Usina de Letras
Usina de Letras
175 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62178 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50582)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (6) -- 19/08/2011 - 10:09 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (6)

Nesta semana revi por enésima vez, o GHOSTS OF MISSISSIPPI, um roteiro adaptado mas baseado em fatos reais da história americana do norte. O título em português, pra quem se interessar é FANTASMAS DO PASSADO, e a direção é do respeitado diretor Rob Reiner.
Com foco na diuturna luta dos direitos civis americanos, aborda a história do líder negro Medgard Evers, assassinado em frente de sua própria casa num distante junho de 1963, durante um discurso de John Kennedy, alguns meses antes de ser também justiçado pelas forças do apartheid estadunidense.
O distrito é Hinds County, na cidade de Jackson, estado do Mississippi, outrora palco da grande e cruel bandeira das forças da Klu Klus Klan, notória pelo ódio mortal ao negro. Durante os anos setenta estudei nos Estados Unidos e, silenciosa mas atentamente, pude presenciar de modo velado, um certo ranço racista nas atitudes e olhares transversos de algumas pessoas do cotidiano americano. E jamais ousei generalizar isso.
Com o agravante de estar morando na costa leste, próximo ao berço dos quakers, não levei muito em consideração minha própria condição de mestiço brasileiro, com raízes negras do lado materno e brancas do lado paterno.
Ainda hoje estranho o faz-de-conta nacional quanto ao que se refere a problemática da cor da pele. Curioso é que, alguns negros ainda não se deram conta, quando, ao se identificarem por telefone, admitem talvez por ignorància que são "a moreninha do mercado", a exemplo da moça, bela e orgulho da raça, chamada Nalva.
Esse amorenamento é um eufemismo encontrado em muitos setores, sem querer falar do modo velado e às vezes de mau-gosto quando presencio alguém tratar o negro de forma pejorativa, na base do "ele é negro... mas". O advérbio "mas", exerce no caso um poder especial, um racismo latente, ainda que inconsciente. E a pessoa que assim o fala, parece não se dar conta.
Outro dia, ao ver altas horas da madrugada, por absoluta insónia, o abobamento da tevê aberta, resolvi rir, ao invés de demonstrar raiva, porque sei que essas pessoas, são ignorantes, na acepção da palavra. Não fiz nenhum favor ao IBGE quando me declarei negro, isto porque a moça que me entrevistou, indagou de forma errónea: "qual é sua cor?". Olhei-a com boa vontade e disse a ela que quem tem cor é gente de pele branca, ainda que não seja branco rigorosamente. A etnia, independentemente da cultura não é algo muito fácil de entendimento, para um leigo.
Existe em sua base conceitual características próprias, heranças biológica e cultural. Historicamente, o negro continua nessa luta constante e diuturna para conseguir competir com igualdade com pessoas que se dizem brancas, num país onde a negritude é visível, independentemente de ridículos quocientes intelectuais.
Um branco debochado, rico e influente chamado Begdwith, mata, na calada da noite, o negro influente e destemido, chamado Evers.
Nítida e necessariamente batista, protestante americano, ele, Medgard Evers, dissera uma vez a sua mulher, também negra: "Não sei se vou pro céu ou pro inferno, mas sei que morrerei em Jackson".
E a profecia aconteceu. O assassino, infelizmente branco, porque não analiso a cor da pele, mas o fato inconteste de ser um homem de minha espécie, deita e rola no tribunal que, como cardápio da época, não o iria jogar na jaula, por tão pouco tempo.
No Brasil, gigante pela própria natureza, as gerações se passam e ainda vejo tristemente, que as pessoas continuam eufemizando o "mas", amorenando o negro, cujo papel principal será, de forma ainda que pacífica, dizer, sem medo de retaliação: "sou negro, apenas isso"!
Qualquer dia desses vou me encontrar com Nalva, a bela negra do mercado e dizer-lhe carinhosamente: "Moça, você é o orgulho da raça, não se amorene de graça!"
E espero ser compreendido. Quanto ao Evers, o principal personagem dos fantasmas do passado, foi-lhe feita justiça, somente depois de vinte e cinco anos, com um júri composto por brancos e negros, capitaneados por um promotor branco corajoso e honesto e pela viúva, em princípio, claudicante. Bedgwith foi condenado à prisão perpétua. Na exumação do corpo do Evers, verificou-se que o cadáver estava intato. Quem sabe, por alguma ironia divina.
___________________________________________________________

WALTER DA SILVA
Camaragibe, 19.08.2011

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui