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cronicas-->TRADIÇÕES,CONTRADIÇÕES (11) -- 12/01/2012 - 16:03 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (11)

O antropomorfismo parece ser um mal recorrente. Ou um bem? Neste meu cotidiano trivial, da casa pro mundo e do mundo pra casa, tenho presenciado sua constante recorrência.
Tanto que, no sábado 07 do corrente mês, revi um camarada a quem não via faz meses e fui obrigado a ouvir
sua relutante pergunta: "Walter, cadê teu carro?" Porquanto não me sacrificar de amores pela tal figura, fiquei meio perplexo e simplesmente respondi com um amargo "o que?".
De imediato me estalou a resposta mais idiota: "Ah, ele está bem, inclusive perguntou por você". Pois voltando à vaca-fria: o animal humano, ao ignorar suas origens e a surrada questão tripla, o que faz aqui, donde veio e pra onde vai, usa a indumentária antropomórfica, dando a quase tudo uma característica dele mesmo, inclusive no que tange ao sobrenatural. (tanto que, quando inventou os deuses, deu-lhes um corpo, uma alma e uma quase condição humana).
Em alguns comentários sobre cinofilia, tenho lido nas entrelinhas, alguém atribuir aos cães, talentos que são, sob última análise, do ser humano em particular. Embora eu esteja quase seguro de que alguns cães sejam mais talentosos e menos violentos do que seus donos.
No último artigo que escrevi em dezembro, me detive um pouco sobre o tema da descomunicação, da incomunicabilidade.
Talvez, por falta de assunto ou pra engatar um, a pessoa menos culta, menos bem-informada, aborde o interlocutor com um lugar-comum, a exemplo do fato acima descrito. E não é a primeira vez que o tal cidadão, do fundo de sua algibeira, retira uma bobagem qualquer, dispensável.
Exceto se ele já houvesse lido o velho McLuhan
defendendo a tese de que somos todos extensões de nossos objetos lúdicos. E o automóvel, além de objeto de desejo, seria também uma dessas extensões.
Desgraçadamente sei que não leu McLuhan. Aliás, ele, como a maioria dos mortais desinformados, não consegue sequer conversar abobrinhas. Para tanto, é necessário ser provido de uma certa magia inter-comunicante, um determinado carisma natural e alguma habilidade para preservar a sustentabilidade de uma conversação de botequim.
Mergulhado na frivolidade da mídia e na reinvenção da breguice dos anos oitenta, as horas de lazer são ocupadas com os mesmos temas que, repito, são recorrentes: o falar mal da vida alheia e a inveja dos símbolos que esta alimenta consigo com frequência.
Faz muito tempo não encontro alguém iletrado que não repita os jargões da contemporaneidade descartável, a começar pelo exercício diuturno do ter, ter e ter. Poucos são aqueles que estão empenhados em melhorar sua espiritualidade, sua generosidade, sua solidariedade. Daí, quando das poucas vezes que frequento um botequim, me lembro do poetinha a versificar: "os bares estão cheios de homens vazios". E nunca me excluí desse rol. O leitor mais atento há-de contestar, indagando: " e o que se pode conversar de produtivo numa mesa de bar?".
Pode-se até concordar de imediato com tal assertiva, mais livrai-nos dos chatos que contam vantagem demais e estão sempre dispostos a declarar alhures suas façanhas de garanhão noturno, que é capaz de dar mais de uma. A menos que, no afã de sua declaração etílica, esteja se referindo às tentativas que lhe conferem o prêmio de quase macho do ano.
Mas ressalte-se que o escrevinhador deve estar frequentando os lugares equivocados, os sítios desprovidos de vida inteligente, mercê de sua mais alta exigência de consumidor sabático de vasos-dilatadores com idade acima de oito anos de envelhecimento.
Outra falha do queixoso articulista, deve ser, numa autocrítica mais ferrenha, não somente o lugar frequentado, mas ao que se refere o velho dito: "dize-me com quem andas... etc."
Não se aplica aqui neste caso, pois estou sempre ladeado pelo amigo Sócrates Freitas Neto, que faz jus ao nome que ganhou do pai, Olímpio.
De chofre, me vem à mente a velha frase imortal cujo autor desconheço, mas que muito aprecio, ao menos como blague: "junta-te aos bons e corrompe-os".
Ciente de que não sou portador do talento socrático, reconheço que bebo meu uisquinho modesto de fins de semana, no mínimo pra me tornar menos desinteressante e sei muito bem com quem me reúno para degustá-lo. Ademais, também não sou dotado da resistência hepato-financeira de Christopher Hitchens, um ateísta talentoso que morreu recentemente de càncer no esófago.
O velho jornalista e escritor inglês da "New Statement", além de sua grande verve e extraordinária coragem intelectual, declarou numa de suas entrevistas: "o que bebo de uísque daria para derrubar uma mula".
O que não é bem meu caso em termos literais, mas em compensação, ele não conhecia ninguém de seu convívio que ao cumprimentá-lo, confundisse o trato social com a prática antropomorfista idiota dos nossos dias.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe, 12.01.2012

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