TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (5)
Toda utopia é merecedora da excentricidade que carrega. Dito assim parece frase feita ou algum tipo de pedantismo. Mas não é mesmo. A palestra do professor Miguel Nicolelis, da qual participei entusiasmado, tem, inclusive para o leigo como eu, um sabor de inusitado, de estranho. Mas o mundo da ciência, o esforço científico, muitas vezes aparenta ser "loucura" de cientista.
O próprio palestrante, certa vez teria respondido a uma participante, depois de duas outras questões: "sou". Ela perguntara se ele seria candidato a político e ele respondeu lacónica e convictamente: não! Mas no final, já demonstrando sinais de impaciência, a mulher disparou o tiro de misericórdia: "o senhor é louco?"
Foi uma segunda-feira profícua em seu início e final de noite. A experiência de participar de uma exposição lúcida e clara de um produto de pesquisa como aquele, eleva o palestrante à categoria de cientista de ponta, haja vista estar inserido na plêiade de poucos e raros influentes estudiosos contemporàneos. (O livro "MUITO ALÉM DO NOSSO EU" de sua autoria, foi lançado no próprio Teatro Alberto Maranhão, ao final da palestra).
E, consequentemente, adiciona à platéia como um todo, um nível de informação da qual ela não lhe deveria jamais ver subtraído. Atualmente sediado na Universidade Duke, nos Estados Unidos, Nicolelis mantém os pés no chão do conhecimento e, através de analogias simples e um fecundo trabalho laboratorial e multidisciplinar, investiga e utiliza as facetas do universo cerebral, para que sejam postas à disposição do homem contemporàneo, na cura de males como Parkinson e Alzheimer. Claro que Thomas Young já começara tal esforço, em seguida sucedido por Dom Santiago Ramón y Cajal na Espanha que dividira um prêmio Nobel de fisiologia com outro vulto da neurociência, Camillo Golgi, italiano de Pavia, em 1906.
A rigor, a neurociência é bastante recente e é fruto de outras experiências anteriores, que deram alavancamento ao trabalho do professor Nicolelis, nos dias atuais. Durante a palestra, vêem-se desfilar Norbert Wiener, o pai da cibernética, Pavlov, o herói do comportamentismo e, não deveria faltar, Charles Darwin, obviamente.
Quatrocentos anos de ciência, encampam e prometem soterrar de uma vez por todas, as tentativas de querer se provar, debalde, que o ser humano tenha que buscar respostas no sobrenatural.
O mundo real é cruel e incompreendido. A maioria de nós quer que as coisas, por não terem ainda explicação, tenham sido designadas por uma constelação de deuses, eles próprios inventados pelo primata, quando ainda nem sabia o que isso significava.
Esperemos que a academia sueca faça jus a esse trabalho incessante e paciente do cientista brasileiro de São Paulo e hoje cidadão natalense, por adoção do próprio povo nativo.
Aguardemos o pontapé inicial na abertura da Copa do mundo de 2014, em solo brasileiro, quando um paraplégico, monitorado por um robó num lugar remoto do planeta Terra, estará substituindo um atleta profissional.
A contemporaneidade agradece ao Nicolelis e à sua equipe por nos proporcionar uma visão comprovada de que, realmente, nada acontece por acaso.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
06.07.2011
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