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cronicas-->COMO EU IA DIZENDO -- 24/08/2011 - 05:57 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
COMO EU IA DIZENDO
para PAULO JARDEL CRUZ

PAULO JARDEL carrega uma cruz. Ao supor que no ombro lhe seria leve, moleza, resolveu fazê-lo no nome. Conheço-o faz mais de dez anos, carne e osso, isso porque já ouvira falar da fera. Segundo ele próprio afirma, trata-se de um homem de sorte. É bem provável que o significado de sua sorte, seja diferente da dos outros.
Provavelmente, levando em conta de que nem todos podem ou devem ser como ele, merecedores de uma ventura pessoal proporcional à cruz dos ombros.
Nosso primeiro contato foi durante um período em que eu estava desmotorizado, o que levou algum tempo. Sem muita cerimónia, ainda que sem conhecê-lo bem, cumprimentei-o me apresentando como vizinho da esquerda. Ele, apesar de circunspeto, foi gentil e me aquiesceu na carona. Durante o curto trajeto pude conversar muito pouco, mesmo porque Paulo não é homem de falar além do necessário. Soube depois, contudo, que ele já houvera tentado falar comigo, sobre uma possível parceria num poço artesiano que construíra em sua casa.
Certa vez, ao telefone, cometi minha primeira gafe. Ao lhe ouvir a voz meio rouca, supus, inadvertidamente, que estivesse rouco. Mas foi-me explicado por ele mesmo, que essa rouquice faz parte de ele ser, como eu, um sobrevivente de càncer, em seu caso, nas cordas vocais.
Cruel ironia para um homem que abraçou a comunicação como seu carro-chefe profissional e que, durante tantos anos tem-lhe como principal suporte. Também pude saber recentemente que essa mesma voz que ele quase viu tolhida, lecionou aulas de comunicação no Cecosne, entidade educacional, conhecida anos atrás, como a Casa da madre Escobar. E lá exercera o papel como primeiro professor doutor. (Também eu abracei a comunicação, no início da carreira acadêmica).
Um de seus hobbies, além de criar pássaros é contar piadas. Sendo que algumas delas, apesar do seu lado chulo, leva a vantagem de a gente não mais esquecer. Irónico e meio mordaz, o Paul Walker, como ouso chamá-lo é um cara bem informado e anti-polemista, ao contrário do vizinho.
Temos alguns hábitos em comum, excetuando-se o tabagismo; o gosto pela leitura, pela música erudita e o prazer de conferir que hoje, ainda que meio burgueses, fomos um dia militantes marxista-leninista ele e eu, um jovem trotskista, agora no desencanto.
Mas o cidadão também pode atender pela alcunha de pardal, velho apelido dado pela turma do colegial, quando o professor lhe confundia o Jardel. Suspeito que pouca gente conheça esse detalhe.
Ao contrário de mim, o aniversariante adora dirigir automóveis, por isso mesmo, já possuiu tantos, que os dedos de mãos e pés não podem contar. E quanto a isso, vi-o vibrar uma certa vez, no tempo das caronas, num Passat alemão, veloz e brilhante, elogiando seu motor turbo, numa ultrapassagem.
Ao me parecer comilão, é chegado a uma sobremesa de goiabada cascão, difícil de se encontrar, porque já fui testemunha dessa dificuldade.
Cria uma porção de cães, embora pouco fale sobre eles e mesmo assim, certa vez me haja reparado numa bobagem que eu disse sobre determinada raça.
Prefere o silêncio do lar, acompanhado por uma boa tragada, dessas que não podem ser jamais dissociadas de um forte café Mellita, sua preferência incondicional. Quando comento e gozo com a cara dele sobre o hábito diuturno do cigarro, ele dispara de lá: "por que não deixas de beber uísque?"
E acho que tem lá sua razão de ser, testemunha que sou de sua grande vontade de largar o fumegante cilindro branco.
O dia em que Paulo nasceu, ao menos pra mim, assemelha-se a uma data-emblema; é no aziago mês de agosto, 24 e, salvo erro meu, data em que se comemorou anos atrás, o dia da sogra. Daí que nunca posso me esquecer, posto que a minha era muito boa pessoa e a dele também.
Às vezes meio esquisitão, já deixou claro pra mim e isso respeito até hoje, que não gosta de ser incomodado. Voilá. Afinal, quem como ele, que se recolhe antes das galinhas do quintal, merece uma boa noite de sono. E já às 4 da matina, pode-se ver a luz da sala de estar acesa, caindo-se-lhe muito bem o apelido: Paul Walker, o andarilho assíduo do Oitenta, Camaragibe, Pernambuco.
Tirante o fato de vir me atacar (e sei que é uma de suas brincadeiras mordazes), chamando minha camisa tricolor de ridícula, Paulo Jardel, o alvirrubro, no conjunto da obra é um cara arretado e, se não fosse ele, eu teria ficado sem água, fruto de sua grande hidro-contribuição, nos tempos em que passei sem poço artesiano. Vai fundo pardal, porque você é admirável, principalmente pelo talento de carregar uma cruz no nome desses bem vividos 72 anos. Grande abraço.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe, 24.08.2011





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