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Contos-->Imprudências do Acaso -- 27/08/2001 - 16:07 (R.S.Brito) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Imprudências Do Acaso

R. S. Brito

Hélio já estava no meio da reunião quando a secretária entrou na sala e cochichou em seu ouvido o acontecimento: Ana Júlia sofrera um acidente e seu estado era grave. Ele nem bem esperou que terminasse de lhe contar e saiu correndo para o carro. Os pen-samentos brotavam em sua mente com voracidade. "Como pode isso?" indignava-se. "Faltando dois meses para o casamento e me vem uma dessas".
Quando chegou no hospital soube que ela já estava melhor. Ana Júlia já estava consciente, mas ainda não queria receber visitas.
Passou uma semana e...nada...Mais uns dias e...nada. Hélio continuava ali, espe-rando vê-la. Não tinha condições sequer de pensar no resto de sua vida, via-se como um homem sem pátria, sem destino...desbotando-se.
Ana Júlia já recebia as visitas da família, mas não queria recebe-lo. Era agonizante ver os parentes num entra-e-sai, alegres pela melhora da moça, e Hélio ali, rejeitado pe-los cantos, mostrando a embriaguez que o amor lhe causava. E quando parava algum médico no corredor ou qualquer familiar, a resposta era sempre a mesma.
— O acidente deixou seqüelas, Hélio. Ela está extremamente abalada e ameaça cometer loucuras se ao menos te contarem o que aconteceu. Eu é que não abro a minha boca! – repetiam enfaticamente.
Mas ele era um bom homem, desses que não fermenta intrigas e nunca dá tréguas a banalidades. E não desistia. Foi pedindo, pedindo, implorando, mandando recados para Ana Júlia...até que obteve resultado. A mãe dela chegou para ele com um sorriso meio perdido e entregou-lhe um pequeno papel. Hélio abriu-o apressadamente e leu:

"Não posso parar sua vida. Se quiser entrar neste quarto, tem todo di-reito do mundo. De algo que me pertence não abro mão: não quero que se aproxime de mim. É para que a amargura que sinto não se a-flore. Toque seu caminho, meu rapaz. Já ouvi dizer que a vida é le-vada neste tom de crueldade mesmo, e não se pode desviar de toda a melancolia que nos cerca como predadora. Sinto-me como um lixo por tamanha imprestabilidade. Imagine, meu rapaz, que nem ser feliz posso mais. Porque você, Hélio...você é muito mais que parte de mim; em corriqueiras palavras, foi o homem que plantou rosas na beira da estrada para eu passar ao cheiro das flores. Você enfeitou minha vida, Hélio. Mas levo meu instinto de justiça para o túmulo, não te prenderei aos meus desencantos. Meu coração desfalece; não tenho outro rumo para minha vida...mas...segue o teu caminho".

Obrigada por tudo,
Ana Júlia

O homem chorava, desesperado, preocupado, desentendido...tinha motivos para chorar. Correu pelo corredor e entrou no quarto. Assustou-se com a escuridão do lugar. Ela estava sentada à beira da cama, silenciada e cabisbaixa. Sentiu um forte impulso para correr e abraça-la, mas se refreou relembrando as palavras do bilhete. O silêncio imperou instintivamente. Ela o percebeu ali, pois ia se abaixando como que enfiando a cara entre as pernas.
— Ana Júlia! – chamou ele, com a voz trêmula. Não houve resposta.
— Nem eu sabia que te amava tanto! – essa frase parou no ar.
O silêncio voltou a tona. Ana Júlia suspirou profundamente – ela também soluçava.
— Sua aparência é linda, mas não é por ela que te amo tanto; seu corpo é lindo e fascinante, mas não é ele que me incita a te amar cada vez mais; – levantou-se vagaro-samente a se aproximar dela, pois seu soluço aumentava dando a entender que as pala-vras faziam efeito. — sua voz é doce e suave, seu jeito de ser é magnífico...mas não é nada disso que me faz te amar tanto! – o choro dela tomou proporções berrantes, conti-nuou calada.
— Não sei explicar o tamanho do meu amor. Ele tem as rédeas do imensurável. O que sei é porque te amo tanto assim. – aproximou-se a uns dois passos de distância. — É porque você é um ser vivo, meu bem. Um ser que respira, que sussurra em doces pala-vras o que sente por mim, que proclama sua veneração por mim em atitudes gloriosas. – aproximou-se envolvendo-a num quase abraço (sentia-se frente a única oportunidade de sua vida, como o passarinheiro frente a ave: é matar ou assistir o vôo). — O que me faz te amar é esta sua capacidade de se adaptar a qualquer coisa só para me mostrar o seu amor – arriscou, beijando-a na testa, querendo saber se ela concordava com tudo aquilo. — Sei que se algum dia não puder dizer que me ama, certamente escreverá; e se não puder escrever, certamente gesticulará, e se não gesticular... ah, meu amor! Ao menos pensando no amor que sente por mim você estará. – o choro já os dominava.
Ana Júlia ainda tentou resistir, mas não pôde. Ele foi abraçando-a até que conseguiu convencê-la a levantar para um abraço. Eles se apertavam fortemente. Agora era hora de conhecer a tal seqüela. O que teria acontecido? Hélio forçou para que se separassem, o-lhou-a no rosto e...Que susto! A menina só estava com um olho e, no lugar dou outro, uma ferida enorme e de cantos amarelados – angustiante! Ela se ofuscou um bocado, i-maginando-o correr pela porta sem ao menos dar adeus. Mas como fazer isso se a ama-va tão desesperadamente. O amor era verdadeiro, e tinha mesmo as rédeas do imensu-rável. Era amor deveramente puro, desses que estão além dos limites da normalidade.
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