Toda mudança, você sabe, requer um plano.
Às vezes, plano esboçado em folha de papel, outras vezes, plano intuído no cérebro da gente. Mas a mudança mais gostosa é aquela que só requer plano inclinado, por onde vamos escorregando em óleo de amêndoas, como se fosse no corpo de um grande amor, deslizamos até a borda — e então saltamos no vazio do belo escuro azul profundo da vida. Mas tem hora que a gente verbaliza mudanças sem atitude que lhes cor-responda. Também eu faço isso, muitas vezes. Será vontade real de mudar sem permissão das circunstâncias, vontade objetiva que pre-tende puxar o processo da suposta mudança — ou será isso apenas um subterfúgio mental para satisfazer nosso ego?
Não sei.
Só sei que com uma das mãos eu sempre defendo a liberdade, e com a outra acrescento algumas horas ao meu dia. Também distorço certas coisas. Necessitamos de um pouco de ficção para realçar a verdade. Distorço o que me dizem — mas para melhor. Interpreto na hora o que ouço, filtro as bobagens, e obtenho um produto limpo, carregado de poesia. Faço tradução poética simultânea das coisas que chegam até mim, modifico as construções verbais, retoco as imagens, ponho lógica onde cabe — e só então ofereço aos meus sentidos mais profundos o que vejo, ouço ou leio.
Mas quando as coisas resistem às idéias, e o mundo resiste aos sonhos — não penso em mudar de sonhos nem mudar de idéias: eu primeiro procuro mudar de coisas e mudar de mundo!
Veja o filme Mude
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