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Artigos-->Por que não tínhamos bicicleta -- 16/07/2003 - 12:39 (Lúcio André Paiva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por que não tínhamos bicicleta



TEXTO DE CHICO PINHEIRO extraído de www.flavioventurini.com.br -

Não é meu, mas é bonito...



"Porque não tínhamos bicicleta, a gente jogava bola na rua, bola de meia e bola de gude, bente-altas;pulava o muro da chácara para colher mexerica no pé e chupar jabuticaba. Fabricávamos nosso próprio carrinho de rolimã no quintal e apostávamos corrida de patinete. Sonhávamos com a menina - onde estará agora ? - ela, que morava tão pertinho e ficava tão longe, no fundo daquela varanda grande; ela, de olhos profundamente azuis atrás de óculos tão claros como o sorriso bonito, e de mãos suaves que deixavam nas nossas um cheiro bom de jasmim. Ou seria de dama-da-noite ? Ah... as noites de Belo Horizonte, noites de sonhos densos de cheiros, cores e sons.

Porque não tínhamos bicicleta, sonhamos hoje com um tempo em que éramos felizes, embora não tivéssemos bicicleta. Tínhamos, no entanto, um montão de coisas simples e boas ao alcance das mãos. E os corações repletos. Todas as canções por fazer, todas já compostas na alma... Meu Deus, por que não conseguimos todos traduzir, em sons e poesia, tanta música encerrada desde sempre no fundo de nós ?

Porque não tínhamos bicicleta vivíamos na expectativa do sonho de Natal. Quem sabe viria daquela vez a maravilha reluzente ao sol de dezembro ? Meninos e meninas de roupas novas a pedalar pela rua ainda molhada da chuva que caíra por toda a noite mágica. A gente ainda estava na cama e ouvia conversas de gente grande tomando o café na copa. O sol da manhã de dezembro vazava pela janela fechada. Filtrada pelas venezianas, a luz desenhava tirinhas engraçadas no lençol, pautas prontas para receber as notas, o tempo parado à espera da música necessária. Sim, porque não tínhamos bicicleta e era preciso guardar todo aquele tempo e nossos sonhos em forma de música. Mas ainda há tempo. Sonhos não envelhecem, ensinou o Marcinho Borges e nos lembra Flávio Venturini.

Foi com lembranças desse tempo mágico que me deparei com o título do novo trabalho do Flávio. As memórias pulsam em suas canções, ele, músico já maduro e sempre a nos surpreender com as novidades. Fundada em suas raízes da Serra do Curral-del-Rey, ancorada na vastidão do mar, a música de Flávio traz a modernidade dos sons que ainda semeiam esperança no planeta. Sua música faria bem a qualquer País. "Porque não tínhamos bicicleta" pedala por rítmos variados, das canções e baladas ao reaggae; sem se repetir e sem perder a marca. A harmonia cuidada, a voz que se derrama suave e que dialoga em poesia com o parceiro Milton Nascimento - Bituca querido ; ou com o amigo Caetano sob o "Céu de Santo Amaro". Canto mágico da Bahia de Todos os Santos, onde um dia baixou em terreiro sagrado a memorável Ária do Mestre de Leipzig. J.S.Bach era a companhia de Flávio, imaginem, na festa de Reis, 6 de janeiro de 2.000. A música não lhe saía da cabeça e ao deixar a casa de dona Canô, Flávio Venturini escreveu a letra - talvez a única que terá escrito - que depois seria gravada com Caetano Veloso, arranjo de Wagner Tiso e violão de Torcuato Mariano. Novidade também foi a parceria com o poeta Fernando Brant - "Trator" - que atrai portos seguros.

Havia muito tempo que Flávio não nos dava um disco de canções inéditas. Generoso, não nos traz 12, mas 15 faixas. E lamenta que tantas outras ficaram de fora. Que bom que manteve duas, pelo menos duas canções com o velho parceiro de "Nascente"e "Besame". Murilo Antunes voltou com "Alma de Balada" e "Sonhos e Pedras". Pedras que aparecem na vida do mineiro em várias circunstâncias. Ora no caminho do Poeta -...tinha uma pedra no meio do caminho -, ora nas profundezas da terra marrom escura, mar subterrâneo de Minas, água marinha, Pedra Azul. Que bom que manteve sua melhor porção de Rio, parceria encantada e sempre surpreendente, como da primeira vez em que se vê o mar, Ronaldo Bastos ("Minha Estrela" , "O Melhor do Amor" e a "Luz na Minha Voz" ). Ronaldo é poeta que nos ensina a contemplar "olhos castanhos da cor verde-mel... na beira do mar de estrelas". E ainda tem Toninho Horta, guitarra enfeitiçada; Marcus Vianna, transmutado em sons de teclados, violino, violoncelo e flauta na nos brindar com "Prenda Minha". Luís Carlos Sá, o bom Sá, volta parceiro numa praia baiana,"Garapuá".

Trabalho leve e profundo, música posta no caminho certo. "Trilhos" é a marca e a garantia de uma viagem gostosa para o tempo do sonho, que não envelhece, que fica eternamente menino, como o coração amigo de Flávio Venturini.

E tudo porque não tínhamos bicicleta...



CHICO PINHEIRO



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