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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (10) -- 14/12/2011 - 22:39 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (10)

Colcha de retalhos. É o que pretendo fazer desse texto. Uma costurada aqui, outra ali e o tempo literário vai passando conforme exige a inocente imaginação. Falar sobre o final do ano ou dele extrair insumo para algum balanço, não terá sido de minha alçada. Chorar algum leite quiçá derramado, debalde, pois só bebo leite desnatado com café e isso somente de manhã.
Aproveito esta provável última escrivinhação do ano para comentar e por vezes amargar o que poderia ter aproveitado melhor e com intensidade edificante. "Ganhei, perdi meu dia e baixo a coisa fria, também chamada noite". Um verso de Carlos Drummond, que me impressionou naquele momento em que o pude ler.
As coisas do país e do meu sítio particular, obviamente mudaram conforme seu destino de mudança. Se aproveitei seus liames e ditames, só me resta a mim refletir sobre. No dia em que escrevo tais linhas, um amigo dileto completa setenta anos e, de gozação, envio-lhe uma mensagem com esse teor talvez chulo, mas da melhor intenção: " Fazer setenta
é muito bom/nada que se o desaprove/mas para não perder o tom/deixarás de fazer sessenta e nove".
E exatamente hoje ele completa as sete décadas sem contrição ou arrependimento, embora não tenha nenhuma vocação para comemorar aniversários, segundo me segredou anos atrás.
Acordo cedinho e, depois de abrir os olhos, restabeleço a
intenção de continuar sem crer nem um pouquinho no Estado, nas igrejas ou em qualquer dogma estabelecido, inclusive nesta afirmação.
Revejo alguns conceitos e me dou conta de que, ao contrário de Eric Hobbsbawn, não sei o que pensar sobre o marxismo e seus resultados eficazes, se o socialismo ainda estivesse sendo prescrito como antibiótico de largo espectro, fora de Cuba ou da Albània.
Mas, definitivamente, em minha diuturna ignorància, não aprecio, jamais apreciei o stalinismo ou o modo como Stalin planejou e emboscou meu ídolo durante algum tempo, Leon Trotsky. Cada vez que acordo, estou mais consciente de que o capitalismo brega está tomando conta do mundo e querendo mais perpetuar seus fantasiosos instantes que agonizam.
A todo o momento que ligo a CNN e seus acólitos, estou assistindo a jovens e a alguns maduros, protestando contra o método ilusório do capital, que vende tudo, inclusive a ilusão do marqueteiro que já não acredita tanto no que resulta da luta entre o capital e o trabalho.
E la nave va, célere e constante a tantos nós que não é possível mensurar do convés em que me encontro e com os instrumentos que tenho à mão. A cada vez que ludicamente tento fazer uma chamada de um orelhão, concluo que quase todos deixaram de funcionar, pela introdução oportuna e inevitável da cibernética dos aparelhos celulares, tornando tudo muito mais individualista. Somos seres se distanciando do contato humano. Anos atrás, durante uma reunião em minha casa, observei sobre a mesa, que havia muito mais aparelhos celulares, do que qualquer outro ser inanimado. Quando assisto a filmes de época, mormente os que se ambientam no século dezoito, meu predileto, agrada-me ver as pessoas capricharem quando escrevem suas cartas e as enviam por um mensageiro, desde que sejam escritas à mão, caligraficamente.
A nostalgia, confesso, se me assalta de modo consciente e dela não abro mão. Estranho, eu, um homem quase setentão, em ver uma mulher ser tratada de modo grosseiro, sob alguma circunstància. Tempos bons aqueles do galanteio e do cavalheirismo, não?
Os meios de comunicação priorizam a breguice reinante, a bundice cotidiana e a propagação do imediatismo e do efêmero. Sem tomar muito as dores do próximo, observo que o próximo anda cada vez mais pendendo pro lado do bandido, não por uma ordem lógica ou imanente, mas porque o facínora detém o que nós não detemos: a certeza da impunidade e do poder económico, seu genuíno traço de caráter.
Não mais por mera ingenuidade, mas por estupefação. As pessoas não perguntam mais "como está", mas "onde é que tu tá". O contato humano transformou-se num elemento cibernético de localização e não de empatia.
Mas não imagine o leitor que estou estranhando o mundo em que vivo. Estou apenas constatando que isso não vai desembocar numa boa. Haverá em breve, um tipo de situação em que o homem, ele próprio, se desconhecerá a si mesmo, não se achará apto a reconhecer o outro, por mais óbvio que isso lhe possa parecer. Quanto mais fingimos que nos encontramos, que estamos dentro um do outro, ledo engano, mais nos distanciamos. O exemplo das igrejas lotadas de fiéis que procuram um lenitivo para seus males, é uma imagem inequívoca de que, sozinhas, tentam buscar alívio num céu particular, numa plêiade de estrelas que possam vir a seu favor para estancar sua suposta enfermidade.
Há para mim pessoalmente, uma saída confortável e eficaz: aproveitar o dia quando me dou conta de que acordei vivo e que posso me deleitar com uma nova música de Chico ou com o andante da sonata de Mozart.
Ano que vem, sem nenhum apetite de vidente, estou quase certo de que a órbita dos planetas será elíptica e que a soma do quadrado dos catetos continuará irritando a pobre e indefesa hipotenusa.


WALTER DA SILVA
Camarajibe, 14 de dezembro de 2011





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