Quando servi o ExÉrcito em Brasília fiquei admirado com tanto papagaio. A gente topava com papagaio nos alojamentos, nos banheiros, nas estradas, em toda parte. Eles voavam em bandos faziam algazarra, uma barulheira enorme. Alguns que viviam próximos ao quartel acabavam por assimilar os toques de cornetas. Então, a gente ouvia o dia inteiro os toque falsos de cornetas.
Aos poucos, os paulistas que lá serviam foram pegando filhotes na mata próxima. Construíram poleiros e com o tempo tínhamos uma geração inteira de papagaios adultos.
Mas, como sempre os jovens acabam também aprontando e nada mais natural do que ensinarem aos papagaios a dizerem bobagens. Então, o tempo todo a gente só ouvia besteiras da papagaiada. Eles falavam assim:
-Corupapaco! Reco filha da puta! Corupapaco!
-A mãe do reco tá no pau! - isto era dito pelos sargentos que zangados, diziam ser a bandeira a nossa mãe. E como a bandeira ficava no alto do mastro, os sargentos para nos irritarem diziam que "nossa mãe estava no pau". Não deu outra os papagaios assimilaram e passaram a falar o dia inteiro que "a mãe do reco está no pau".
Outras besteiras foram tambem ensinadas.
Um dia um general americano foi visitar Brasília e esteve em nosso quartel. Nosso coronel determinou que o batalhão se perfilasse, na manhã em que o tal general veio visitar o quartel. Mil e duzentos homens permaneciam em silêncio para ouvirem o Hino Nacional e o Hino do Batalhão da Guarda Presidencial.
Mas, nos intervalos e principalmente na revista da tropa, começaram os gritos da papagaiada:
-Corupaco paco! Reco filha da puta!
-Corupaco paco! A mãe do reco tá no pau!
-Corupaco paco! A muié do coronel é gostosa!
Isto era falado sem interrupção. Ora um papagaio numa companhia, ora outro papagaio noutra companhia.
O nosso coronel amarelou. Principalmente porque o general americano entendia um pouco de português. E havia também muitos generais fazendo parte do cortejo do alto comando.
Dias depois o nosso sub-comandante foi substituído. E a papagaiada foi exterminada.