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cronicas-->TRADIÇOES, CONTRADIÇÕES (9) -- 14/12/2011 - 22:38 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (9)

Mazel tov. É um termo que se brada na conclusão de uma boda na tradição judaica. Com essa frase, os noivos quebram a taça de vinho sob os pés, como se vê nos filmes, inclusive nos de Woody Allen. O segundo casamento de minha filha, a primogênita, sem que eu tomasse conhecimento anterior, foi realizado num local profano, mas por um pastor protestante, com bíblia aberta abaixo dos olhos, num "altar" improvisado. A rigor, segundo a tradição hebraica, mazel tov quer apenas dizer "boa sorte"! Advirta-se, no entanto, que numa cerimónia cristã, como aquela, não se quebram taças, mas se bebe ritualmente o vinho, como foi feito pelos nubentes sob orientação do senhor pastor.
Eu imaginei, pela informação anterior, que seria uma cerimónia presidida por um juiz de paz. Mas não foi. Suponho agora que por saberem do meu ranço contra religiões, haja ocorrido um "compló" de omissão contra o acompanhante da noiva, no intuito de surtir um efeito persuasivo.
Mas isso não é importante aqui. O ponto principal dessa argumentação é que o pastor, ao abrir a bíblia, como base de orientação para um casal que já vive sob o mesmo teto há algum tempo, desperdiça o foco central da questão, quando cita exemplos da idade do bronze, mormente quando se refere às famosas cartas de Paulo, o apóstolo (oitenta anos depois de J.Cristo), um misógino e agnóstico delirante que teria ouvido nas ruas de Damasco (sic) uma voz divina cobrando dele: "Paulo, Paulo, por que me persegues?"
Qualquer pessoa letrada que se prenda ao texto, independentemente de seu metaforismo, perceberá logo que se trata de uma forma autoritária, opressora, não condizente com as formas contemporàneas de uma relação plausível entre homem e mulher,como apanágio democrático.
Paulo, em qualquer circunstància, ouso dizer, é um péssimo exemplo para se usar como beneplácito para um ritual de matrimónio.
Por ele, a mulher ainda estaria mercê da rédea masculina, dependente e submissa, o que não é de bom alvitre nem verdadeiro nos dias correntes.
Ademais, a citação do termo ágape como designativo de amor, é mera ilação pastoral, já que o oficiante também se disse militar na área médica.
Esses termos são e foram inventados pela igreja matriz, a católica, nos tempos em que era moda traduzir-se a seu modo e bel-prazer, os querigmas cristãos do primeiro século antes desta era, culpa do covarde e pouco confiável imperador Constantino, um grande pulha, sedento de poder.
Aqui não é necessário pedir arrego à história, basta apenas um pouco de reflexão para ver que, colocar o amor como panacéia oriunda de algo sobrenatural, não valida o esforço, apenas confirma que "quanto mais o homem confere realidade a Deus, menos a conserva em si mesmo", dito uma certa vez oportunamente por Karl Marx.
O amor não necessita de consórcios sobrenaturais. O amor, um sentimento profundo e humano, talvez possa até ser confundido, mas jamais parodiado por assertivas assentes num tempo longínquo, não condizentes com a vivência e convivência do homem contemporàneo.
Em nenhuma vez presenciei o tal pastor baixar a bola e visualizar o casamento como um contrato bilateral entre duas pessoas que, ao se sentirem um dia invadidas em sua individualidade, possam utilizar de prerrogativas legais, através de algo simples, legítimo e bem definido, ainda que amargo, como o divórcio. E isso não invalida a circunstància de poderem viver juntos para a vida toda.
Para o pastor oficiante, mercê da aceitação incondicional da insanidade paulina, o casamento é uma dádiva do sobrenatural, de um deus invisível que não se mostra, talvez porque tenha vergonha de provar sua própria existência e não tenha ele mesmo um dia, sentido necessidade de se casar com alguém.
Lá estive no casamento de minha filha Renata com o simpático e responsável Carol. No início da cerimónia, ao abraçar minha filha para conduzi-la como requer a tradição, disse-lhe que estava emocionado. E estava mesmo. Não quero afirmar mais nada, longe de mim. Quero apenas questionar, o que a meu ver seria a maneira mais humilde e prudente: por que o amor tem que ser manipulado como um bobo da corte? Por que se tem que inventar acrobacias mentais baseadas em livros antigos e ultrapassados, para ratificar algo tão simples e humano, independente de clamores e admoestações sobrenaturais?
Por que hoje, somente hoje, estou me dando conta de que o amor é que é o sim, princípio, meio e fim de toda existência e não precisa de nenhuma muleta religiosa para sobreviver?
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WALTER DA SILVA
Camaragibe, 11.11.2011

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