       Moral da história: não importa quem rouba o cachimbo, importa quem leva o fumo.

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