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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (8) -- 09/10/2011 - 12:30 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (8)

A morte do tecnólogo-empresário comoveu a muitos, inclusive a mim. Não pelo mérito da morte em si, mas pelo que ela derrama no rastro do processo. Mr. Steve Jobs, de nome familiar laboral, brincava com seus inventos e deles extraía alegria e lucros para si e custos para nós mortais que admiramos essa ludografia contemporànea, consistente em aparelhos digitais.
Não sou muito fã de celulares, como também não sou pelo vidro escuro nos automóveis. Isso se tornou uma tradição-contradição, sob o argumento de que o segundo protege razoavelmente o condutor do veículo e o primeiro de que, em certas enrascadas, salva algumas vidas. Pode ser. Mas que acho brega ambas as invenções, fique ciente o leitor. Todavia, reconheço humildemente a genialidade do seu inventor.
Torço para que o maldito celular não toque e me apanhe a bordo de um coletivo, ónibus ou metró, haja vista porque se ele tocar no carro, sinto-me mais seguro se estacionar. Em casa, sentado a três metros de distància de minha tela digital televisiva, estou mais a cavaleiro para ver um DVD, ou ouvir meu cantor preferido, Mr. Sinatra.
A cibernética, como não queria Norbert Wiener (1894/1964), transformou-se numa espécie de làmina de dois gumes, haja vista seu uso corrente na parafernália bélica. O que não é muito de se estranhar, considerando que os cinco grandes países participantes do Conselho de segurança da ONU, são os mesmos cinco que fabricam adoidados, as armas da guerra moderna. Se o leitor se interessar no assunto, recomendo ver o filme "O Senhor das Armas".
A ciência da informação caminha na velocidade da luz e a ciência social, um tanto atravancada, nos dá a impressão de que estamos ainda pela idade do bronze, época em que se teria inventado as tábuas de Moisés. A afirmação se confirma no caso recente do púbere de dez anos que cometeu suicídio, depois de tentar matar a própria professora. As informações curriculares da desgraçada criança são diametralmente opostas e jamais se creria poder servir de base a atitudes desse porte. Ainda não li nenhum comentário de especialistas psicossociais, embora creia que já o haja pelo país afora.
Nesse aspecto, a cibernética jamais poderia demonstrar sua eficácia, pois que a ciência de Émile Durkheim (1858/1917), pioneiro da sociologia moderna, explica amiúde a trilogia do suicídio, em seu famoso livro "O suicídio", escrito nos fins do século dezenove. Curioso nisso tudo é saber que, na visão do autor, o suicídio tem fundamento social e não individual.
O impacto da decisão de matar o outro em si mesmo (Freud assim já o esclarecera), deixa-nos a nós leigos, com um sentimento de impotência, por sermos pais e avós devotados, a ponto de jamais imaginar uma ação extrema perpetrada por um incapaz. Nas minhas elucubrações rotineiras, venho imaginando o que teria se passado na mente desse infante, considerando que se tratava de um bom filho, um bom estudante e um bom colega (sic).
Se observado do ponto-de-vista de Durkheim, o tal suicídio estaria inscrito nos três tipos descritos pelo autor, que são: egoísta, altruísta e anómico. Ainda que se trate de um agente mirim, mas filho de um policial, não se pode fugir de identificá-lo dentro de uma dessas três categorias. A mídia invasiva tem informado de que cada vez mais os incapazes (menores de idade) estão sendo influenciados pela cibernética, para cometer seus pequenos delitos, às vezes encorajados por alguma droga moderna.
No caso em pauta, o garoto matador, quiçá pleno de culpa, resolvera se matar, impactado também pela dúvida se teria mesmo cumprido com sucesso a tarefa planejada, desconhecendo que, se tivesse permanecido vivo, seria perdoado pela sociedade onde se insere, ora pela codificação legal existente, ora por se supor que algum advogado de inteligência média, haveria por considerá-lo insano, ainda que não fosse.
O suicídio do tipo egoísta, se caracteriza pelo afastamento do indivíduo dos seres humanos; o anómico se origina na mente do suicida na crença de que todo mundo social, com seus valores e regras, desmorona-se em torno dele; e o altruísta, por lealdade a uma causa qualquer.
O interface cibernética/sociopatia, não aparenta muita clareza sobre onde começa uma e termina outra. Melhor dizendo: a modernidade de uma arma e seu manuseio por uma criança não é mais nem menos eficaz do que as causas mais profundas que se encontram no objetivo estipulado pelo agente da ação.
Não ousaria aqui situar o infeliz menino em uma dessas categorias, deixando tal opção ao leitor mais interessado e curioso na questão.
A mim, particularmente, ressoa não o estampido das balas que intermediaram a ocorrência, mas a estupefação em saber que "sou humano, e nada que é humano me é estranho", dito pelo filósofo romano. Visto e encarado dessa forma, cabe a todo ser humano, resignar-se diante da "caixa preta" das razões subjacentes e seu gran finale trágico.
Os dois acontecimentos passados e repassados no noticiário corrente, acendem uma luz amarela na cabeça do indivíduo contemporàneo de que não bastam a criatividade extrema da cibernética e a hodiernidade tecnológica, mas uma reflexão mais aprofundada sobre que tipo de gente moderna estamos construindo.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe, 09 de outubro de 2011


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