BATTISTI IN POA
Percival Puggina
Inevitável. A sensação da semana foi a presença do italiano Cesare Battisti em Porto Alegre. Tudo estava preparado para uma palestra de José Graziano, como evento do Fórum Social Temático, quando - surpresa geral! - o italiano, com cabelo de jogador argentino e vestindo camisa vermelha, apareceu pisando firme no tapete do Palácio Piratini. A bem da verdade, diga-se que o tapete já estava lá. Não foi desenrolado para o receber. Mas celebridade é celebridade, holofotes e microfones foram atrás e Graziano ficou às escuras com suas teses. Battisti dominou o noticiário estadual nas 24 horas subsequentes.
Alinho-me entre os que ficaram perplexos com as imagens do governador do Rio Grande do Sul cumprimentando efusivamente o italiano e acolhendo-o sorridente, entre abraço, apertos de mão e um caloroso 'Bem-vindo ao Rio Grande do Sul!', como se pode ver e ouvir aqui, em short link: http://bit.ly/ACiXwt. Embora considere o episódio constrangedor para nosso Estado, não quero discutir seu significado simbólico, conforme, aliás, foi percebido por muitas manifestações de leitores na edição de quinta-feira de Zero Hora e no programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, na manhã do mesmo dia. O militante do 'Proletários Armados pelo Comunismo', tendo ganho a liberdade, estava autorizado a circular livremente pelo país, vir a Porto Alegre e entrar no Palácio, mas, cá entre nós, nada justifica aquela acolhida afável.
Há antecedentes. Durante o anterior governo petista, um representante das FARC, Hernán Ramirez, foi recebido em audiência no Palácio Piratini. Nunca se soube do que tratou com Olívio Dutra. Articula-se nas FARC um naipe completo dos maiores flagelos da humanidade: comunismo, guerrilha, terrorismo, tráfico de armas e de drogas pesadas. Das pragas modernas só ficam de fora a bomba atômica, o câncer e o funk. O resto todo é operado por essa organização que, por afinidade ideológica, ganhou audiência no governo petista em 1999. Nos primeiros eventos do FSM em Porto Alegre, entre Josés Bovés e assemelhados, por aqui foram recebidas representações do IRA, do ETA, do governo cubano e outros apologistas da violência. Os estandes instalados junto aos locais de encontro só se disponibilizam adereços com ícones revolucionários e literatura marxista da pior qualidade. Até hoje não consegui saber se existe em Porto Alegre algo que a transforme em Jerusalém dessas romarias anuais, ou se isso acontece apenas porque aqui o contribuinte paga boa parte da conta.
A questão de fundo, no Caso Battisti é a natureza dos crimes. Políticos ou não políticos, os crimes? Se políticos, ele ficaria no Brasil, se não políticos, seria mandado para a Itália. O STF decidiu que os crimes não foram políticos e recomendou a extradição, mas atribuiu a providência ao arbítrio do presidente da República. Este seguiu a orientação do então ministro Tarso Genro e optou pela concessão do refúgio. Em certas correntes ideológicas, até mesmo crimes de sangue, se cometidos a serviço da causa, ganham proteção, indulgência e tratamento privilegiado. Isso é inaceitável! Não foram políticos todos os criminosos mais letais, todos os genocidas que a humanidade conheceu? Não são dessa natureza os crimes mais hediondos da história? Ademais, uma coisa é alguém obter refúgio por estar submetido a injustificada perseguição política. Outra, bem diferente, é tratar o criminoso comum com maior severidade do que o criminoso político. Como sociedade, será um desperdício se nada aprendermos com esse lamentável episódio.
Zero Hora, 29/01/2012
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